Acabo de ler este post do Miguel. E ainda estou nervosa, só de o ler. Com aquela sensação que se tem quando se vê um filme de suspense ou, no meu caso, também antes dos testes na escola. Pela primeira vez aqui no blog decidi também falar da experiência que vivi, quase há um ano. Na altura, achei por bem não escrever nenhum post. Não por mim, por não querer recordar. Mas pelas vozes dos merdosos que eu sei que iam aparecer a perguntar se no meu país também não há assaltos e blá blá blá pardais ao ninho. E eu, sinceramente, não tenho pachorra para gente estúpida. Porque haver há. Eu é que em 30 anos de existência, nunca vivenciei nenhum. Em Portugal ou nos países para onde viajei. Nem ninguém da minha família ou amigos. E também não moro propriamente em Carrazeda de Ansiães. O mesmo já não posso dizer dos amigos/colegas que vivem em Luanda. Mas, adiante. Quando fui assaltada, ia sozinha. Ia ter com uns amigos para jantar. Estacionei ao lado do restaurante, também na ilha. A partir daí foi o inferno. Os parvalhões - dois - não iam armados. Ou pelo menos, eu não vi nada. Até porque, dois matulões, visivelmente alterados com álcool ou drogas, não precisam de grande ginástica para me assaltarem. O problema é que eles não disseram nada. Não pediram nada. Um avançou logo a enrolar-me o braço no pescoço, a tapar-me também a boca e o outro, a procurar pelo que podia. E eu, esperneei, gritei porque sinceramente não pensei que aquela merda fosse só um assalto. E resisti. Muito. Já no meio do chão, abri a mão e dei-lhes o telemóvel que levava. A perda foi só essa. "SÓ". Ainda perguntaram se eu tinha mais alguma coisa e eu, com um sangue-frio inimaginável disse que não, sentada no meio do chão, e com o dinheiro no bolso de trás. Fiquei toda dorida nos dias que se seguiram, pescoço e orelhas inchadíssimas e um pé arranhado. Os camaradas à volta, que acham que controlam os nossos carros, nada. Só olhavam, talvez tão assustados como eu, não fosse a seguir chover também para eles. E pronto, depois disto a minha vida em Luanda, nunca mais foi a mesma. E agora, quando me perguntam qual é, para mim, o pior problema de Luanda, eu respondo: a segurança. Esta não foi a única situação de perigo. Tive outra, há poucos meses. Outro parvalhão, desta vez com um faca. E eu, em pânico (e feita estúpida), voltei a resistir mesmo depois do primeiro episódio me ter mentalizado que jamais resistiria novamente. Mas não. Desta vez pirei-me virada de costas para ele. O que é sempre bom quando o gajo que vem atrás de nós tem uma faca na mão. O que me safou é que aquele era um bandido ingénuo, um baby-bandido, e seguiu a vida dele quando viu que eu ia dar trabalho. Não fui feita para ser assaltada, está visto. Esta última, ainda por cima, foi num fim de tarde no regresso a casa depois de ter tido um acidente de carro, também o mais violento nos meus 30 anos de existência (culpa do outro que bateu por trás a uns, sei lá, 80km/hora), naquela "autoestrada" ali para os lados da Corimba. Já em casa, lembrei-me do que um amigo me tinha dito depois do outro assalto. "Nunca acontecem dois azares no mesmo dia". Pois. Parece que em Luanda tudo pode acontecer.
Uma bailarina de peso
Há 4 dias
4 comentários:
Poxa. Migas... nem sei o que dizer. Nunca vivi violencia assim, mas muita gente que conheço ja viveu e por isso sei que NAO É FACIL. Fique bem, viu? Se cuida, toma cuidado andando a noite, nào sai assim sozinha. muitos beijos,
Eitha,,,, já ouvi dizer dos assaltos na ilha... Não sei como reajiria também...
O jeito é não deixar que essas coisas nos atrapalhem o dia a dia e tratar de ficar de olhos bem abaertos....
bj
Migas querida, agora entendo melhor o teu sumiço desta casa, um episódio desses é de tirar o encanto com o lugar, de silenciar mesmo as palavras.
Eu mesmo narrei, aqui nesta Casa, o episódio de assalto que comigo aconteceu quando aí morava, em 2008, todos sabemos, não está mesmo fácil a maka da violência. E olha que, ao contrário de ti, nasci e vivo numa cidade violenta, São Paulo, onde sofri meu primeiro assalto antes dos 18 anos, depois veio mais um, o que de forma alguma me faz achar normal que isso aconteça, seja em Luanda, São Paulo ou em qualquer outro lugar do mundo.
Força pra você amiga.
FER!!!! Saudades! E pensar que da última vez que prometi enviar um e-mail, já deve ter sido para aí à 2 meses! Vergonhoso! Um dia destes envio sem falta (confesso que estou até com vergonha de ver a data do seu e-mail!!!). Depois deste episódio, evito andar sozinha, pelo menos quando está já noite. Mas aqui anoitece por volta das 6h da tarde, durante todo o ano o que torna mais difícil.
Menina... muito cuidado. O dia não atrapalha mas o fim de tarde, no regresso a casa já não é a mesma coisa. Nunca mais foi. Até porque o 2º foi à porta de casa por isso, só depois de entrar é que me sinto completamente descontraída.
Sim F., este foi um dos motivos. E se não tivesse lido o post do Miguel, talez continuasse a escrever aqui sem mencionar este episódio mas, por um lado acho bom falar também nestas coisas para abrir os olhos a algumas pessoas que nos possam ler e que pensam, como eu pensava, que afinal não era assim tão perigoso... As coisas acontecem, quando menos contamos.
Beijos!!
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