Luanda não é Surabaya, na Indonésia, a cidade das prostitutas, mas para lá caminha. Ali têm quase nove mil prostitutas recenseadas, na nossa terra, haverá muito mais?. De certeza que sim, apesar de não haver qualquer registo. Lá, em Surabaya estão confinadas aos bordeis e ruas de determinados bairros. Em Luanda, é vê-las por tudo que é canto:Marginal, Baixa de Luanda, bairros periféricos, discotecas, nos carros, mercados (Roque Santeiro e outros), resumindo, em toda a parte, de manhã, de dia e de noite. Kitatas (prostitutas) de baixa renda a concorrer com kitatas de luxo. Talvez, contando a odisseia de uma rapariga angolana, ficaremos a conhecer melhor o fenómeno.
"Katiana tinha 16 anos e estava em recuperação de um segundo aborto que correu muito mal. Vivia em casa de um tio e ficou grávida de um namorado, ainda disseram que tinha sido o próprio tio, mas ela desmentiu. Este levou a moça, ao Bairro dos Kilombos, emViana, a um posto de saúde cujas instalações não tinham as mínimas condições de higiene e onde se faziam toda a sorte de consultas, inclusivé, até operações cirurgicas, bem como abortos a bom preço. Um senhor com bata branca, com ar de conhecer do ofício, nome de origem francesa, mediante o pagamento adiantado de 200 kwanzas, iniciou a operação para interromper a gravidez. Mas tudo correu mal, forte hemorragia que teimava em não parar. Felizmente, o tal senhor que se dizia médico, teve o bom senso de pegar na rapariga e levá-la a uma Maternidade do Estado. O estado era grave, mas conseguiu salvar-se.
Viemos a saber do primeiro aborto, contado pela própria, feito numa clínica de coreanos que actuam às claras, apesar da legislação em vigor, condenar o aborto clandestino com prisão que pode ir de dois a oito anos de prisão maior. Foi um militar que a levava muitas vezes a passear à ponta da Ilha no seu jeep que lhe pagou esse aborto. Dizia que queria casar com ela, que mulher virgem, em Luanda, era coisa rara, e só casaria com mulher que lhe desse a virgindade. Ela cedeu, uma tarde, ali mesmo nos areais da praia ao pé do Farol. Mas, quando mais tarde, lhe disse que ficou grávida, o homem assustou-se, levou-a aos coreanos e nunca mais apareceu. Saíu de casa e para sobrviver, virou prostituta de rua. Andou uns tempos a bater o corredor Marginal/Ilha de Luanda, correndo os riscos que a profissão acarreta, clientes que não pagavam e ainda davam surras muito fortes. Foi levada por clientes para a Fortaleza de S. Miguel, chamada "Fortaleza do Sexo"; bateu também o parque do Miramar, quando estava em obras, a quem deram o nome de Maitre Beye e que devia tapar os olhos e dar saltos no túmulo, sempre que um carro entrava dentro dos taipais que cercavam o dito jardim, tais eram as orgias sexuais que ali se passavam, dentro e fora das viaturas. Chegou mesmo a ser levada um dia por um policial para a zona do Mausoléu, onde com a conivência de um guarda, lhe trataram da saúde. Outra vez, a moça, na Ponta da Ilha, onde muita gente já chama a "O Ponta da Fodélia", tal é a quantidade de gente que ali vai para "tchacar", enquanto aguadava por um cliente, três jovens com a ameaça de uma faca, a arrastaram para os pontões e a violaram várias vezes, tendo sido, em seguida, espancada violentamente. Ainda chegou a pensar arranjar um protector, mais conhecido por chulo, mas desistiu da ideia, voltou para casa do tio, arranjou namorado fixo, como vimos, engravidou outra vez, abortou e o namorado fugiu."