Tenho vindo a tentar lembrar-me do apelido que lhe davam mas, não há forma de me lembrar. O nome era Samuel. Passado uns tempos quis que o chamassem de Anselmo. Como o Ralph, o cantor. Andava vestido à estrela e aparecia com óculos de sol igualmente... à estrela. Cheguei a mandá-lo apertar a camisa e tirar os óculos de sol pois o trabalho, não era nenhuma passerele. Mas ele, vaidoso e com a mania de que era gato, andava sempre no limite. Os colegas contavam-me que levava o envelope com o ordenado fechado e só o abria em frente à garota dele. Caso raro por estes lados. No entanto, chegava ao cúmulo de não ter dinheiro para o táxi, ter o ordenado dentro do envelope e pedir aos colegas dinheiro emprestado para o táxi, não fosse a garota dele perceber que faltava dinheiro no envelope. Caso mais raro ainda, por estes lados. Nunca conheci a garota dele e, depois de todas estas histórias não percebo se ela era uma Big Mama e ele corria o risco de levar duas chapadas e tombar com alguma coisa partida ou, sei lá, se ele era simplemente fofo com a sua amada. Certo dia, a discussão com os colegas era sobre a mobília da casa. Ela é que ia escolher. Os outros, contra, está claro. Onde já se viu a mulher escolher. Ele é que tem de ir comprar, já que ele é que vai pagar. Ele, com a teoria de que vão os dois escolher e que assim é que deve ser. Os outros, respondiam que assim ela ia habituar-se mal, ele é que pagava e escolhia. Caso arrumado. Tinham todos mais ou menos a mesma idade. Todos menos de 30 anos. Quando o Anselmo Ralph percebeu que não conseguia levar a melhor, pergunta-me. Como faria eu? Respondi que escolhia, junto com o meu querido. Assim é que eu achava correcto, já que viveríamos os dois na mesma casa. O Anselmo, radiante ouviu logo como resposta da oposição: mas ela é branca. A tua namorada não é branca. Por isso, não compara. Neste caso, como em tantos outros, à falta de argumentos, prevalece o sempre indiscutível e espectacular argumento da cor da pele.
Uma bailarina de peso
Há 4 dias
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