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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Hoje não estou para ninguém, sim?

Então e vocês perguntam: migas, Portugal perdeu e tal... Estás de trombinhas? Sim. Enormes trombas. Ontem deu-me para ir ver o jogo fora de casa e pasmem-se: ver-o-jogo. Sim, até agora, porque trabalho (wow, juras migas?) e pronto também não sou nenhuma doente pela bola, nem pela selecção nem por nada dessas coisas chamadas “desporto”, sobretudo relacionadas com gajos que correm atrás de uma bola, decidi que sair a meio da tarde para “ir ver o jogo” seria, no meu caso ir dormir para o sofá e fazer de conta que vi o jogo. Por isso, de modos que ontem, eu vi Portugal a jogar pela primeira vez. E, se me virem por aí a ver jogos da selecção ou entre clubes, (vá, o FCP sou capaz de ver sozinha uma vez por época), trata-se de uma coisa chamada “solidariedade feminina”. Mas, e agora perguntam: então e porquê de trombinhas??? Já que eu ligo “tanto” ao jogo da selecção. Porque pronto, vi uns cabrões a assaltarem-me o carro. Mesmo dentro do carro. Eu nem queria acreditar mas sim, era verdade. Estavam lá uns mafiosos que claro, para lá entrarem tiveram de fazer aquele truque espectacular* que é estragarem a fechadura para... tcharan... levarem... nada. Não tinha nada para roubar. É chato, eu sei. Fosse eu aparecer a entrar no meu carro naquela altura, e ainda levava um enxerto de porrada só para não me armar e não deixar algo aos homens que coitados, andam a trabalhar e precisam de receber um mambo qualquer. Vá lá que não lhes deu para cagar lá dentro, como uns que assaltaram a casa de um colega e que decidiram que era de bom tom, já que levavam umas cenitas dele, deixarem-lhe uma “lembrança”, no meio do chão da sala. Amorosos. E pronto, era isto. Agora já pedi para arranjarem a fechadura porque neste momento, a porta ficou mesmo fixe que nem fecha mas, baixou em mim uma dúvida, que me inquieta: e deixá-la assim? Era ou não era de mestre?

*Até eu fazia melhor com um cordão das sapatilhas. Sim, tenho cara de sonsa mas genes de MacGyver...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Semana de Reportagem na Casa de Luanda

Não tinha como não postar esta reportagem, publicada hj na Folha de São Paulo. Fiquei triste pela África toda.

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A EKURHULENI

Ne semana da abertura da Copa, a África do Sul viu ontem o primeiro grave incidente ligado ao torneio: ao menos 15 pessoas ficaram feridas e foram hospitalizadas devido a uma confusão antes do amistoso preparatório entre Coreia do Norte e Nigéria.
O tumulto ocorreu em uma sede oficial da Fifa para treinos, o estádio Makhulong, na pobre comunidade de Tembisa, no município de Ekurhuleni, próximo a Johannesburgo. É uma arena com 12 mil lugares, onde os norte-coreanos treinam.
A distribuição de ingressos gratuitos para a partida, o efetivo insuficiente de seguranças e as instalações precárias da arena contribuíram para o problema. Um policial sofreu ferimentos mais graves e outras 14 pessoas tiveram machucados leves.
Pouco antes da partida, a polícia fechou um portão do estádio por temer superlotação. Torcedores com e sem ingressos começaram a forçar a passagem pelo local e a polícia tentou contê-los, o que gerou um confronto.
Em menor número, os policiais tiveram que abrir o portão. Nesse momento, pessoas foram pisoteadas e um policial ficou preso entre o portão e a parede.
Houve mais feridos leves, incluindo crianças, mas só 15 foram levados aos hospitais.
Apesar do incidente, o jogo ocorreu sem pausa até o início do segundo tempo, quando caiu uma grade.
Não houve feridos, mas a partida foi paralisada por dez minutos, para que a polícia realocasse os torcedores.
"Nós subestimamos a quantidade de público", reconheceu o representante da confederação sul-africana Steve Godard. A massa de nigerianos não deveria ter sido surpresa. Tembisa tem forte presença de pessoas do país, como relataram torcedores no estádio. Na África do Sul, a comunidade é de 50 mil legais e inúmeros ilegais.
Foi a federação nigeriana de futebol quem decidiu distribuir ingressos gratuitos. Mas seus representantes se eximiram de culpa pelo episódio ao dizer que havia muita gente querendo ir ao jogo. E reclamaram de não ter estádio maior para o amistoso.
"Temos que investigar essas doações de ingressos", ressaltou o porta-voz da polícia Eugene Opperman.
Mas ele também reconheceu que só houve reforço de policiais após o incidente -uma empresa privada também fazia a segurança.
A Fifa e o comitê organizador se isentaram de culpa, pois a partida "não faz parte da operação da Copa-2010" e as entidades não cuidaram da distribuição de ingressos.
Mas foi a Fifa quem deu o aval para o estádio ser uma sede de treinos do Mundial.
Reformada por R$ 9 milhões, a arena ficou bem diferente do projeto original, que está disponível no site da Prefeitura de Ekurhuleni.
Entre as deficiências do estádio Makhulong está a falta de cadeiras numeradas no local, o que dificulta determinar quando o estádio atingiu sua lotação máxima.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

No dia em que Luanda mudou para mim

Acabo de ler este post do Miguel. E ainda estou nervosa, só de o ler. Com aquela sensação que se tem quando se vê um filme de suspense ou, no meu caso, também antes dos testes na escola. Pela primeira vez aqui no blog decidi também falar da experiência que vivi, quase há um ano. Na altura, achei por bem não escrever nenhum post. Não por mim, por não querer recordar. Mas pelas vozes dos merdosos que eu sei que iam aparecer a perguntar se no meu país também não há assaltos e blá blá blá pardais ao ninho. E eu, sinceramente, não tenho pachorra para gente estúpida. Porque haver há. Eu é que em 30 anos de existência, nunca vivenciei nenhum. Em Portugal ou nos países para onde viajei. Nem ninguém da minha família ou amigos. E também não moro propriamente em Carrazeda de Ansiães. O mesmo já não posso dizer dos amigos/colegas que vivem em Luanda. Mas, adiante. Quando fui assaltada, ia sozinha. Ia ter com uns amigos para jantar. Estacionei ao lado do restaurante, também na ilha. A partir daí foi o inferno. Os parvalhões - dois - não iam armados. Ou pelo menos, eu não vi nada. Até porque, dois matulões, visivelmente alterados com álcool ou drogas, não precisam de grande ginástica para me assaltarem. O problema é que eles não disseram nada. Não pediram nada. Um avançou logo a enrolar-me o braço no pescoço, a tapar-me também a boca e o outro, a procurar pelo que podia. E eu, esperneei, gritei porque sinceramente não pensei que aquela merda fosse só um assalto. E resisti. Muito. Já no meio do chão, abri a mão e dei-lhes o telemóvel que levava. A perda foi só essa. "SÓ". Ainda perguntaram se eu tinha mais alguma coisa e eu, com um sangue-frio inimaginável disse que não, sentada no meio do chão, e com o dinheiro no bolso de trás. Fiquei toda dorida nos dias que se seguiram, pescoço e orelhas inchadíssimas e um pé arranhado. Os camaradas à volta, que acham que controlam os nossos carros, nada. Só olhavam, talvez tão assustados como eu, não fosse a seguir chover também para eles. E pronto, depois disto a minha vida em Luanda, nunca mais foi a mesma. E agora, quando me perguntam qual é, para mim, o pior problema de Luanda, eu respondo: a segurança. Esta não foi a única situação de perigo. Tive outra, há poucos meses. Outro parvalhão, desta vez com um faca. E eu, em pânico (e feita estúpida), voltei a resistir mesmo depois do primeiro episódio me ter mentalizado que jamais resistiria novamente. Mas não. Desta vez pirei-me virada de costas para ele. O que é sempre bom quando o gajo que vem atrás de nós tem uma faca na mão. O que me safou é que aquele era um bandido ingénuo, um baby-bandido, e seguiu a vida dele quando viu que eu ia dar trabalho. Não fui feita para ser assaltada, está visto. Esta última, ainda por cima, foi num fim de tarde no regresso a casa depois de ter tido um acidente de carro, também o mais violento nos meus 30 anos de existência (culpa do outro que bateu por trás a uns, sei lá, 80km/hora), naquela "autoestrada" ali para os lados da Corimba. Já em casa, lembrei-me do que um amigo me tinha dito depois do outro assalto. "Nunca acontecem dois azares no mesmo dia". Pois. Parece que em Luanda tudo pode acontecer.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tiros em Luanda

A rua onde moramos amanheceu movimentada hoje. Logo às 8h, o guarda de uma das casas abriu fogo. Foram dois ou três tiros de pistola, seguidos por uma rajada de AK 47. Como se tratasse de casa de um general das Forças Armadas Angolanas, atualmente também deputado, em poucos minutos o bairro estava cheio de unimogues da Polícia Nacional.

Os policiais cercaram a casa, mas ninguém ousava entrar. Dali a pouco chegaram quatro motocicletas dos Ninjas, a Polícia de Intervenção Rápida, uma espécie de Bope da meganha angolana. Do lado de fora, as aspostas corriam soltas.

- Vão lhe passar. Este gajo não tem chances - diziam alguns colegas que fazem seguranças em outras casas.
- Eh quê? Vão apenas lhe prender. Vai apanhar um bocado, mas depois lhe soltam. Essas empresas são todas de generais. Então o quê?
- E não entram por quê esses polícias?
- Ehehe, estão mesmo a suar com medo do gajo.
- Nem vale à pena. Ele fez muito tiro, não deve ter mais munição.

As armas, diziam os colegas, pertenciam ao dono da casa, o tal general. Tentei saber o motivo da atitude do proteção pistoleiro. Estaria bêbado ou o quê?

- É assim, chefe. É muita frustração. Nós estamos aqui a trabalhar, não nos pagam. O Natal está a chegar e não temos dinheiro. Não veio salário, não veio décimo-terceiro, não veio nem um cabaz, chefe. É muita revolta mesmo.

Depois de meia hora, um Ninja mais corajoso entrou no quintal da casa. Saiu cinco minutos depois arrastando o proteção rendido pelo colarinho. Na mão esquerda, o Ninja carregava o AK 47. O proteção foi levado. Vai passar o Natal, sem cabaz nem dinheiro, na cadeia.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Só um parêntesis...

E pronto, deixei cair a minha capa de super-mulher. Hei-de recuperá-la mas, nos próximos tempos confesso que vou andar com o chamado “medinho”. Pois é, após 2 anos de Luanda, de Cazenga e de Mulemba. Depois de Boavista e porto pesqueiro, com tudo de mau e podre que se pode imaginar. Depois de deixar admirados alguns homens, por andar de carro sozinha em certos sítios considerados perigosos e para onde eles não iam sozinhos. Depois de ter noção que andava com uma sorte do caneco. Eis que sofri a minha primeira tentativa de assalto, em plena cidade, às 10h da manhã. No meio do trânsito confuso de uma rotunda. Com dezenas de carros à minha volta, a escolhida fui eu. O método foi o mesmo que o F. descreveu à uns tempos. Com o portátil e a carteira no chão do carro. Com o telemóvel ali ao lado. Com o relógio no braço esquerdo e o anel na mão esquerda. O bandido deve ter ficado atordoado. Frustrado. Confuso. Deve ter pensado que perdera as suas capacidades de persuasão. Ou então, a cara de mau. Depois de tentar abrir a porta e dar alguns murros no vidro. Depois de abrir o casaco, para mostrar sei lá eu o quê. Depois de dizer “dá tudo o que tens”. O que fez a garota? Ignorou. Olhou para ele com cara de paisagem. Por sorte não abriu uma nesga de vidro e disse: quê? Ou então: vai lá à tua vidinha e deixa-me ir à minha, que já se faz tarde. Ou ainda: sai do meio da estrada que ainda te atropelam, pá. E porquê que a garota fez isto? Porque não sabia que um assalto era assim. Porque só depois juntou as situações. Murros no vidro – mostrar casaco – dá tudo o que tens. Tudo isso só fez sentido, depois. Quando já tinha saído do meio da confusão. Quando percebi que tinha escapado a um assalto, graças à minha cara de ai-não-me-chateies-que-hoje-é-sexta-feira-e-eu-ando-bué-cansada. Aí, a capa de super-mulher caiu e as lágrimas saltaram. Aí, desejei estar em casa. Na minha casa, em Portugal.

A programação segue dentro de momentos. Preciso pensar e olhar para coisas bonitas e esquecer esta m*rda de manhã. Vamos lá fechar o parêntesis e continuar com a viagem ao Uíge.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Momento de Tensão

O enorme jipe tenta estacionar em 45 graus numa vaga em que sua largura não cabe e, com isso, pára o trânsito da Major Kanhangulo, na Baixa, quase em frente à ONU, às 10h30.

Dois carros nos separam do que está a manobrar. Todos irritados com a demora, a buzinar, quando um rapaz trajando camisa azul para fora das calças, mochila nas costas e boné na cabeça se aproxima do carro à nossa frente.

Eu e o A., do Diário da África, assistimos a cena toda. O rapaz começa a esmurrar a porta, o vidro. Ameaça tirar uma arma da cintura. A moça ao volante do carro se assusta, deita para o lado, mas não abre a porta. O gatuno está nervoso, ela também. Não sei se é intencional, mas ela acelera o carro e bate na traseira da caminhonete que estava parada à frente.

Foi o que a salvou. Os dois ocupantes da caminhonete saltaram para ver o estrago - que, afinal, não aconteceu - e o gatuno resolveu fugir. Saiu caminhando calmamente e passou bem ao lado do meu vidro, como se nada tivesse acontecido.

Se fosse no Brasil
Seria pior, eu sei. Ele jamais teria tentado uma assalto desse tipo se não estivesse verdadeiramente armado. E a resistência dela teria resultado em disparos e a provável morte da vítima. Mas, não se iludam, caros angolanos: é para lá que Luanda caminha se as autoridades continuarem a fechar os olhos a fingir que a criminalidade não existe.

domingo, 5 de outubro de 2008

A despedida de Greg

Ilha do Cabo, Luanda . Foto de Greg Salibian

Cota 50 era o único angolano naquele encontro de brasileiros e deu o tom do que sentia, assim que me cumprimentou, com o seguinte relato:

– Quando eu era prisioneiro dos portugueses, durante a guerra colonial, o que eu mais sofria era com as despedidas. Os soldados vinham do Tuga fazer a tropa aqui, nós formávamos grandes amizades, mas depois de um ano eles voltavam deixando uma saudades do caraças.

Aquela reunião era a despedida de um grande amigo não só do Cota, mas de todos nós. Enquanto escrevo este texto, o fotógrafo Greg Salibian atravessa o Atlântico com destino ao Rio. Bilhete só de ida.

Quando o assaltaram há duas semanas, os gatunos levaram, junto com lentes e flashes, a liberdade de Greg trabalhar. A empresa que o contratou considerou importar equipamento novo dos Estados Unidos, mas isso demoraria mais do que o tempo que Greg ainda tinha para ficar em Angola. Seu contrato era de três meses e terminaria em novembro.

Assim, decidiram indenizá-lo em dinheiro, pagar o mês que faltava, e lhe dar o bilhete de volta mais cedo. Um final feliz para o caso do assalto, mas triste para todos os que com ele conviviam por aqui. Em apenas dois meses, Greg aprendeu a enxergar uma beleza angolana que a maioria de nós leva muito mais tempo para perceber.

Em homenagem, esta Casa realizará esta semana uma exposição de imagens que ele deixou antes de partir. E continuará, claro, com as portas abertas para que ele continue a publicar, sempre que quiser, as saudades que vai sentir de Angola.

sábado, 20 de setembro de 2008

Sobre "por quês" e "ses"

Logo depois que o susto baixa, a sensação de impotência lhe invade com um pensamento místico de que você poderia ter evitado tudo. Estava nas suas mãos. A primeira fase é a dos "por ques":

Por que o carro não estava lá, parado na porta, para nos levar depois do fim do expediente?

Por que nós não ficamos a espera do carro dentro do saguão iluminado e protegido do prédio?

Por que carregávamos nossas pastas com nossos portáteis pessoais e todo o equipamento fotográfico pessoal do Greg?

Por que, ao ver passando por nós os dois homens que à partida julguei estranhos, não sugeri que recuássemos da rua para o saguão do prédio?

Por quê?

A fase seguinte do pensamento místico é aquela em que você imagina que poderia ter mudado o desfecho "se" tivesse tomado atitudes diferentes:

E se eu tivesse reagido?

E se eu tivesse ficado ao lado do Greg em lugar de correr quando vi as pistolas apontadas na direção dele?

E se, ao correr, eu tivesse gritado por socorro? Alguém teria acudido?

E se, ao ver os dois homens caminhando calmamente com a mochila do Greg nas costas, eu tivesse corrido atrás deles fazendo alarde no meio da rua movimentada?

Nada disso eu fiz, paralisado pelo susto. Ainda pedi ajuda aos donos da venda que fica no térreo do prédio, mas ninguém se arriscou a tomar atitude. Eu olhei para fora e vi meu amigo Greg voltando desolado para dentro do prédio.

Ele acabara de perder todo seu equipamento fotográfico num assalto à mão armada, às 19h30 da sexta-feira, 19 de setembro, em plena Rua Rei Katyavala, região central de Luanda.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vida de Proteção

António pegou no batente às 8h de domingo. Deveria ter sido rendido por outro Proteção às 17h, mas o colega não apareceu. Ontem à noite, quando chegamos em casa, ele continuava lá, vigilante.

Agora pouco, já depois das 8h - hora em que deveria ter chegado outra rendição - António continuava lá. A P. fez uma sandes de queijo e foi perguntar a ele, afinal, quando seria substituído.

Ele não sabia. E estava a receber as refeições pelas quais, conforme reza o contrato, a empresa que o contrata é responsável?

Não. A empresa dá dinheiro para que eles comprem as refeições. Como ele achou que ia passar apenas o dia de domingo no posto, não levou dinheiro, porque poderia comer à noite em casa.

Aí a rendição não apareceu e ele ficou 24 horas sem comer e sem nos dizer nada.

É dura a vida de Proteção.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Violência calada

O tema da violência é um tabu em qualquer lugar do mundo. Quando toco no assunto por aqui, sou logo desautorizado pelo argumento incontestável: "Desculpa lá, mas tu como brasileiro não tem nenhuma autoridade para reclamar disto". É verdade. As grandes cidades brasileiras são muito mais violentas do que Luanda.

O que não quer dizer que aqui seja o paraíso.

Hoje li no blog da Menina de Angola um relato sobre fatos muito tristes que aconteceram com duas brasileiras e que estão sendo escondidos pela mídia e pela comunidade brasileira.

Não se trata de fazer alarmismos, mas recomendo a leitura porque temos o direito de saber o risco a que estamos sujeitos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Roubar e não poder carregar...

Fernando tocou no assunto dos assaltos e lembrei que outro dia a cozinheira de uma amiga faltou ao trabalho por dois dias seguidos. Estranho, dona M. não era daquilo! Minha amiga foi investigar e ouviu a horrível história que se segue:

M. mora numa casa simples, nas proximidades do Largo da Gamek, região de Luanda Sul. Uma noite, um bando tomou de assalto a rua, tocando o terror na vizinhança. Armados com fuzis, pistolas e metralhadoras, os bandidos invadiram casas, espancaram moradores e roubaram tudo. O que podiam e o que não podiam carregar.

Para solucionar a falta de braços, seqüestraram alguns moradores e os obrigaram a carregar os próprios pertences que estavam sendo roubados.

O filho de M., de apenas 8 anos, foi um dos escalados para ajudar os bandidos. Fizeram a criança andar até o Benfica, muito distante dali, e depois a largaram sozinha lá.

O miúdo não sabia voltar para casa e vagou por dois dias sozinho, até que uma boa alma o ajudasse a reencontrar a mãe.