E pronto, deixei cair a minha capa de super-mulher. Hei-de recuperá-la mas, nos próximos tempos confesso que vou andar com o chamado “medinho”. Pois é, após 2 anos de Luanda, de Cazenga e de Mulemba. Depois de Boavista e porto pesqueiro, com tudo de mau e podre que se pode imaginar. Depois de deixar admirados alguns homens, por andar de carro sozinha em certos sítios considerados perigosos e para onde eles não iam sozinhos. Depois de ter noção que andava com uma sorte do caneco. Eis que sofri a minha primeira tentativa de assalto, em plena cidade, às 10h da manhã. No meio do trânsito confuso de uma rotunda. Com dezenas de carros à minha volta, a escolhida fui eu. O método foi o mesmo que o F. descreveu à uns tempos. Com o portátil e a carteira no chão do carro. Com o telemóvel ali ao lado. Com o relógio no braço esquerdo e o anel na mão esquerda. O bandido deve ter ficado atordoado. Frustrado. Confuso. Deve ter pensado que perdera as suas capacidades de persuasão. Ou então, a cara de mau. Depois de tentar abrir a porta e dar alguns murros no vidro. Depois de abrir o casaco, para mostrar sei lá eu o quê. Depois de dizer “dá tudo o que tens”. O que fez a garota? Ignorou. Olhou para ele com cara de paisagem. Por sorte não abriu uma nesga de vidro e disse: quê? Ou então: vai lá à tua vidinha e deixa-me ir à minha, que já se faz tarde. Ou ainda: sai do meio da estrada que ainda te atropelam, pá. E porquê que a garota fez isto? Porque não sabia que um assalto era assim. Porque só depois juntou as situações. Murros no vidro – mostrar casaco – dá tudo o que tens. Tudo isso só fez sentido, depois. Quando já tinha saído do meio da confusão. Quando percebi que tinha escapado a um assalto, graças à minha cara de ai-não-me-chateies-que-hoje-é-sexta-feira-e-eu-ando-bué-cansada. Aí, a capa de super-mulher caiu e as lágrimas saltaram. Aí, desejei estar em casa. Na minha casa, em Portugal.
A programação segue dentro de momentos. Preciso pensar e olhar para coisas bonitas e esquecer esta m*rda de manhã. Vamos lá fechar o parêntesis e continuar com a viagem ao Uíge.
A programação segue dentro de momentos. Preciso pensar e olhar para coisas bonitas e esquecer esta m*rda de manhã. Vamos lá fechar o parêntesis e continuar com a viagem ao Uíge.
10 comentários:
É isso mesmo, a violência urbana em cidades africanas não deve passar mesmo de um parentesis.
Qualquer cidade do "mundo desenvolvido" serve de exemplo.
É pena que no caso de Angola, essa violência possa vir "dos meninos do Huambo" que deviam estar à volta da fogueira...e nesse caso, pode haver outras violências escondidas.
Mas para se saber, só para quem se exprima em quimbundo ou bailundo.
E isso só mesmo para angolanos.
Que comentário posso eu fazer, está a ser o pão nosso de cada dia e ninguém põe cobro a isso, os assaltos estão a aumentar para desespero da maioria das pessoas que é apanhada nesse trânsito infernal. Migas não desesperes, tens a minha solidariedade, mais não te posso dar.Um amigo meu, gerente de um Banco, também foi ameaçado por dois bandidos armados com pistolas e reagiu como tu, mandou os tipos "passear", que foram tentar assaltar outros mais atrás.Mais à frente, parou o carro, ficou em estado de choque, não conseguia arrancar, as lágrimas também lhe vieram aos olhos, depois de eflectir melhor sobre o perigo porque tinha passado.
pois miguitas, xará, talvez metade não tenha arma e já aprendeu q basta ameaçar mas o problema é que nunca se sabe. Mas evita as coisas à mostra, carteira (mala) vai do lado esquerdo entre a tua perna esq e a porta, pasta do computador eventualmente por baixo do banco e telemóvel tb escondido, não facilitar, esse era a minha filosofia qdo aí vivia...deu certo. Andava sempre sozinha e nunca ninguém se meteu comigo. Sorte?! Talvez, mas a sorte tb se constrói.
Beiju c carinho e bom fds!!!
Pois kianda, eu também acho que a sorte se constrói, apesar de ter exemplos à minha volta que foram puro azar. Não comigo mas, com amigos. Ora, eu tento sempre andar com os meus cuidados. Porta trancada, sempre! O portátil fica quase sempre no escritório mas hoje, curiosamente, tinha-o levado para casa por causa de uma reunião de hoje. A carteira, é boa dica! :o)
Longe, está a menina que chegou a Angola e perguntava ao M.: posso sair do carro? Não fosse a coisa ser perigosa e tal... Mas, apesar de ir para certos sítios menos simpáticos, não quer dizer que me arme em tarzan (neste caso, em Jane) eh eh eh Muito respeitinho!
Beijos a todos e bom findi!
* Já estou (quase) fresca! :o)
Pois, às vezes fazemo-nos de duras e acfontece!
Eu tb não tenho problemas ema ndar sozinha de noite e onde quer que seja, mas tb sei que um dia vai acontecer alguma e a capa vai cair... por momentos... é genético.
Cuida-te... olha que os heróis...
Migas, minha querida, fico muito triste pelo que passaste. Espero mesmo que estejas bem, que posso dizer? Eu mesmo no seu lugar, não sei se teria resistido a abrir a porta. No Brasil, somos muito treinados a ceder aos bandidos nessas situações porque lá eles atiram e matam sem dó. Fica bem. Bjs.
Ó dolar a quanto obrigas. Beijoca
Cuida-te Mulher! Mas se te serve de consolo, aqui por estes lados, no jardim da Europa à beira-mar plantado também já vai acontecendo mais do que se previa...em pleno dia, nas ruas e vielas, nas auto-estradas e nas secundárias! É a globalização...do modelo vale tudo para atingir os fins...."até tirar olhos"!
Abraço de solidariedade,
Kandanda
Só posso manifestar a minha solidariedade.
A mim também já me aconteceu. E reagi exactamente da mesma forma...
Por mais que cada um conte sua experiência, em qualquer parte do planeta, jamais nos acostumaremos com essa violência urbana. Culpado? Ficaríamos hora discutindo teses. Talvez pudessemos recorrer a primitivadade do SER e atribuirmos a provas que Eles nos impingem.
chr
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