quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Essa você não vai ler no Jornal de Angola

Dia desses eu entrava num ministério em Luanda e dei de cara com um cartaz de um projeto social. Uma das fotos me pareceu familiar. Fui checar e bingo! Era uma imagem feita por mim e publicada nesta Casa.

Eu ficaria lisonjeado se tivesse sido consultado sobre a utilização da foto. Provavelmente a liberaria sem custos e poderia ter cedido o arquivo em alta resolução. Mas nada disso aconteceu. A foto foi “roubada” do blog sem prévia consulta e publicada em baixa resolução, o que resultou num resultado porco, uma imagem totalmente “pixelizada”. O cartaz em questão foi elaborado por uma consultoria de estrangeiros que certamente cobrou ao ministério não menos de USD 50 mil pela produção.

Esse caso é emblemático do tipo de “consultoria” que alguns expatriados prestam em Angola. Por que o governo não toma providências? Porque os poderosos angolanos são sócios dessa grande mamata.

Alguns estrangeiros que chegaram a Angola ainda no tempo da guerra, quando poucos se aventuravam, fizeram boas amizades no governo e Criaram empresas angolanas com sócios muito importantes no partido ou na família do presidente.

Graças a esses sócios, as empresas conseguem contas importantes dos ministérios, contratos milionários. Prometem consultoria com mão-de-obra especializada. Na prática, trazem poucos profissionais gabaritados pagando salários razoáveis, e um bando de jovens recém-formados ou mão-de-obra rejeitada pelos exigentes mercados de trabalho de seus países. A esses pagam entre USD 1000 e USD 3000 mensais. Como atrativo oferecem casa, passagens aéreas a cada três meses para os países de origem e carro com motorista. Tudo bancado pelos cofres do governo angolano.

Os contratos sempre prometem implantação e treinamento da equipe angolana que tomará conta do projeto depois. Na vida real ninguém ensina nada aos angolanos. Assim, o dono da consultoria perpetua o contrato milionário. É um grande negócio entre amigos.

Enquanto isso, no Jornal de Angola de hoje você pode ler sobre a linha de crédito que Angola vai abrir a Bissau. Tem também uma notícia sobre o aumento do volume de receitas da repartição fiscal do Namibe em 2008.

Carnaval em Luanda, é em Janeiro

Ora, estava a menina migas toda cheirosinha, bonequeninha, bem dispostinha e outras coisas que tais, acabadas em inha, pronta para a festa de despedida dos queridos F. e P. quando,ao sair da sua humilde casinha, foi parada por uma senhora agente. Caso surreal número 1: a menina migas nunca foi parada por qualquer senhor agente nesta Luanda. Primeira vezinha, portanto. E eis que, a simpática agente informou que por ali, não podia passar. Caso surreal número 2: Desfile Carnavalesco, dizia a agente. A migas hiperventilou, claro. Hã? Como? E agora? Não pode ser! Desfile Carnavalesco em Janeiro? Como vou para a festa dos meus queridos? Os argumentos, seguiram-se, à boa maneira angolana. Ah, porque tenho um compromisso importante. Ah, porque eu passo rapidinho e ninguém vai dar por mim. Ah, porque eu tenho mesmo de ir. Ah, e se eu fizer de conta que também pertenço ao Desfile Carnavalesco? Nariz encarnado de palhaço, é coisa que trago sempre na bolsa, não vá precisar um dia. Mas nada. Os “não posso fazer nada” seguiram-se à mesma velocidade. E uma segunda agente dizia que tínhamos sido informados. Hã? Tu queres ver que andaram de porta em porta a informar que a rua ia fechar e eu estava a tomar banho e a cantar bem alto com os meus dois pulmõezinhos? Esse seria o caso surreal número 3 do dia. A menina não canta. Repira fundo e pensa, migas! Passemos ao Plano B: encontrar no meio do bairro um caminho alternativo e, pedir ajuda aos senhores angolanos das redondezas. Não há. Não há caminho alternativo. A pedinche continua, claro. E quando vão deixar passar? 21h, dizia a simpática agente. Hã? 21 quê? Mas são 16h! E eu tenho meeeesmo de ir. Eu também estou incomodada – rezingava a simpática agente – mas são ordens do chefe. Ora, ao fim de meia horita e depois da pressão de alguns angolanos que se juntaram, lá foi a menina migas, com pisquinhas intermitentes, contra-mão, a caminho da grande festa. Ah, assim vale a pena! Dá mais luta. Torna as coisas mais complicadas. Quase impossíveis. Afinal quem se lembraria de um desfile Carnavalesco em Janeiro?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tudo tem seu preço

Windhoek tem um cinema moderníssimo, com cinco salas, som dolby digital, programação atualizadíssima, poltronas confortáveis, ar-condicionado, etc. etc. etc.

A entrada custa 22 dólares... namibianos. Noves fora o câmbio dá a bagatela de 2,3 dólares americanos.

Diz aí: dá pra acreditar nesse país?

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

As atrações da Namíbia

Conforme prometi no post anterior, segue uma lista de atrações que merecem uma visita. Infelizmente as distâncias entre elas são realmente grandes e você vai precisar de um tempo relativamente longo para fazer tudo. Ou então, pode voltar várias vezes.

Windhoek – A capital é o principal ponto de chegada para quem vem do Brasil ou de Angola em vôo internacional. É uma cidade pequena, com pouco menos de 100 mil habitantes. Tem algumas construções antigas, um charme europeu, mas não tem tantas atrações que mereçam mais do que dois dias por aqui. Passe para pegar o carro, conheça um pouco a cidade e caia na estrada.


Etosha National Park – É o destino número 1 do turismo na Namíbia. O grande lago pantanoso atrai animais selvagens que ali se concentram em busca de água. É possível ver girafas, zebras, oryx, kudus, wildebests e springboks aos montes. Com sorte você também verá leões, elefantes, rinocerontes e hipopótamos, embora estes últimos sejam mais raros. Você pode se hospedar num dos três resorts dentro do parque e dirigir seu carro pelos estradas para ver os animais. A dica é sair assim que os portões são abertos, às por volta de 6h30. Depois das 9h30, os animais se escondem para fugir do calor e fica impossível ver qualquer coisa. No fim de tarde eles voltam a aparecer, mas você deve ficar atento para voltar antes do fechamento dos portões do hotel. Ninguém é autorizado a circular durante a noite fora dos limites do resorts. Eu sugiro que, em pelo menos um dia, você faça uma gamedrive oferecida pelo hotel. Custa USD 50 por pessoa, parte às 6h00 da manhã e o guia já sabe onde levá-lo para realmente ver os animais. A menos que você goste muito de bichos, três dias é um prazo bem razoável para o Etosha. Depois disso você vai começar a cansar das longas distâncias em estradas de cascalho.


Swakopmund – Esta pequena cidade de colonização germânica é uma pérola no litoral da Namíbia. As construções são todas em estilo alemão, o clima é relaxante e a cidade tem bons restaurantes e cafés para passear e dunas ao sul, onde é possível assistir a um lindíssimo por do sol no mar. É uma ótima parada para descansar das estradas se você estiver indo ou voltando de Sossusvlei. Eu sugiro dois dias aqui. O Alternative Space é uma pousada de um arquiteto que vale muito conhecer. Custa USD 50 por casal, com café da manhã incluído, mas que você mesmo prepara. É um conceito diferente de hotel, para backpackers mais exigentes.


Walvis Bay – Esta cidade a poucos quilômetros de Swakopmundo não tem maiores atrativos, mas oferece um passeio de barco maravilhoso. Você paga USD 45 por pessoa e embarca numa lancha que o leva para ver focas e golfinhos ao largo da baía. As focas dão um show a parte, porque sobem dentro dos barcos em busca de peixe. São completamente dóceis. Se estiver com azar, você vai ver muitos golfinhos. Se estiver com sorte, vai perder a conta. Nós fizemos o passeio com a Mula Mula, mas existe um outra operadora que usa barcos maiores. A baía é bem calma e você precisa ser muito sensível para enjoar.

Sossusvlei – É o parque das dunas. O lugar é lindíssimo. Você paga USD 17 por pessoa por dia de visita (dinheiro namibiano, não se esqueça). O segredo é partir às 5h00, quando os portões são abertos, para assistir o nascer do sol nas dunas, que ficam a 67 km do portão. É a única forma de fazer fotos como a que ilustra este item. Depois, o sol ilumina os dois lados da duna. Você consegue chegar com carro a 4 km das dunas. Depois, só avança com um 4X4 traçado. Se estiver com um carro normal, estacione ali e pegue um dos shuttles que o parque oferece até a duna de Sossusvlei. Na volta de Sossusvlei, não deixe de parar no Dead Valley, logo ao lado. A vista também é inacreditável. Depois disso, volte para o hotel porque o calor é muito grande. Se puder, vá assistir ao pôr-do-sol na Duna 45. Vale o passeio. Só fique atento ao horário de fechamento do portão para voltar antes.


Twyfelfontein – Esta cidade no deserto do Namibe fica do lado oeste do Etosha. Tem uma inscrições milenares em rochas, feitos pelo povo Sam, mas confesso que não achei tudo isso. O melhor mesmo foi o passeio dos Elefantes, no fim de tarde. Paga-se USD 37 por pessoa para um gamedrive em busca de elefantes na região. O guia dirige um caminhão todo aberto, onde você viaja confortavelmente. No meio do passeio ele faz uma parada para drinques gelados e no final, serve um espumante numa parada para que você contemple o pôr-do-sol na savana dourada. Nós ficamos hospedados no Twyfelfontein Lodge, que tem um coral de funcionários muito divertido no jantar.

Existem outras atrações pelo país, mas como não tivemos tempo de visitá-las, acho esquisito escrever sobre elas.

Algumas razões para visitar a Namíbia

Muitos amigos tem me pedido dicas de viagem pela Namíbia, depois da propaganda que fiz aqui na Casa. Então, lá vão alguns motivos para cruzar a fronteira de Angola – ou o Atlântico, dependendo de onde você está:


O carro que alugamos por USD 92 por dia
Dirigir é muito fácil – As estradas são bem conservadas, mesmo as que ainda são de cascalho. Não existem buracos. No início do ano dirigimos mais de 3.500 km pelo país sem ver um único buraco. Nem no Brasil isso existe. Nas estradas de cascalho a conservação é tão boa que é possível dirigir a 70 km/h sem sustos. As ruas e estradas são bem sinalizadas, não tem como você se perder. É permitido virar para qualquer dos lados sem cair numa armadilha policial e quando você é parado, só lhe pedem a carteira de motorista. Nada de gasosas. Único incoveniente: dirige-se do lado esquerdo da rua, como na Inglaterra. Mas você se acostuma rápido. O aluguel de uma Toyota Hylux 4X4 totalmente equipada para camping, com duas barracas no teto e seguro total cobrindo inclusive pneus e vidros sai por volta de USD 90 adiária. Para um carro turismo normal é possível pagar a partir de USD 29. Pode parecer caro para quem vive no Brasil; é de graça para quem vive em Luanda. Nós alugamos com a Advanced Car Hire, uma turma bem profissional, mas eles só trabalham com carros 4X4.

A piscina do Opuwo Country Lodge

Os preços são muito baratos – Para quem vive em Angola, não há comparação possível. Uma diária num resort dentro do Etosha National Park, por exemplo, sai por volta de USD 100 por casal. Com pensão completa, em bangalôs totalmente novos, com AC, banheiro privativo, piscina, etc. etc. etc. Esse ainda é dos mais caros, porque é gerenciado pelo governo e fica dentro do parque. Do lado de fora você encontra belíssimas opções de hotéis de charme por preços a partir de USD 50 por casal. Além disso, tudo é muito mais barato, e com qualidade muito melhor do que em Angola. Um jantar completo com uma garrafa de vinho para duas pessoas nos restaurantes dos hotéis gira em torno de USD 30. Em Windhoek, pode-se conseguir preços ainda mais baixos. E tudo isso em ambientes charmosos, bonitos, bom serviço e boa comida. É como se você estivesse na Europa, mas sem os preços em Euros, que encarecem tudo para quem vem do Brasil. Para opções de hotéis ou mesmo pacotes completos, consulte a Chameleon. Eles fizeram nossas reservas nos lodges e foram impecáveis.

O país está preparado para receber turistas – Os hotéis são realmente muito bons, confortáveis, limpos, bonitos, novos. Todas as estradas tem placas indicando as entradas para os hotéis. Nós viajamos duas semanas sem levar um único endereço conosco e não nos perdemos nenhuma vez. As pessoas são genuinamente hospitaleiras, simpáticas, querem realmente ajudá-lo sem esperar nenhum dinheiro em troca, como muitas vezes acontece aos turistas no Brasil e em vários outros países pelo mundo. Você se sente seguro andando pelas ruas.

A savana dourada no deserto

As atrações valem a viagem – O país é realmente lindo, com uma paisagem das mais ecléticas. Desde as savanas douradas cobrindo os campos secos do Deserto do Namibe até as florestas temperadas ao redor de Windhoek, passando por dunas de areia lindíssimas em Sossusvlei. Os animais vivem soltos por todos os lados e, se tiver sorte, você vai vê-los pelas estradas mesmo antes de entrar no Etosha.

As dunas de Sossusvlei

Uma dica importante: troque algum dinheiro assim que chegar ao aeroporto de Windhoek. Especialmente se for noite ou final de tarde. As taxas do Thomas Cook do aeroporto são praticamente as mesmas das cidade, onde tudo fecha às 17h. Se você não tiver dólares namibianos ou rands (dinheiro da África do Sul), a única forma de pagar suas contas será o cartão de crédito internacional, mas alguns postos de gasolina não os aceitam. Quem vive em Angola se acostuma a usar dólares americanos em qualquer lugar, mas na Namíbia ninguém aceita dinheiro estrangeiro, com exceção do rand, que tem o mesmo valor do dólar namibiano e é largamente aceito. Os cartões de crédito internacionais podem ser usados para sacar dinheiro nas ATMs, se você estiver em apuros.

No próximo post vou publicar uma lista das atrações. Não sai da linha que eu já volto.

Lá vem polêmica

Eu sei que este post vai causar polêmica, mas eu tenho esse defeito de continuar me indignando com as injustiças... Fazer o quê?

2009 chegou com uma debandada geral de amigos estrangeiros que moravam em Angola. Foram abatidos pelo "blue stamp". (Vamos deixar claro desde já, esse não é o meu caso. Parto por livre e espontânea vontade. Poderia inclusive renovar meu contrato, mas por razões pessoais que explico neste post, decidi voltar.)

Funciona assim: 0s vistos angolanos de trabalho concedidos a estrangeiros têm validade de um ano, com possibilidade de duas renovações. Na segunda, o expatriado ganha um carimbo azul. Significa que, ao final do terceiro ano de trabalho, a renovação do visto lhe será negada. Ele terá de ir embora do país. Está na lei.

O governo alega que assim protege os angolanos. As companhias estrangeiras devem empregar mão-de-obra nacional e o carimbo azul as forçaria a isso. Na prática, porém, as empresas trazem outro estrangeiro para o lugar porque, ao mesmo tempo em que dá o carimbo azul, o governo permite que as companhias descontem dos impostos todas as despesas com passagens aéreas, com aluguéis milionários, com seguranças, motoristas e toda a estrutura de saúde especial que criam para manter os seus empregados expatriados.

Mas por que o governo de Angola permite isso? Eu não sei a resposta. Só sei que essa isenção é uma das responsáveis pela loucura dos preços em Angola. Como o dinheiro não sairá do orçamento delas, e sim dos impostos angolanos, as petrolíferas pagam qualquer preço que lhes peçam por aluguéis, empesas de seguranca, etc. etc. etc.

Quem ganha com essa isenção? Todos os generais que possuem empresas de proteção, pousadas, e hotéis, todos os políticos, ministros e pessoas influentes que são donos das casas do Miramar, do Alvalade e da Sagrada Família, cujos aluguéis chegam a custar 30 mil dólares por mês. Todos os angolanos ricos que são obrigatoriamente sócios dos estrangeiros em clínicas particulares de saúde, etc. etc. etc. Eles cobram o preço que lhes vem à cabeça, as petrolíferas aceitam e quem paga a conta é o erário angolano.

Em outras palavras, o carimbo azul é uma hipocrisia. A isenção é uma farra tributária e existe porque quem manda neste país ganha muito dinheiro com a presença de expatriados em Angola.

Se o governo quer mesmo estimular a contratação de quadros angolanos, pode começar por mudar a isenção de impostos. Em lugar de descontar despesas com expatriados, que tal permitir apenas a dedução nos impostos do dinheiro gasto em treinamento e formação de funcionários angolanos? Seria uma forma direta de incentivar a qualificação do trabalhador nacional para que ele tivesse condições de assumir os melhores cargos nas empresas estrangeiras.

Com o tempo, as companhias teriam quadros angolanos suficientes para os melhores cargos e parariam de gastar fortunas com expatriados. Mas aí os preços dos aluguéis, o lucro das empresas de segurança, das locadoras de veículos, tudo isso despencaria. Se não puderem deduzir esses gastos dos impostos, as companhias não aceitarão pagar qualquer preço que lhes peçam, como acontece hoje.

Será que isso interessa a alguém?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os que ficam (II)

Ele chegou em Luanda em janeiro, um pouco antes de nós, mas sofreu até um pouco mais para encontrar moradia. Talvez por isso, mas principalmente porque nossos santos simpatizaram desde o início, R. nos convidou para morar na casa dele.

Nos mudamos em outubro, mas é como se tivéssemos passado muito mais tempo lá. Na cozinha de R. descobri um gosto pela culinária do qual nem suspeitava. Sob a orientação dele aprendi a preparar alguns quitutes brasileiros, notadamente o pão de queijo, pelo qual me tornei responsável oficial nas festas que promovíamos.

Mas o bom professor não é aquele que ensina um prato. Receitas existem aos montes. R. ensinou-me a sensibilidade para sentir a textura dos alimentos, a flexibilidade para adaptar ingredientes e medidas, a criatividade para inovar em misturas e temperos.

Ele é mesmo assim. Está sempre criando algo novo, adaptando pratos aos ingredientes que Luanda oferece. Pelo exemplo, aprendi a inventar receitas que nunca haviam sido escritas, testadas e aprovadas em livros e sites. Coisinha simples, vamos deixar claro, mas que saíram totalmente desta cabeça mesmo.

Cozinhávamos, falávamos de literatura, música, economia; ríamos das novelas e sitcoms da TV Globo; bebíamos nosso vinhos, biricocas, scotchs e cantávamos acompanhados pelo violão do companheiro A.

Era como se já nos conhecêssemos há muitos anos, tamanha a afinidade. Foram os melhores dias que vivi em Luanda.




Agora vou para a Índia e uma das coisas que pretendo fazer é um curso de culinária indiana. Quem sabe não prosperam aquelas idéias soltas de um dia abrirmos um restaurante no Rio de Janeiro? Nunca se sabe...

Porque o R., o A., a F., a Flávia, a Branquela... São amigos que ficam, que ficarão para sempre.

Os que ficam


Nós poderíamos ter nos conhecido em alguma recepção da Embaixada Brasileira ou em alguma festa de expatriados, mas fomos nos conhecer no lugar mais improvável: a Direcção de Viação e Trânsito.

A F. (não confundir comigo, o F.) havia chegado um pouco depois de nós a Luanda. Ainda não tinha casa, nem a companhia do A., que estava terminando alguns trabalhos no Brasil antes de se mudar. Mas, principalmente, não tinha a carteira de condução angolana, o que permitiu que nos conhecêssemos.

Ela também estava lá na noite do linguado de guerra, com o A. recém-chegado a Luanda. E pouco tempo depois eles abriram as portas da casa deles para nos receber, a mim e a P., como já contei aqui.

Ficamos lá hospedados por duas semanas, mas eles nunca mais se livraram de nós nos almoços e jantares e festas e passeios a Cabo Ledo e cantorias nas tardes de domingo. Nem na Namíbia, por onde viajamos no ano novo e onde tirei a foto que ilustra este post.

Foi a F. quem primeiro começou a sofrer a nossa partida, ainda em novembro, quando nem nós pensávamos nisso. E foi ela quem melhor classificou minha tagarelice, com um adjetivo que a P. usa à solta agora: comunicativo. (Não se preocupe, eu sei que era um elogio.)

Amiga, por agora nos distanciaremos no mapa, mas você sabe, estaremos sempre por perto. Para os dias difíceis que o futuro possa nos reservar, mas também para os momentos alegres que ainda vamos viver, como aqueles da nossa viagem à Namíbia.
Afinal, nossos futuros filhos terão de crescer juntos, lembra? Já tínhamos decidido isso por eles... ;-)

domingo, 25 de janeiro de 2009

O sonho não acabou!

Extra, extra, últimas notícias! Depois de anunciado o fim desta Casa, apareceram alguns destemidos dispostos a tomar bordoadas dos leitores insatisfeitos para manter aberto este espaço democrático.

Apresento hoje a vocês Ponciano Furtado, o mais novo morador e agora administrador desta Casa.

Ele provavelmente contará com a ajuda das queridas Migas, que apesar das reticências já foi elevada à condição de administradora, e Menina de Angola, que acaba de ser convidada a integrar este espaço. As duas dispensam apresentações, pois há muito são conhecidas dos freqüentadores deste espaço.

Vai ser uma espécie de Casa de Angola com Gindungo e Lobisomen.

Obrigado a todos por manter aberto este espaço, no qual pretendo continuar a me hospedar ainda por algum tempo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Hey!!!

O meu último post, pode ter passado a ideia de que andava triste ou deprimida com a "nossa" Luanda. Errado. Nada mais errado. Explicando: afinal, porque escrevemos em blogs? Inicialmente, por puro passatempo ou diversão. Ao fim de algum tempo, para além do prazer de contar as nossas histórias, consegue até encontrar-se ligações interessantes com alguns leitores que passam de desconhecidos, a amigos. Já me aconteceu. Ora, para mim, deixa de fazer sentido quando eu me irrito com os MEUS passatempos. Sou, regra geral, muito prática. Não gosto, não como. Quer dizer, eu até gosto e como de tudo. Sou a chamada "boa boca" no que se refere a comidinha. Só não "como" parvoíces. Faz-me uma certa azia, confesso. Não estou para viver o MEU passatempo, de pantufas, se é que me entendem. Por tudo isso, e porque a migas não está triste nem desanimada e, muito menos vai embora, deixo mais um texto, escrito à uns mesitos. Como desta vez, não vou criticar "pretinhos" mas sim, "branquinhos", peço a vossa licença. Sim, sim. A migas, anda impossível com o seu humor corrosivo de espanta espíritos maus...


Sabem aquelas conversas que começam: o irmão do meu amigo, blá blá blá... e se está mesmo a ver que se passou com a pessoa que nos conta? Pois bem, a irmã do meu amigo, ia a entrar em casa e as garotas vizinhas pararam à porta, ao lado dela, reparando em todos os gestos que fazia. De repente, uma diz:
Garota: moooçã...
Irmã do amigo: sim, diz.
Garota: moooçã, és bonita.
Irmã do amigo (sem jeito): ah, obrigada mas, tu é que és muito bonita.
Garota (para a coleguinha do lado): nunca tinha visto uma branca de rabo grande.

O que dizer à irmã do amigo? Que não sei se o “grande” é grande de bonito, jeitoso ou de GIGANTE. Ou então, que o “grande” da garota, pode não ser o “grande”, de “grande” à portuguesa mas sim, o “grande” ã angolana. Eh pá, não sei. Só sei que, as crianças não mentem.

*Voltarei, para chorar a despedida daqueles que um dia, acharam que eu podia ser uma boa companhia para partilhar esta CASA DE LUANDA. Prometo muita choraminguice, na festa de despedida! Oh, se prometo!!!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Manuel de Oliveira estreia-se em grande na blogosfera com texto sobre disputa de Kuduro


Um dos grandes e inesquecíveis amigos que fiz em Luanda foi o jovem jornalista Manuel de Oliveira. Tímido no começo do convívio, com o passar do tempo ele revelou-se um talento nato para escrever sobre cultura em geral, gastronomia e traçar perfis. 

Nesta minha última participação na Casa de Luanda, gostaria de compartilhar com vocês o último texto de Manuel que caiu em minhas mãos e que não deu tempo de vê-lo publicado no jornal onde ele trabalha. É sobre um grande show de Kuduro que aconteceu no dia 27 de dezembro no Cine Altlântico.  

É uma preciosidade que adoro reler sempre para matar as saudades da cidade, do seu ritmo mais característico hoje e desse amigo querido chamado Manuel de Oliveira.

Adeus a todos!
X

Kuduro vence na batalha entre Rangel e Sambizanga

Manuel de Oliveira

No passado dia 27 do mês corrente o Cine Atlântico registou uma avalanche de adeptos e admiradores do estilo musical Kuduro. O motivo de tal aderência foi a batalha musical e dançante entre os municípios do Rangel e do Sambizanga, em Luanda, sob o lema Makas na Sanzala.

Mais de 2 mil ingressos foram vendidos. Antes das 18 horas, o local da festa encontrava-se completamente lotado e mais de 10 mil pessoas ainda estavam de fora daquele recinto.

De um lado, músicos do Rangel: Puto Lilás, Vaga Banda, Magnésio, e Puto Prata. De outro: Os Calunga Mata, Xtrubantu, Tchú K e os Lambas, representando o Sambizanga. Como convidados, Agre G e Bruno M.

A noite prometia um grande espectáculo de Kuduro nunca visto até então em Angola. Para que tudo acontecesse na harmonia desejada, a Polícia Nacional esteve presente com três unidades: Canina, Auto e PIR (Polícia de Intervenção Rápida). No total, mais de quarenta polícias estavam preparados para que tudo acontecesse sem que houvesse transgressões as normas de convívio público.

O espectáculo foi marcado por muita euforia e ânimos acima da média por parte daqueles que queriam ver seus admiradores a dar espectáculos e a verem-se com vencedores. O público vibrava ao ouvir os insultos tanto do Rangel quanto do Sambizanga. “Kinama que bate na filha” e “Panina Cabeludo” foram os nomes chamado ao longo do espectáculo pelos Lambas ao Puto Prata e Puto Lilás. Os mesmos repostavam dizendo “Desgraçados que andam a pé” e “Matumburiçados irreversíveis”.

Segundo o director geral da Independente Universal Produções, empresa organizadora do espectáculo, a iniciativa surge como um socorro de algumas perguntas nas várias periferias de Luanda acerca de quem são realmente os melhores fazedores de Kuduro no país. “O espetáculo foi como uma prenda de fim de ano para o povo angolano. Pretendemos, ao ano que vem, realizar um outro espectáculo de Kuduro no Estádio da Cidadela para que possamos evitar a enchente que aconteceu no Cine Atlântico”, ressaltou. 

Independente da disputa entre os bairros, o Kuduro venceu e mais uma vez foi notório que é um estilo de massa, uma manifestação cultural e ninguém pode tirar isto ao povo angolano. Ainda há quem diga que é coisa de delinquente, porque o ritmo vem das periferias e é feito por jovens com nível de escolaridade baixo. Mas esse som frenético, dançado loucamente, ainda vai ser muito falado ao redor do mundo.

Os que vão e os que ficam (III)


Então a Branquela d'Angola partiu à francesa, sem dizer adeus nem tchau nem nada. E fiquei sabendo apenas pelo blog dela, que encerrou com o último post na terça-feira.

Tem nada não. Branquela está perdoada porque é uma menina doce, que tem dificuldades pra se despedir, sei bem, quem não as tem? E porque não vai se livrar tão cedo assim da minha amizade, já que em menos tempo do que ela imagina estarei também em São Paulo.
Ou será no Recife? Pouco importa, onde houver um microfone vago de karaokê, sempre haverá espaço pra gente se encontrar.

Branquela, sua amizade é mais uma das grandes riquezas que levarei de Angola. Toda felicidade do mundo aí na nova casa e até breve.

P.S. - A foto acima é de autoria da Ju Borges. Roubei sem autorização lá do Blog da Ju, mas como é por uma boa causa e estou a dar o crédito, acho que ela não vai me processar.

As manhas da Dorotéia

Dorotéia visita a uma comunidade do Kwanza Sul: dias felizes


Bastou perceber que seria deixada para trás para Dorotéia começar a resmungar. Logo ela, que enfrentou longas estradas até o Kwanza Sul e Huambo sem jamais criar um único problema, agora decidiu que só dá na partida quando bem lhe entende.

Todas as manhãs desde que voltamos da Namíbia é assim. Dorotéia só pega depois de uma conversa, um carinho no volante, e algumas tentativas na chave.

Incrível como é apegada essa menina...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os que vão e os que ficam (II)

Outra despedida antecipada foi a do meu grande companheiro A., do Diário da África. Aventureiro como só ele, A. foi desbravar países ao norte do continente. Voltará a Luanda, mas já não mais estaremos aqui para desafinar nas canções que ele tão bem executa ao violão.

A. chegou pouco depois de nós a Angola. Foi logo submetido a um linguado de guerra, todo destruído pela minha falta de intimidade com peixes e churrasqueiras. Depois daquele jantar, pensei, desistiria da nossa amizade. Mas não. A. resistiu e nesses meses de convivência, só fizemos descobrir mais e mais afinidades.

Sempre nos apoiamos nas horas difíceis das piores queixas nos momentos de insatisfação com os diferentes projetos ao quais nos integramos aqui. Ele e a F. nos abrigaram de coração aberto no auge da crise de moradia que eu e a P. enfrentamos em Luanda. E foi com eles que passamos nosso Natal e nosso Reveillon, numa viagem inesquecível que já deixa saudades.

Amigo, jamais vou ter palavras para agradecer pela amizade, pelas longas conversas, pelas cantorias nas tardes de domingo que estarão, para sempre, entre as melhores lembranças de Luanda.

Agora parto, mas já com a certeza de que ainda vamos realizar muitos projetos juntos. Inclusive aquele dos retornados que nunca mais voltaram... Pode anotar aí.

Medo de avião


A proximidade da data enche-me de sentimentos contraditórios. Felicidades de reencontros, tristezas de saudades antecipadas, já anunciadas em cabeça de cartaz.

E onde é mesmo esse lugar para o qual volto? Existirá ou será apenas criação de memórias desconexas de afetos e de aromas?

O que me espera lá? Quem me espera? O que esperar?

Serei ainda capaz de me reconhecer naquele pedaço de passado?

Não sabia muito bem quem era quando de lá parti; tampouco sei agora quem é que por lá vai chegar.

Os que vão e os que ficam


As despedidas começam sempre antes da partida oficial. Nem todos estarão aqui para dizer adeus na porta de embarque. É desses que vamos já nos despedindo aos poucos.

A primeira foi a Flávia, também moradora desta Casa, que partiu na semana passada. Estará de volta a Luanda dentro de um mês, a tempo ainda do carnaval, mas tarde demais para outro adeus.

Flávia, a nossa primeira amiga em Angola, a nossa primeira pizza no Padrinho (que ela insiste em chamar no plural, “Padrinhos”, só para mostrar seu sotaque fluminense). Foi desde o princípio nossa irmã de todas as horas, mesmo aquelas em que estava longe, no Brasil.

Velou pela nossa saúde com seus comprimidos trocados ;-), ouviu nossos desabafos, sempre pronta a nos acompanhar nos finos gelados. Encarou, destemida, os banhos frios do cacimbo na casa do Benfica. E quando nem água havia para aquelas bandas, nos salvou com duchas quentes em sua morada.

Flávia da Costa continuará no bate-e-volta entre Luanda e Rio de Janeiro. Mas do nosso coração não escapará jamais. E pode, desde já, ir aprontado espaço na agenda aérea para longas visitas a São Paulo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Angola para sempre



Passe o mouse sobre a foto para ler a legenda.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Isso não se faz

Então nos reunimos no sábado na casa do A. e da F. para ver o último capítulo de "A Favorita", novela que só passamos a acompanhar há uns dez dias, mas sabe como é, último capítulo de novela das 8 é uma insitutição, quase como final de campeonato no Maracanã, você tem de assistir mesmo que não seja o seu time a jogar. E quando ligamos a tevê, a primeira cena que apareceu foi a da Flora com aquele lenço preto ridículo na cabeça e aqueles óculos gigantescos à Xico Sá, observando o Zé Bobo, ainda solteiro, vestido de fraque, numa longa conversa com duas personagens menores, e eu exclamei estupefato: "Mas esse é o capítulo de ontem!".

Aqui em Angola a novela passa com um dia de atraso. Como o dramalhão acabou na sexta no Brasil, tinhamos certeza de que o último capítulo seria exibido aqui no sábado. Mas não. A Globo internacional nos fez a presepada de reprisar o penúltimo capítulo, o que havia ido ao ar na sexta, deixando para hoje o último capítulo.

E o resultado disso é que eu estou desde sexta-feira sem ler os jornais brasileiros pela internet porque não quero saber o final antes da hora (por favor, amigos leitores do Brasil, não façam essa sacanagem de me contar nos comentários o que aconteceu).

Dias contados

Há muito deixou de ser segredo para os mais próximos. Agora chegou a hora de anunciar aos leitores e também aos detratores (que poderão comemorar à solta): dez meses e mais de 38 mil visitas depois, a Casa de Luanda vai fechar as portas.

Não por falta de histórias para contar, não por causa das críticas ferozes. Simplesmente porque as malas estão quase prontas, as passagens estão compradas. Em poucos dias, Luanda ficará para trás na janelinha de um Boeing.

Não realizamos tudo o que queríamos, nas cumprimos um ciclo em Angola. Chegou a hora de partir. Cedo demais? Talvez. Mas quem, afinal, consegue colocar em prática tudo o que sonha?

Eu tinha idealizado esta Casa para que ela pudesse continuar depois que partíssemos. O primeiro passo era criá-la, o segundo era abri-la às idéias dos leitores mais fiéis, o terceiro era transferi-la para aqueles que nela mais se sentissem em casa. Os dois primeiros passos correram conforme o imaginado, o terceiro falhou.

O entusiamo da querida Migas, em quem mais apostávamos como sucessora, foi abatido a golpes de grosserias por alguns comentaristas. Não a culpo. É mesmo dura a vida de quem diz o que pensa e o que sente a quem não quer ouvir.

Ainda não vou me despedir de todos hoje. Continuarei publicando textos nos próximos dias. Também ainda não tenho nosso novo endereço virtual, mas o publicarei aqui, assim que for possível, para aqueles que quiserem continuar nos acompanhando.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Para um 2009 mais tranquilo

As palavras continuam a fazer parte de mim. Escrevo e guardo para um dia não esquecer tudo aquilo que eu quero recordar. Da Luanda que não pára. Da Luanda que acorda cedo e dorme tarde. Da Luanda que, a cada dia que passa me dá coisas boas e más. E é dessas coisas boas e más que vou escrevendo por aqui. Das viagens, das pessoas que, de certo modo me marcam, dos momentos de solidão, de saudade, das mudanças em mim. E quando escrevo das coisas más, que me revoltam, não significa que Luanda seja má ou que as pessoas sejam más. E eu compreendo que muitos não gostem de ler. Porque os meus olhos vêm coisas que outros olhos não vêm. Sobretudo aqueles que vivem fechados neste seu mundo, só deles, que querem só para eles e, que se recusam a partilhar com os novos que chegam ao seu país, à sua cidade. Que comem da sua comida, que se enamoram pelas suas mulheres, que ouvem a sua música, que vivem no seu país como se fosse um pouco deles também. Mas eis que, mesmo quando se fala do bom que Luanda tem, da música que se pode ouvir, das praias onde se pode ser feliz, as vozes revoltadas continuam a aparecer. Porque enquanto os ricos ouvem a música e nadam no mar quente, os pobres continuam a comer restos, os pobres continuam doentes, os pobres continuam sem futuro. E afinal, o que é suposto escrever sobre Luanda? Nada? Sim. Acho que nada. Porque de alguma forma, as palavras que se escrevem continuam a revoltar. A nossa realidade é sempre a realidade dos olhos de quem não é desta terra. E por isso, a vontade de escrever e partilhar, desaparece. Desaparece a cada dia que passa. A paciência, desaparece também. Porque Luanda não está preparada para admitir que não tem muita coisa. Porque Luanda não está preparada para admitir que tem muita coisa para dar. A todos. Não só aos ricos como muitos insistem em chamar-nos. Não vou justificar a minha vida, ou a vida de todos os que aqui escrevem. Não vou justificar porque somos infelizes e felizes nesta Luanda. Vou apenas justificar porque as minhas palavras fogem desta Casa. Porque nenhum de nós veio com a missão de mudar a realidade. Nenhum, isoladamente, tem a missão de mudar Luanda. Aos que gostam de nos ler, mesmo que não concordem sempre, obrigada. Aos que se riem connosco, obrigada. Aos que relebram um passado presente na memória retalhada, obrigada. A todos, os votos de um 2009 diferente. Melhor. Sempre melhor. Mesmo que o melhor seja pouco. Mesmo que o melhor seja quase nada, para mim ou para todos os de Luanda. Aos que são a pedra no sapato para quem escreve sobre a realidade que vive, um abraço e um queijo e até mais logo. Porque a sua existência mais lembra a de um velho, amargurado pela sua infeliz vida, que lhe foge, mas que nunca nada fez para a mudar. E vive assim. Infeliz. A maldizer a sua sorte e a dos que o rodeiam. Luanda precisa de pensamentos positivos. Não de velhos deprimidos e amargurados com o destino da sua Luanda. Não é um adeus ou um até já. Porque não sei se realmente vou voltar a querer escrever.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Vida selvagem

Vista do enorme charco onde os animais surgem para beber água, no Etosha

Eu nem sou dos mais apaixonados por animais, mas passar por África sem fazer um safári equivaleria a viver no Rio de Janeiro e jamais ir à praia. Simplesmente imperdoável.

Por isso, o Parque Nacional de Etosha, na Namíbia, foi meu terceiro safari. Em 2005, já havia visitado o Masai Mara, no Quênia, e o Kruger, na África do Sul. O Etosha é definitivamente melhor do que o Kruger em quantidade e facilidade de avistar os animais. Mas o Masai Mara continua imbatível, pois lá é possível chegar com o carro bem ao lado dos animais.

Vai aqui uma seleção de fotos dos bichos que encontramos na viagem de fim de ano. Principalmente para agradar os meus sobrinhos e sobrinhas lá no Brasil, que estão encantados com as histórias das bicharada.


Só mesmo Luanda pra fazer o F. vestir este modelito...


A tarefa parecia simples: ir até o Ministério das Finanças pegar um documento. O F. me levou, porque é praticamente impossível estacionar por ali.

Na entrada, o segurança me barra:
-Moça, tem que meter o cachecol!
-Cachecol? Com esse calor?
-É, madrinha. Não se pode entrar de ombro de fora.
-Mas moço, só vou ali pegar um papel. E minha blusa é bem fechada, nem tem decote. Qual o problema do ombro de fora?
-Decote pode, mas ombro de fora não. Tem que meter o cachecol, madrinha...
-Mas eu não tenho cachecol! O senhor acha que eu vou andar de cachecol com esse calor?
-Então tem que voltar outro dia...

Já tínhamos perdido uma hora de trânsito pra chegar até lá. Voltar outro dia, nem pensar. Fui então atrás do F., que já estava dando a volta na quadra. "Fico no carro e ele entra", pensei eu.

Mas logo me dou conta que o F. está de... bermudas! Se não pode ombro de fora, perna também não deve poder, né? Olho pra blusa dele. Uma pólo surradinha...

Eu: -Hmmmm... E se eu vestisse a sua blusa? Não é muito fashion mas pelo menos cobre os ombros...
F.: -Tá, mas e aí como eu faço? Também não posso dirigir sem camisa.

Olhamos ao mesmo tempo para a minha blusinha... E é aí que surge, nas duas cabecinhas, o plano perfeito...

Eu proponho:
-E se...
F., captando a mensagem:
-Não, esquece. Não vou vestir sua blusa de alcinha.
Eu: -Mas já perdemos tanto tempo vindo até aqui... E além do mais ninguém vai te notar assim dentro do carro.
F.: -Sem chances. Vou tentar estacionar, te dou minha blusa e fico sem, esperando no carro.

Depois de 40 minutos tentando encontrar um vaga, sem sucesso, F. entrega os pontos:
-Dá logo essa blusa aí que eu vou vestir. O máximo que vai acontecer é o policial me multar por boiolice...

Visto a pólo surradinha, mas o F. se atrapalha todo com as alcinhas. O sinal vai abrir, ele tem que acelerar, mas a alcinha do ombro direito não passa no bracinho de nadador. F. força um pouquinho e... a alça arrebenta!

Fazer o quê? Encostamos no Ministério, eu subo as escadas de mármore rindo sozinha e a secretária não tira os olhos da minha blusa. Explico: -Não tinha cachecol, improvisei com a blusa do meu marido. E ela: -Ah... Achei que a senhora fosse alemã! Elas é que costumam se vestir assim! (vai entender...)

Em 5 minutos estou de volta e logo reconheço a Dorotéia parada no semáforo, com o F. em estado de graça com seu modelito tomara-que-caia!

Moral da história: Em Luanda, algo muito simples pode facilmente transformar-se numa grande aventura. E para que ela tenha final feliz é preciso muito bom humor e muito jogo de cintura! (e se possível um marido disposto a mudar de estilo!)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A prova Swakopmund

Este post complementa um outro publicado pelo companheiro A. no Diário da África, onde ele revela a todos provas definitivas de que a Namíbia não existe.

Aqui, vou apresentar especificamente a prova chamada Swakopmund, suposta cidade no suposto litoral da suposta Namíbia. Vejam as fotos vocês mesmos:


Casas em estilo germânico, ruas limpas e sem buracos. A língua que mais se ouve é o alemão, que também está nos nomes das ruas. A princípio pensei que estivesse na Alemanha, mas aí percebi um detalhe que comprometia essa tese: todas as pessoas nessa suposta cidade são felizes. Bem-humoradas, educadas, atenciosas. E cobram preços baixíssimos pelos serviços.

Na pousada em que eu e a P. ficamos, o dono cobrava apenas 50 dólares por noite. No quarto havia duas taças de cristal e um espumante tinto sobre uma carta com uma recomendação: "Oferecemos este vinho para que vocês possam apreciar o pôr-do-sol nas dunas que ficam a poucos metros daqui".

O vinho era cortesia do hotel. O pôr-do-sol, uma cortesia da suposta Namíbia.

Definitivamente, esse lugar não existe.