segunda-feira, 25 de maio de 2009

Terá sido só um sonho?

As fotos se sucedem no portão de entrada desta Casa, assinadas por mim, como se quisessem provar que foi tudo verdade, que sim, durante um ano eu estive lá, a viver Luanda, a sofrer Angola como os melhores angolanos... Não há outra explicação para os 4 gigabytes de imagens e filmes guardados dentro de um ficheiro inequivocamente denominado "Angola 2008".

Por vezes me pego pensando, porém, e tudo o que vivi me parece tão distante, tão irreal. Como se tivesse sonhado esse ano inteiro, ou apenas me apropriado de histórias de outras pessoas que nunca chegaram a ser minhas num continente distante em que jamais pisei. Ainda não completei três meses no Brasil e África já me soa misteriosa, insondável; como se uma eternidade tivesse passado desde que saí de Angola.

Como relatou o X. aqui outro dia, também já me foge da escrita o sotaque angolano que tanto me custou conquistar (exceção honrosa ao "desculpa lá" e ao "telemóvel", que continuo a usar para espanto geral dos interlocutores brasileiros).

Luanda me abandona aos poucos e só me salva a pasta de fotos e filmes que traz no nome o ano, 2008, como se estivesse a me dizer que se hoje está só, aguarda ansiosa a companhia de outros ficheiros com o nome de Angola.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Kimalanga - FBaião

Ai, ai, ai... E porque parece que está tudo com vergonha... aqui fica a sugestão da Kianda. A minha vénia (e um abraço), FBaião!... E para quem não comprar o livro, coisas más acontecerão! É a migas que diz. :o)

* Imagem ( e o título) emprestados do Silêncio da sôra dona Kianda. :o)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sugestão de programa cultural


Esquentando os tamborins para a Trienal de Luanda, em 2010, quando, se Mama Muxima assim permitir, eu aterrarei em Luanda novamente:
Exposicão de fotos
Kiluanji Estórias e Diligências
Inauguracão: 21 maio, quinta-feira, 18h à 22h
Até 19/06, de terça a sábado, das 11h às 19h
Na Rua Rainha Ginga, 100 - Luanda

terça-feira, 19 de maio de 2009

Angola está me deixando para trás...

Estou perdendo, aos poucos, as referências que tinha até então bem frescas na minha cabeça sobre Luanda e sobre como escrever de forma aportuguesada. É uma pena...

Daqui a poucos dias eu vou desembarcar em São Paulo e reencontrar o F., a Branquela de Angola, a Ju e o Greg - esses últimos, que engraçado, eu nunca vi no Brasil, só em Angola....como será que eles são do lado de cá?...

Fiquei sabendo que quedas de energia vem ocorrendo constantemente em Luanda...Na casa onde morei só sobrou a geladeira funcionando...

Tá rolando um estresse imenso porque há um boato de que os brasileiros só vão poder deixar Angola agora transportando 2 mil dólares...

O Animal Oportunista escreveu um post lindo, lindo, sobre coisas que tornam a vida insuportável na África... Um beijo para você, Animal, ainda vamos brigar muito...

Eu mandei emoldurar a fotografia acima e ela agora enfeita a minha sala refrigerada num palácio art-noveau da década de 20...

Três brasileiros foram morar em Angola e me procuraram por esses dias para eu contar um pouco como foi morar lá... 

Finalmente eu li, de um só fôlego, Predadores, de Pepetela. Devia ter lido antes de ir praí...

Mas sinto, realmente, que Angola está me deixando pra trás...




segunda-feira, 18 de maio de 2009

A velha amizade que nunca acaba


E continua a render frutos, da melhor qualidade, como esta exposição que amanhã inaugura em Luanda - onde infelizmente não estou para prestigiar. É o trabalho de um fotógrafo brasileiro, João Paulo Barbosa, que vive solto pelo mundo e tem fotos de tribos da Amazônia expostas em grande no Washington D.C., patrocinadas pela National Geographic.
Nesta mostra, que abre as portas amanhã (19) em Luanda, ele vai mostrar um pouco mais das afinidades entre brasileiros e angolanos clicados por suas lentes. A exposição abre às 18h, na União Nacional dos Artistas Plásticos, a UNAP, que fica na Rua Rainha Ginga, números 29/33. Se você estiver em Luanda, não deixe de prestigiar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Redutor de Gás ou... como tirar-me do sério

Redutor de gás. Ou coisinho do gás. Ou click. Ou tampinha da garrafa. Mais umas voltinhas e inventava mais uns nomes. Horas e horas à procura de um destes espécimes nesta rua, que é Luanda. Ninguém sabe. Ou melhor, fazem sempre que sabem mas na realidade, inventam. Dizem que "lá no quê" ou nos miúdos da rua, eu encontro. Ou nas bombas, onde se vendem as garrafas. Mas nada. Houve nesse dia um esqueminha para me tramar a vida. Os miúdos da rua, ficaram todos em casa. Nas bombas, circulou a informação de que, se eu lá fosse comprar o redutor, não havia. E mandavam para a próxima. Dois dias depois, o redutor apareceu-me nas mãos. De onde veio, não sei. Onde se compra, muito menos. Dizem-me que no Roque Santeiro mas, tenho para mim que é uma grande treta. Mito urbano. Sei que, naquele dia foi Natal. Em Luanda, o Pai Natal, põe redutores no sapatinho. Neste caso, na garrafa.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Canção de Ombera

Procurou-me nesta casa o poeta Namibiano Ferreira. Pedia autorização para publicar em seu blog a foto do quadro Imbondeiro, publicada aqui em agosto do ano passado. Selamos então um acordo. A foto foi ilustrar o poema de Namibiano e a poesia veio acariciar os sentidos dos leitores desta casa.
Canção de Ombera
De Namibiano Ferreira

É no renascer do imbondeiro
que espero a chuva radiosa
aconchegando meu passos
sobre a nudez dos dias ouroverde
que hão-de pintar as telas de sonhos
e risos amenos de crianças felizes.
É no despertar da prata tamborilando
que hão-de soar múcuas ao sabor do suor
da chuva nova a cantar as canções de Ombera.

E, o arco-íris prometido, anda tatuado
nos dentes pútridos e gelados do cometa da desgraça...

Se quiser ler mais poesias de Namibiano, visite o blog: www.poesiangolana.blogspot.com

domingo, 3 de maio de 2009

Roberto Carlos, Angola, 50 anos de carreira e dores de cotovelo


"Embaixo dos caracóis dos teus cabelos, uma história pra contar de um mundo tão distante..."

Roberto Carlos faz 50 anos de carreira, 68 de vida, e começou um giro imenso pelo Brasil na semana passada cantando aqueles sucessos que todos nós, falantes da Língua Portuguesa, sabemos de cor e salteado. Gosto, particularmente, do disco que Maria Betânia gravou com as músicas dele. É um dos meus top-10 do iPod.

"No seu corpo é que eu encontro, depois do amor o desanso, e essa paz tão infinita..."

Tá, mas o que isso tem a ver com Angola e com esse blog - que anda a definhar a olhos vistos?

Roberto é um dos cantores brasileiros mais amados neste país africano e foi o primeiro a cantar a paz, em 2003, num show que entrou para a história e para a memória afetiva de todos que conheci aí pois comemorava 12 meses sem guerra. Foi o primeiro artista de cá a tomar coragem e ir deleitar os ouvidos cansados dos tiros com coisas como:

"Você não sabe quanto coisa eu faria pra te fazer feliz..."

Essa reportagem, exibida à época pela TV Globo, é uma preciosidade. Simples e tocante sobre o que é gostar de um artista e poder vê-lo de perto em Luanda. O marido surpreendeu a esposa colocando o LP de Roberto na cama na noite da lua-de-mel. E 32 ano depois foi ao show do Cine Tropical. Coisa do cotidiano que são mais bonitas do que muitos filmes românticos.

"De manhã um bom dia na cama, a coversa informal. O beijo depois do café, o cigarro o jornal..."

Sou de uma geração que foi patrulhada na escola para não gostar do "Rei' pois, diziam os professores marxistas, ele se alinhou à ditadura militar e, ao contrário de Caetano Veloso e Gilberto Gil e Chico Buarque, não fazia "música de protesto". Bobajada de quem não se apaixona nunca, "num é?"

Pois bem, em Luanda eu e meu pequeno grupo de amigos brazukas aprendemos a redescobrir a beleza da poesia desse grande cantor pelas lentes de Leonel, nosso querido motorista que todos os dias nos brindava com " Detalhes", " Mulher Pequena" e diversos outros sucessos no seu toca-discos. No "Karaóke" do Danadão, só dava Roberto, não era?

"Quando a coisa fica quente, ai essa mulher me usa.. quero só que se arrebente algum botão da sua blusa..."

Agora, vejo na Sic uma longa matéria sobre os portugueses que vivem no Brasil e que também são loucos pelo Rei. Um tuga, desidratado de tanto chorar, revelou que a canção que abre esse post é o seu hino do exílio - e talvez seja o de todos nós que, um dia, moramos longe do nosso país. Outra, numa prova de concisão incrível, diz que as músicas de Roberto são fantásticas porque dizem à pessoa amada aquilo que queremos dizer e não sabemos. Quer uma prova?

"Não adianta nem tentar, me esquecer, durante muito tempo em sua vida, eu vou viver..."

Roberto canta uma música para cada pessoa e para cada um dos seus amores. E a sua, qual é?

"Daqui pra frente, tudo vai ser diferente, você vai aprender a ser gente, porque o seu orgulho não vale nada, na-da!"