O mais Velho Jonas, era um homem magro, alto, carapinha toda branca, de olhar penetrante, ainda com uma dentadura alva, pois continuava a lavar os seus dentes com o seu pau esfiado e carvão bem moído, como antigamente, e ainda utilizava a sua raspadeira de alumínio, que já vinha de longe, para raspar a língua. Sempre de casaco e gravata, bom na escrita e na fala, pois era descendente de ambaquistas, da região do Lucala, homens que serviam de secretários aos sobas e reis da região, escrevendo e enviando mukandas, às autoridades coloniais sobre pedidos
e assuntos judiciais. Vestiam-se à europeia e não eram muito bem vistos pelos portugueses, pois falavam o português correctamente e muito melhor que a maioria deles, era um português erudito, aquele que eles falavam, com muitos vocábulos jurídicos e latinizados.
Ele mesmo fazia o seu matabicho, pão com manteiga e uma chávena de café, batizado co um pouco de aguardente, que o seu vizinho branco lhe tinha oferecido. Punha o seu fato preto, com a camisa branca e gravata às cores e lá ia passear pela Igreja do Carmo, descia até à Marginal. Para o mais Velho, as suas saídas eram sempre um dia de Sol, quando se sentava num banco de pedra a ver o mar, mesmo que fosse kasimbu. Depois subia a calçada para casa, passava novamente em frente à Igreja, benzia-se, cumprimentava o branco da loja dos colchões e entrava em casa, no bairro da Ingombota.
O seu vizinho branco, que andava perto dos sessenta anos, que como quase todos os brancos ricos, tinha barriga grande, muitas vezes lhe perguntava, como fazia ele para estar com oitenta anos e ainda em forma, já que era caso raro um angolano chegar a tal idade, ainda mais com todas as dificuldades que agora atravessa. O mais Velho Jonas, respondeu-lhe, que descansa muito. Disse que uma vez, leu uma crónica de um humorista brasileiro, que dizia"o exercício físico é o primeiro passo para a morte" e deu como exemplo o famoso Dorival Caymmi, letrista, compositor e cantor baiano, conhecido como o pai da preguiça, tendo vivido noventa anos.
Usava óculos mas só para ver ao perto, lia muito, nestes últimos tempos, lia mais o Pepetela, escritor que fala da nossa terra, sem grandes rasgos de intelectualidade, escrita acessível a qualquer angolano, leu uns livros do Agualusa, mas dede que ele disse que o pai da nossa Nação, era um poeta medíocre, nunca mais quis nada com as leituras desse escritor.
Detestava ler coisas de frases feitas com laivos de sabedoria e muitas citações de escritores e personagens de quem nunca tinha ouvido falar, que ele considerava ser só para se darem ares de grandes intelectuais. Apesar de não ter computador, sabia que muitas dessas menções nos livros, eram tiradas de sítios da Internet e que, rapidamente, com isso viravam eruditos.
Do Egito para a Grécia
Há um dia
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