"Aqui tem cacimbo quente", primeira frase lida em Luanda
... eu recebia a notícia de que iria embarcar para Luanda no dia seguinte;
... eu tentava fechar as minhas três malas e levar nelas o suficiente para começar uma nova vida;
... eu encerrava o desmonte de um apartamento em menos de uma semana e não fazia a menor idéia de onde iria morar - até chegar a uma guest-house no Município das Ingombotas;
... eu deixava para trás uma vida oito anos de trabalho, amores e amizades numa das maiores cidades do mundo para viver em Luanda;
... eu atravessava o Atlântico ao lado de uma simpática angolana, que me deixou a par de muitas coisas, inclusive o que se passava no folclórico voo da Taag;
... eu conhecia Filomena, esposa do escritor Pepetela, que me disse "vais conhecer um pouco da nossa bagunça";
... eu tentava fechar as minhas três malas e levar nelas o suficiente para começar uma nova vida;
... eu encerrava o desmonte de um apartamento em menos de uma semana e não fazia a menor idéia de onde iria morar - até chegar a uma guest-house no Município das Ingombotas;
... eu deixava para trás uma vida oito anos de trabalho, amores e amizades numa das maiores cidades do mundo para viver em Luanda;
... eu deixava escorrer uma lágrima solitária na cabeceira da pista de Congonhas por São Paulo, com medo de nunca mais voltar a morar na terra da Garoa;
... eu constatava que o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, é um ensaio primeiro de paciência para Luanda, com sua escadas rolantes e elevadores todos quebrados;
... eu atravessava o Atlântico ao lado de uma simpática angolana, que me deixou a par de muitas coisas, inclusive o que se passava no folclórico voo da Taag;
... eu conhecia Filomena, esposa do escritor Pepetela, que me disse "vais conhecer um pouco da nossa bagunça";
... eu avistava as luzes da Ilha de Luanda, muito pálidas em meio ao céu de cacimbo, por volta das 05 da manhã, antes de aterrissar no aeroporto 4 de Fevereiro; e não fazia ideia de que naquela língua de terra acontece tanta coisa boa...
... eu não acreditava que realmente estivesse na África, do outro lado do mar;
... eu era abandonado num saguão de aeroporto com uma bagagem de mais de 70 quilos por mais de cinco horas, morto de sono, cambaleante, podre de cansaço;
... eu lia a expressão "Aqui tem cacimbo quente" numa publicidade pregada na porta do quarto que me foi dado para dormir, e pela primeira vez percebi que não entendia o que estava escrito na minha própria língua;
... eu começava uma nova vida que só durou seis meses, tempo que passou numa intensidade de 24 horas, as mesmas vividas no distante 08 de julho de 2008 e hoje relembradas com saudades.
7 comentários:
Lembrei-me das fitas e dos plásticos com os quais enrolamos aquilo que era teu e que deixavas para trás. E da cara de espanto que fiz quando vi o apartamento, sempre cheio, agora vazio.
A vida é essa perplexidade de idas e vindas que deixam para a gente muita coisa - e principalmente belas histórias para contar.
Um abraço
CACO
é, X de xuxu, três semanas depois fui eu. no mesmo esquema louco, na mesma correria, no mesmo improviso.
e a vida mudou pra sempre.
Luanda tem fome, miséria, menino de rua,falta a luz e a água, tem buracos e trânsito infernal. Mas quem não gosta de Luanda, tem coisas lindas, praias, pôr-de-Sol maravilhoso, bons kitutes e , especialmente, um Povo heróico e generoso.
é X, tá na hora de vc voltar, rs. Vc não faz idéia da lua que está fazendo essa semana. Ainda mais se vc estiver em cabo ledo, a noite virou dia...
Menina de Angola,
A lua do lado de cá também tem nascido gigantesca, de dentro do mar, parecendo que vai engolir tudo.
X
6 meses que passou em Luanda, uau. Parece que quanto menor a estadia maiores se tornam as saudades. De qualquer modo parabéns por esse heroico episódio, que é ficar 6 meses em Luanda.
Na manhã desse mesmo dia eu acordava ansioso pela chegada do amigo que já conhecia e que por coincidências do destino foi parar na mesma Luanda em que eu estava, no mesmo ano em que eu lá vivia, no mesmo projeto ao qual eu casualmente me integrara... Coincidências pra uma existência inteira, X.
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