quinta-feira, 30 de julho de 2009

Xuxa fará show em Angola em outubro e mobiliza aspirantes a atrizes em filme sobre feiurinha


O sonho dos angolanos em ter um show de Xuxa será realizado. A "rainha dos baixinhos" se apresenta junto com o cantor local de maior sucesso, Maya Cool, no dia 10 de outubro, na festa da Amizade Brasil-Angola. O mestre de cerimônia será, pelo segundo ano, o apresentador Luciano Huck.

Agora vem a melhor parte disso tudo:

O programa ‘Revista África’, da TV Globo, acompanhará, durante todo o mês de agosto, a disputa de duas angolanas ao papel de fada no filme “Xuxa e o mistério da Feiurinha”, de Tizuka Yamazaki, diretora de outros filmes da apresentadora como “Xuxa Popstar” e “Xuxa Requebra”.

No programa que irá ao ar esta semana, dia 01, uma reportagem mostrará os primeiros dias das atrizes no Rio de Janeiro, onde estão para fazer os testes, e o encontro emocionado com a apresentadora.

No dia 8 de agosto, será exibida a reunião do elenco para as leituras do texto do filme. Já no dia 15 de agosto, o programa mostrará um making of do “TV Xuxa”, e fará suspense com o nome da vencedora, que será anunciado no “Revista África” da semana seguinte, 22 de agosto. Só então os telespectadores verão a volta da escolhida a Angola e a festa que os amigos farão para recepcioná-la.

A TV Globo Internacional exibe o “Revista África” todos os sábados, logo após o “Jornal Hoje”.


quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Elinga não vai mais ser demolido

O celular tocou quando ainda era madrugada no Brasil, coisa de 8 da manhã em Luanda.

-- Yá, tás fixe? Tenho uma notícia boa para si, que sei que gostas tanto daquele sítio.

-- Aié?, respondi, brincando, uma vez que no Brasil a gente sempre diz: "não diga!" (quando na verdade quer é que o interlocutor continue a falar, no Brasil é tudo ao contrário).

-- Uma fonte do Ministério da Cultura me garantiu ontem que o Elinga Teatro não será mais demolido para dar lugar a um prédio de oito andares em formato de parque de estacionamento.

Nem o anúncio do que seria o final da crise financeira internacional me deixou tão feliz, confesso a vocês, porque só quem já viveu as noites frenéticas do Elinga (Zé, Ju, Xuxis, Fulano e cia. sabem bem) sabe que ali é "a balada" de Luanda.

--- Pois então, volte para cá pois, depois que "vocês" partiram, Luanda voltou a ser um deserto...

Ai, ai, ai, ai....

terça-feira, 28 de julho de 2009

O mundo virá abaixo, certamente...

...porque vocês não fazem a menor idéia de quem será a atração musical do show do Dia da Amizade Brasil-Angola, em novembro...

sábado, 25 de julho de 2009

Foi assim, em Luanda

Ao arrumar alguns papéis, daqueles que se guardam ao longo do tempo com afecto, encontrei este desenho. Decidi partilhá-lo hoje convosco. Talvez porque esta imagem fala de uma Luanda antiga, relembra-me tempos em que se anunciaram sonhos e desafios.

Foi há 34 anos. Havia a guerra. E desenhos. Porque havia crianças e vida também. Assim, foi naquele tempo em que grupos de desalojados povoaram durante semanas o então Liceu D. Guiomar de Lencastre.
Nzinga Mbandi ainda não chegara. Naquele espaço, erguia-se o Liceu Feminino, nascido em 1954, que se orgulhava da educação que proporcionara a jovens e futuras mulheres durante duas décadas.
Em Junho de 1975, o liceu abriu as suas portas para servir de abrigo temporário a quem vinha fugido da guerra. Nas salas de aulas escutaram-se, pela primeira vez, outras línguas e viram-se panos de todas as cores.
Na cerca, nos jardins interiores, na sala de Lavores e até perto do tanque onde se ia espreitar os jacarés (lá, ao pé da sala de Canto Coral) cuidava-se de gente. E procurava-se cuidar por inteiro. Os espaços exteriores encheram-se de alegria com os sorrisos e cantorias dos grupos de crianças que se distribuíam por diferentes actividades e, assim, iluminavam, sem saber, o cinzento de muitos dias daquele cacimbo quente.

Campanhas de limpeza, acções para angariar alimentos, organização de espaços e refeições constituíram algumas das inúmeras tarefas diárias que ocupavam os dias de todos os que tentavam preservar rotinas e vidas. Novos vocábulos ouviam-se nos corredores da escola e o léxico crescia e enriquecia a par de cada vivência. Dividir era a operação principal e a mais difícil daquele tempo. Era preciso dividir espaços, horas, pensamentos, tarefas, alimentos. Dividir sem apenas subtrair, fazendo os restos virar ganhos. Nos muitos nadas descobriram-se parcelas e assim se partiu para novas operações.

Julho, 1975. Tempo de partidas bruscas. De fugas, perdas, lutos. De sonhos, alegrias, esperanças e celebrações de vida. Tudo coube nesse cacimbo. Misturavam-se prazeres e dores, nascimentos e despedidas, despiam-se as vestes da ingenuidade trazida da infância e das ilusões exponencialmente romanceadas pelo sonho vivido intensamente.
Depois da dipanda, o Guiomar de Lencastre deu lugar ao Nzinga Mbandi. Hoje, nas suas instalações recuperadas em 2000, vejo partilhar outros saberes e gosto de saber que se fala de outros reis e rainhas, também. Já não há portões fechados no Liceu, nem cartões de saída, nem vendedores de picolés. Há zungueiras que por ali passam e tudo é possível comprar, no meio do barulho de vozes de uma nova geração que marca a saída do Nzinga agora.

Luanda apresenta-se transfigurada, mas guarda silenciosamente os seus mistérios. Neles encontro a generosidade e coragem de quem soube morar por baixo dos traços destes desenhos. Aqueles que guardo, junto com o brilho dos olhos e sorrisos daquelas crianças.

Luanda merece. E esta é uma das estórias que se podia contar!

terça-feira, 21 de julho de 2009

35 páginas sobre a economia de Angola


A revista País Económico - que eu sempre comprava ali na Africana, uma livraria vizinha ao Três em Um, café charmosinho na rua António Barroso, na Maianga - publicou na edição de julho um dossiê de 35 páginas sobre a economia angolana.

Tem pano para todas as mangas: banca, construção, automóveis, empresariado, transportes e acessibilidade, energia e indústria.

Leitura obrigatória para o grupo de amigos datilógrafos transformados em economistas de um dia para a noite no ano passado, de acuerdo?

domingo, 19 de julho de 2009

"Somo todos farinha do mesmo saco"


Como tínhamos dito aqui, começou há um mês um intercâmbio muito interessante entre Natal, onde moro hoje, e Lisboa. Desde sábado, os portugueses estão por aqui retribuindo a visita que a comitiva potiguar fez à "Tuga" no final de junho.

Dentro da programação, ontem aconteceu um show maravilhoso com Carminho, uma das novas vozes desse gênero musical tão triste e tão bonito que é o fado. Dizem que é preciso ter mais de 40 anos e ter sofrido uma grande decepção amorosa para cantar o fado, mas Carminho quebrou todas essas regras, pelo visto. Tem apenas 24 anos e no quesito voz é um assombro. Aqui você pode vê-la cantando a lindíssima “Marcha de Alfama”.

Completaram o show o magistral saxofonista Carlos Martins, cuja versão de “Maio Maduro Maio” arrancou lágrimas de um certo revolucionário amigo meu que estava na platéia e trabalhava pra RTP quando da libertação de Lisboa e Luanda e – como não dá mais para falar de Brasil e Portugal sem falar da África – colocou os pés do lado de cá pela primeira vez junto com a comitiva de tugas a caboverdiana Nancy Vieira, que mandou embora toda a chuva que caía em Natal há dias com seu vozeirão ao entar mornas, coladeiras e batuques, nomeadamente o lindíssimo “Vadú”, que encerrou o show.

Tudo isso vem à guiza de introdução para falar de Mário Ivo, um jornalista potiguar que conheci em janeiro e que me concedeu a honra de publicar, em dois sábados seguidos, um “pequeno dicionário” com cerca de 15 verbetes tentando explicar para quem está do lado de cá o que é Angola (tal qual aquele que causou tanta polêmica aqui no blog por causa do verbete "portugueses"). No final, Mário, que batizou essa sessão de “Adivinhe quem vem para o café-da-manhã”, amarrou as pontas de tudo e, brilhantemente resumiu Brasil, África e Portugal com um ditado popular que não deve ser só brasileiro: “somos tudo farinha do mesmo saco”.

Dono de um texto elegantíssimo, ele publicou dia desses a crônica abaixo, sobre Lisboa, e me autorizou a reproduzi-la no blog, para deleite de quem vive nessa ponte aérea e sentimental, saudosista e reflexiva, de amor e ódio para com as duas cidades (Luanda e Lisboa) e que, nos momentos mais difíceis, só precisam lembrar disso: “somos farinha do mesmo saco”. As fotos são todas deste datilógrafo, feitas quando da última "aterragem" por lá. Para acompanhar a leitura, que tal ouvir Amália Rodrigues cantando "Uma Casa Portuguesa" nesse videoclipe cafonérrimo e, por isso mesmo, maravilhoso?

***

Embriaguez em Lisboa, Mário Ivo Cavalcanti

Nunca dei muita importância à Lisboa. Me pareceu mais interessante vista do alto, ou quando, pousados os pés na pista do aeroporto, manhã outonal de mil e novecentos e muitas décadas, ainda não tinha meus pés pousados realmente nela.

Depois, aquela profusão de praças, carros, ônibus – atulhando a visão. Diante de Madri, que eu só conheceria depois, Lisboa era uma cidade velha, caquética, mal-ajambrada – quase como uma daquelas favelas, fedendo a bolor e urina, esse tipo de lugar que a gente tem vergonha de assumir que tem nojo, mas evita a passagem com certo cinismo, mas não impunemente, porque a moral, porque a consciência, porque etc.

Mas, três meses sem ver o mar e foi Lisboa quem me reconduziu ao encanto que é ver o mar e saber que existe um momento na vida em que não ver o mar é um desencanto a mais na solidão. Inda mais quando se assiste ao mar engolfando rio e virando oceano e horizonte infinito. Inda mais quando é o Tejo, o rio particular de todos nós, aldeões, a ser engolido por um Atlântico ainda remanso, antes de virar, tormenta, onda, vagalhão. Um rio inteiro, grande por magnífico, magnífico por secular. Secular porque sim.

Do que ainda me lembro, e tão pouco me lembro, Lisboa a partir de um automóvel não é a mesma de quando percorrida – melhor dizendo, tateada – a pé. Passo miúdo, passo apressado, passo junto ou desconjuntado, a pé.

Talvez eu diga isso, agora, quase outra encarnação da memória, por um atalho brusco e sem sentido na direção do ensaio sobre a cegueira do senhor Saramago, o português moderno por excelência e distinção. Não pelo livro em si, que de Lisboa tem pouco, mas pela importância do tato diante da visão, da definição exata das pontas dos dedos frente ao esboço do olhar.

Todos modos, acredito piamente que sabe-se mais de Lisboa no interior do elevador de Santa Justa do que olhando o Tejo e suas pontes, que na verdade são apenas duas e que na verdade é apenas uma e haverá quem diga que se parece com a Ponte de Todos e não o contrário. (Mas que, verdade-verdadeira, são muitas pontes, milhares delas, centenas delas, dezenas dela, uma única, enfim, porque muitos são os pontos de onde guardá-la, mas sempre unitário é o olhar.)

Em Lisboa (e também creio piamente, que hoje acordei quase devoto), ou você passa a mão pela rachadura das paredes, ou você sente o entalhe do tempo no madeirame das casas, ou você fere os dedos no ferro trabalhado do Santa Justa – ou então, você não sente nada e se ilude com uma indigestão de paisagens abertas.

Porque, dizem, a visita primordial é ao Mosteiro dos Jerônimos, e à Torre de Belém, mas aquilo sempre me pareceu uma espécie de Disneylândia Gótica, um épico arquitetônico, enfim, grandiloqüente por demais, sonoro por demais, ruidoso por demais, fake por demais.

Houve um tempo, também, em que o que mais me incomodava em Lisboa era sua língua. O rumor da sua língua. A entonação da sua língua. A língua de suas ruas, carregadas de insinuações verdes, de prosódias amarelas. Com esse arremedo de identidade comum, de berço comum, de lugar comum, de decadência comum – reino e colônia amalgamados numa tristeza, saudade sem fim. Porque quando se é jovem queremos, desejamos, almejamos, exigimos, enfim, a incompreensão.

Quando eu desci em Lisboa, naquela manhã de outubro-outono, um dos passageiros estava bêbado. Da mesma embriaguez do cônsul britânico em Cuernavaca no Dia dos Mortos, como se saído direto das páginas de “À sombra do vulcão” para um tête-à-tête com Almada-Negreiros – em frente a A Brasileira. Era um homem realmente bonito e já dava seus primeiros passos para o dia em que chegaria à velhice onde, talvez, perderia também parte do fascínio dos habituados a pôr à mesa a própria beleza. Por enquanto, estava vestido elegantemente, ainda mais com a gravata elegantemente desconjuntada como se desejosa em combinar com a embriaguez do seu proprietário. Tinha, explicitamente, a elegância dos que se destacam naturalmente do rebanho, dos que optam alçar a cabeça no prumo das nuvens e não enterrar o focinho na providência segura do pasto. Desconfio que misturou pastilhas medicinais com álcool, tão irresistível era sua bebedeira. Desconfio que tenha passado a mão na bunda de uma aeromoça, a mais bonita, a mais madura, a mais magra e alta. Desconfio que ela gostou, mas é das aeromoças a cobrança de respeito pelos passageiros, pois. Por isso o rosto amuado da menina – aliás, toda a equipe estava visivelmente irritada com o sujeito. Que, ainda no ônibus que nos levaria da pista para a alfândega, pegou o chapéu de uma senhora, colocou na própria cabeça, continuou rindo, indiferente à raiva que provocava no mundo, sem se preocupar se seria preso, algemado, interrogado, sem se importar, inclusive, se havia desembarcado em Lisboa ou alhures. Porque, como em qualquer cidade, desembarcar em Lisboa pode ser desembarcar em lugar algum, voltar ao ponto de partida, de onde nunca se parte realmente.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

E Kimalanga , de F. Baião, ganha o mundo

Recebi anteontem, com muita alegria, o novo livro do amigo virtual e vizinho dessa Casa, o Fernando Baião (cuja notícia publicada na Revista África 21 reproduz-se abaixo). Foi uma felicidade imensa chegar em casa e encontrar o volume, acompanhado de outro, de histórias bem escritas sobre Angola (e tudo que diz respeito a esse país interessa imenso a nós todos da Casa), depois de uma epopéia que levou uns 15 dias para atravessar o Atlântico.
Por isso, não sei como e onde (em Lisboa deve ser fácil encontrar, no Rio de Janeiro Baião informa que o livro já está à venda nas livrarias Kitabu e Leonardo da Vinci), mas se eu fosse você corria agora para comprar Kimalanga. Do que li até agora, é bwé, bwé fixe. Viva Baião!

Kimalanga, novo livro de FBaiao

Com a devida circunstância e alguma pompa, foi lançada na Casa de Angola, em Lisboa, a última obra do escritor angolano FBaião, Kimalanga, respigos da história recente de Angola, «destes trinta e três/trinta e quatro anos de independência, naquilo que esses anos têm de mais sério, de mais profundo, (…) mais “estruturante” do que somos /ou não somos/ ou fomos/ ou nunca fomos e das diversas etapas que percorremos até hoje», como diz no prefácio Carlos Ferreira (Cassé). O prefaciador vai mais longe e afirma mesmo peremptoriamente: «O Fernando Teixeira, o Baião, dá-nos um retrato literariamente implacável de um quadrante social claro da nossa Angola de hoje. Porém de uma forma tão encantada, tão sui generis, tão simples

e tão desconcertante, que o lemos de uma só penada, de um só jorro».

Utilizando um estilo coloquial que vai enriquecendo com um crescendo de informações e apartes, sem abandonar uma linha narrativa que encontra na linearidade o seu encanto, FBaião agarra realmente o leitor através da utilização de uma estrutura de texto onde o diálogo é substituído eficazmente por uma narração directa, tão dúctil como fluente, enriquecida por um fino humor que tem tanto de cáustico.

Revista África21– julho 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

Angola explica a Queda da Bastilha?

Comício político no arredores de Luanda em 2008: marchon, marchon!

Hoje, como todo mundo sabe, comemora-se a queda da Bastilha, um marco histórico da humanidade na luta contra a desigualdade social – se bem que pouca coisa mudou na terra do fromage, marriage - e da fulerage - desde que Marie Antoniette teve o pescocinho separado do colar de pérolas .

Mas eu não consegui deixar de achar surreal essa notícia abaixo, lida hoje na Angop, sobre as comemorações do 14 Juillet nas ruas de Luanda. “Audácia pura”, como diria um personagem de TV no Brasil cujo nome não lembro mais, dos organizadores. Por muito menos deboche cabecinhas coroadas rolaram “em” Europa.

Segue a notícia.

Queda da bastilha representa início da igualdade entre os cidadãos

Luanda - A queda da bastilha de França representa para o povo francês o "início do princípio" da república, baseado em valores como a igualdade, fraternidade e liberdade, considerou hoje, em Luanda, o embaixador francês em Angola, Francis Blondet.

O diplomata falava à Angop a propósito do dia nacional da França, que se comemora hoje (14 de Julho), e assinala a queda da Bastilha (que serviu como prisão do estado absolutista francês), em 1789.

Segundo o embaixador, o 14 de Julho vem afastar em França a ditadura e a monarquia absoluta contra os homens e a vontade da colectividade.

"Essa data representa o dia da libertação do povo de Paris, de modo simbólico, pois foi a 4 de Agosto do mesmo ano que se pôs fim ao sistema político, no qual uma categoria de cidadãos superava as outras", explicou.

Para a França de hoje, adiantou, o 14 de Julho é uma festa militar, com desfile do exército, inclusive estrangeiro,e este ano terá como convidado especial o da Índia.

Disse que todos os anos a efeméride é comemorada com a presença de vários chefes de Estados convidados.

Em Luanda, a data vai ser celebrada com uma cerimónia oferecida pelo embaixador da França em Angola, durante a qual vai proferir um discurso.

A bastilha foi originalmente concebida apenas para um portal de entrada ao bairro parisiense de Saint-Antoine, motivo pelo qual era denominada bastilha de Saint-Antoine, mas ficou conhecida por ter sido uma prisão e funcionou desde o início do século 17 até o final do século18.

A mesma foi derrubada a 14 de Julho de 1789.

Actualmente o local foi transformado em praça pública, onde todos os anos é apresentado um desfile militar em saudação a data.



segunda-feira, 13 de julho de 2009

Para inflar o ego dos moradores da casa

Um dos maiores fotógrafos brasileiros, Giovanni Sérgio, conheceu hoje o Casa de Luanda e, pelo visto, vai se tornar um daqueles leitores assíduos.

Eu gostaria imenso de saber por anda anda as moradoras Flávia e Migas, que abandonaram para sempre os leitores-órfãos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O mais Velho Jonas, era um homem magro, alto, carapinha toda branca, de olhar penetrante, ainda com uma dentadura alva, pois continuava a lavar os seus dentes com o seu pau esfiado e carvão bem moído, como antigamente, e ainda utilizava a sua raspadeira de alumínio, que já vinha de longe, para raspar a língua. Sempre de casaco e gravata, bom na escrita e na fala, pois era descendente de ambaquistas, da região do Lucala, homens que serviam de secretários aos sobas e reis da região, escrevendo e enviando mukandas, às autoridades coloniais sobre pedidos
e assuntos judiciais. Vestiam-se à europeia e não eram muito bem vistos pelos portugueses, pois falavam o português correctamente e muito melhor que a maioria deles, era um português erudito, aquele que eles falavam, com muitos vocábulos jurídicos e latinizados.
Ele mesmo fazia o seu matabicho, pão com manteiga e uma chávena de café, batizado co um pouco de aguardente, que o seu vizinho branco lhe tinha oferecido. Punha o seu fato preto, com a camisa branca e gravata às cores e lá ia passear pela Igreja do Carmo, descia até à Marginal. Para o mais Velho, as suas saídas eram sempre um dia de Sol, quando se sentava num banco de pedra a ver o mar, mesmo que fosse kasimbu. Depois subia a calçada para casa, passava novamente em frente à Igreja, benzia-se, cumprimentava o branco da loja dos colchões e entrava em casa, no bairro da Ingombota.
O seu vizinho branco, que andava perto dos sessenta anos, que como quase todos os brancos ricos, tinha barriga grande, muitas vezes lhe perguntava, como fazia ele para estar com oitenta anos e ainda em forma, já que era caso raro um angolano chegar a tal idade, ainda mais com todas as dificuldades que agora atravessa. O mais Velho Jonas, respondeu-lhe, que descansa muito. Disse que uma vez, leu uma crónica de um humorista brasileiro, que dizia"o exercício físico é o primeiro passo para a morte" e deu como exemplo o famoso Dorival Caymmi, letrista, compositor e cantor baiano, conhecido como o pai da preguiça, tendo vivido noventa anos.
Usava óculos mas só para ver ao perto, lia muito, nestes últimos tempos, lia mais o Pepetela, escritor que fala da nossa terra, sem grandes rasgos de intelectualidade, escrita acessível a qualquer angolano, leu uns livros do Agualusa, mas dede que ele disse que o pai da nossa Nação, era um poeta medíocre, nunca mais quis nada com as leituras desse escritor.
Detestava ler coisas de frases feitas com laivos de sabedoria e muitas citações de escritores e personagens de quem nunca tinha ouvido falar, que ele considerava ser só para se darem ares de grandes intelectuais. Apesar de não ter computador, sabia que muitas dessas menções nos livros, eram tiradas de sítios da Internet e que, rapidamente, com isso viravam eruditos.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Exatamente um ano atrás, no dia 08 de julho...

"Aqui tem cacimbo quente", primeira frase lida em Luanda

... eu recebia a notícia de que iria embarcar para Luanda no dia seguinte;

... eu tentava fechar as minhas três malas e levar nelas o suficiente para começar uma nova vida;

... eu encerrava o desmonte de um apartamento em menos de uma semana e não fazia a menor idéia de onde iria morar - até chegar a uma guest-house no Município das Ingombotas;

... eu deixava para trás uma vida oito anos de trabalho, amores e amizades numa das maiores cidades do mundo para viver em Luanda;

... eu deixava escorrer uma lágrima solitária na cabeceira da pista de Congonhas por São Paulo, com medo de nunca mais voltar a morar na terra da Garoa;

... eu constatava que o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, é um ensaio primeiro de paciência para Luanda, com sua escadas rolantes e elevadores todos quebrados;

... eu atravessava o Atlântico ao lado de uma simpática angolana, que me deixou a par de muitas coisas, inclusive o que se passava no folclórico voo da Taag;

... eu conhecia Filomena, esposa do escritor Pepetela, que me disse "vais conhecer um pouco da nossa bagunça";

... eu avistava as luzes da Ilha de Luanda, muito pálidas em meio ao céu de cacimbo, por volta das 05  da manhã, antes de aterrissar no aeroporto 4 de Fevereiro; e não fazia ideia de que naquela língua de terra acontece tanta coisa boa...

... eu não acreditava que realmente estivesse na África, do outro lado do mar;

... eu era abandonado num saguão de aeroporto com uma bagagem de mais de 70 quilos por mais de cinco horas, morto de sono, cambaleante, podre de cansaço;

... eu lia a expressão "Aqui tem cacimbo quente" numa publicidade pregada na porta do quarto que me foi dado para dormir, e pela primeira vez percebi que não entendia o que estava escrito na minha própria língua;

... eu começava uma nova vida que só durou seis meses, tempo que passou numa intensidade de 24 horas, as mesmas vividas no distante 08 de julho de 2008 e hoje relembradas com saudades.

domingo, 5 de julho de 2009

Angola na FIA e CAN2010


Terminou hoje – domingo, 5 de Julho - a Feira internacional do artesanato - FIA2009.

A visita vale sempre pelo prazer da descoberta de peculiaridades na diversidade das manifestações culturais de diversas regiões do mundo que aqui se fazem representar. Cores, músicas, cheiros, sabores e diferentes falas deixam também no ar indícios de diferentes identidades.


De Angola, poucas noticias a registar. Uma amálgama de produções estilizadas reunidas num espaço sem interlocutor marcava a primazia do famoso pau preto na produção de estátuas e máscaras. Senti no ar a intenção primeira de procurar satisfazer a demanda pela estética exótica, esse mundo procurado por alguns turistas. É legítimo para os artesãos.




Já a África do Sul, num espaço vestido com trabalhos têxteis manufacturados lindíssimos, produções em cerâmica, madeira, arame e muita missanga colorida, deu-se a conhecer de uma forma simples mas interessante. A condizer com a decoração do espaço, havia a simpatia de mulheres sul africanas que atendiam todos os visitantes quase cantando preços em inglês. Num sotaque muito próprio daquela região africana.

À disposição de todos, foi colocado um pequeno Guia de Viagem, a pensar no Mundial de 2010.




Informações essenciais para quem quiser viajar para esta Nação Arco-íris, como foi chamada por Desmond Tutu, e oferta de um mini roteiro turístico sobre as cidades que vão receber os adeptos do futebol.