quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Pra matar a saudades do sotaque...
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Pequena galeria de saudades d'Angola
domingo, 13 de setembro de 2009
Mutamba, Mutamba, vai Mutamba, Mutamba...
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Diante da dor dos outros - há 9 anos

quarta-feira, 9 de setembro de 2009
pobres dos nossos ricos
é que em vez de produzir riqueza,
produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los
não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente
tem dinheiro. ou que pensa que
tem.
Porque, na realidade, o dinheiro é
que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados
pobres os nossos “ricos”.
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é
propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados
usufruir em tranquilidade
de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser
roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam
por lançá-los a eles próprios na
cadeia.
Necessitavam de uma ordem social
em que houvesse poucas razões para
a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças
a essa mesma desordem (...)
MIA COUTO
Para quem deseja passar férias no Brasil

Olhaí, para quem, a partir da Tuga, quer conhecer ou voltar a visitar o Brasil até março. TAP com preços "óptimos", pelo menos na vinda! Não, a Casa de Luanda não tem o patrocínio da TAP. O post é só dica de amigo.
TAP faz promoção de voo a 359 euros para o Brasil | |
Os turistas portugueses poderão voltar intensamente a viajar para o Nordeste brasileiro, destino que está caindo na preferência lusitana. É que uma grande promoção oferecendo tarifas reduzidas para o Brasil está sendo preparada pela TAP. Os voos de Lisboa e Porto para todos os aeroportos brasileiros custarão 359 euros, para a vinda, com todas as taxas incluídas. A campanha é válida para viagens entre 01 de Novembro e 31 de março de 2010, reservadas até 30 de setembro. |
terça-feira, 8 de setembro de 2009
E por falar em Baião...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O dia em que Maysa cantou em Angola
No final daquele ano, ainda em Lisboa, Maysa foi convidada para uma experiência inédita em sua carreira: cantar na África acompanhada do Thilo’s Combo, o grupo musical lusitano que estava fazendo uma revolução musical na terra do fado, agregando elementos do jazz e da Bossa Nova às sonoridades locais. O cachê não era lá grande coisa, mas ela não estava em condições de exigir seu peso em ouro. Durante um mês, de meados de janeiro até a segunda quinzena de fevereiro de 1969, enfrentaria uma maratona de shows em boates, teatros e clubes de Angola. “Em breve, teremos a magnífica cançonetista que o Brasil perdeu”, festejou o jornal angolano O Comércio.
Ao descer do avião da tap em Luanda e ser indagada sobre o que esperava do público africano, foi bem sincera: “Não tenho a mínima idéia. Não conheço a África nem sei muito sobre o seu povo”. A respeito disso, Maysa calculou que ela e os africanos estariam mais ou menos empatados. Eles também não deveriam saber nada sobre aquela cantora brasileira que colocava os pés pela primeira vez no continente. A desconfiança cresceu quando, ainda no aeroporto, precisou explicar a um jornalista do Diário de Luanda que os estilos da Bossa Nova e do iê-iê-iê, dos quais ele ouvira falar vagamente, não tinham nada a ver um com o outro.
Mas o repórter é que estava mal informado. Por força da influência econômica e cultural da metrópole sobre a colônia – Angola só conquistaria a independência de Portugal seis anos depois, em 1975 – os luandenses sabiam, sim, quem era Maysa. Tanto que, duas semanas antes da chegada, ela era capa da revista Notícia, principal publicação do país e que vivia sob a mira da rígida censura angolana. “Maysa vem a Luanda”, dizia a chamada. Lá dentro, uma entrevista feita pela jornalista Edite Soeiro, a primeira mulher a exercer a profissão no país, constantemente convocada para prestar esclarecimentos aos censores, por causa dos textos que escrevia e das calças compridas que teimava em usar.
Edite entrevistou a cantora em Lisboa, quando a turnê em Angola foi confirmada. Sem dúvida, as duas se entenderam bem, pois a conversa rendeu oito páginas da revista. Incentivada pela jornalista, Maysa soltou o verbo: “Canto para botar pra fora o que tenho dentro de mim. Explico: ‘Botar pra fora’ é uma expressão feia, mas que se usa muito lá no Brasil. Tudo bem, posso substituí-la por outra, mais fácil de entender por aqui: vomitar. Canto para vomitar todas as coisas que estão em mim, que me saem pelos olhos, pelos dedos, pela boca”.
Se soubesse da repercussão que teria a turnê no país, em vez de providenciar uma mala extra para guardar recortes de jornal, Maysa teria levado a Angola um contêiner. Depois de cantar com casa cheia no Cine Avis, de Luanda, viajou 740 quilômetros ao sul, por terra, até chegar em Lobito, onde se apresentou em outro cinema apinhado de gente, o Flamingo. O sucesso foi tão grande que os luandenses mandaram-na chamar de volta, agora para atuar em um cine ao ar livre, na periferia da cidade. O N’Gola, que cobrava preços populares, transbordou de gente que queria ver Maysa. “A seu jeito, o público do N’Gola é exigente. Assobia, pateia e grita quando não gosta do que está vendo”, advertiu o jornal O Comércio. “Esperamos que o subúrbio compareça em força neste encontro que o porá frente a frente com um dos expoentes máximos da canção brasileira”.
Maysa gelou. Temeu que se repetissem ali as cenas do Maracanãzinho e se preparou para o pior. Mas foi aplaudida calorosamente. “A assistência entusiasmada obrigou-a a ficar um pouco mais e a aplaudiu de pé, fato inédito naquela casa de espetáculo suburbana”, registrou a revista Noite e Dia, de Luanda. Maysa ficou sensibilizada ao ver que, ao contrário do que ocorria com o público dos festivais no Brasil e das boates de luxo de Copacabana, os freqüentadores do cine N’Gola, mais habituados a assistir a comédias pastelões e filmes baratos de capa-e-espada, faziam um respeitoso silêncio enquanto ela cantava. “Se é verdade que a cidade gostou de Maysa, a cançonetista parece ter-se deixado enamorar pela cidade”, disse o Diário de Luanda na edição de 12 de janeiro de 1969, dia da sua última apresentação no país. “O adeus desta noite poderá significar apenas um até breve. Oxalá assim aconteça”, desejou o jornal.
Contudo, Maysa nunca mais voltaria à África. Não só isso. Até mesmo seus dias de Europa estavam contados. Ela só retornaria a Madri rapidamente, para cobrir os móveis de casa com lençóis brancos. Por obra do acaso, um encontro que tivera em Lisboa, antes da viagem a Angola, seria responsável por mais uma reviravolta em sua vida.
Lyra Neto, in Maysa, Só Numa Multidão de Amores, Ed. Globo, São Paulo, 2007