Com Agualusa (re)visitei e pensei Luanda, neste últimos dias.
Num primeiro momento, foi assim.
Num primeiro momento, foi assim.
15 – São Paulo da Assunção de Luanda
Quando eu nasci, Luanda ainda usava todo o seu belo e sonoro nome cristão: São Paulo da Assunção de Luanda. Velha matrona mulata, orgulhava-se do parentesco com cidades como Havana, Saint-Louis, em Casamance ou São Sebastião do Rio de Janeiro. Foram os brasileiros, aliás, que vieram em seu socorro quando, em 1641, os holandeses aproveitaram a distracção ibérica para ocupar a Fortaleza de São Miguel. VI a minha cidade tornar-se africana. (…)p.92*
Pousei o livro. Deixei-me partir do Porto de Luanda até à Ilha. Descansei alguns momentos num banco da marginal. Recordei a avenida. Hoje com calçadão. Outras presenças. Outras falas. Paisagens distintas da Luanda de antigamente, claro. História de um país. Angola em construção. Outras estórias. Sinais de Vida(s). O mesmo feitiço de sempre. Sorri.
Fui ao Baleizão antes de subir rumo à Fortaleza. A de S. Miguel. Canjonjei cada bocadinho daquela cassata que me satisfez outrora alguns desejos. Porque era o velho Baleizão. Ainda.
Olhei a Fortaleza que conheci menina. Museu das Forças Armadas que me apresentaram já mulher. Entre ameias e outros espaços, outros retratos. Mas sempre a beleza daquela paisagem: a Baía de Luanda e a Ilha do Cabo. Vistas de dia. Ao entardecer. De noite. Visitas feitas sempre com prazer.
Fui ao Baleizão antes de subir rumo à Fortaleza. A de S. Miguel. Canjonjei cada bocadinho daquela cassata que me satisfez outrora alguns desejos. Porque era o velho Baleizão. Ainda.
Olhei a Fortaleza que conheci menina. Museu das Forças Armadas que me apresentaram já mulher. Entre ameias e outros espaços, outros retratos. Mas sempre a beleza daquela paisagem: a Baía de Luanda e a Ilha do Cabo. Vistas de dia. Ao entardecer. De noite. Visitas feitas sempre com prazer.
Luanda corre a toda a velocidade em direcção ao Grande Desastre. Oito milhões de pessoas aos uivos, aos choros e às gargalhadas. Uma festa. Uma tragédia. Tudo o que pode acontecer, acontece aqui. O que não pode acontecer, acontece igualmente. (…) p. 93*
Este é um romance que não está colado à realidade, segundo o seu autor. No entanto, a sua obra conseguiu levar-me a pensar quantas realidades Luanda tem. Ou pode ter. Ou poderá vir a ter. Num Futuro Imperfeito. Será? Perco-me, por vezes, nos modos. Dos verbos, claro. A minha professora da 4ª classe dizia que só o Futuro Perfeito do Indicativo permitia indicar algo que se podia fazer com toda a certeza amanhã. Era quase como anunciar certezas grávidas de dúvidas, reconheço hoje. Como se o amanhã fosse um único possível. Ao Imperfeito, só atribuía a capacidade de indicar uma mera possibilidade ou eventualidade. Pois acho que este Imperfeito é o que nos ajuda a imaginar a pluralidade de realidades que podem chegar num qualquer amanhã. Eventualidades e outros factores podem conjugar-se e transformar ou até fazer nascer outras possibilidades. E o amanhã não será questionável, em certa medida? O Futuro e o amanhã. Até o de uma Luanda já contada em 2020, neste Barroco Tropical. Uma simples opinião.
A tarde declinava. Em Luanda não há hora mais bela. A luz é tão doce que mesmo atropelada nas ruas pelo furor do trânsito consegue por instantes salvar a cidade do desespero. (…)p.298*
Quase no fim, encontrei a luz. Vejo o pôr do sol. Lá. Além-mar. Dos mais bonitos, sim. E dou comigo a encerrar esta obra com a maciez de uma luz de Luanda que permite pensar o futuro. Porque futuro Luanda tem. Isso tem.
*Excertos do último romance de J.E. Agualusa.
6 comentários:
uau...
os moradores desta casa têm todos o dom da escrita.
Parabéns pelo post.
Ana
Cotamaria, que bela estréia. Seja bem-vinda à esta Casa, que é sua, e que seja longa a sua estada por aqui, a nos brindar com tão belas participações.
P.S. - Adorei saber do novo livro do Agualusa, quero já começar a lê-lo.
Obrigado, Ana e F. pelas vossas palavras.
Vale a pena ler este romance; foi lançado em Junho e que já vai na 2ª edição.
cotamaria
que post tão lindo...parabéns!
Acabei de ler "o planalto e a estepe" - Pepetela (gostei), e já tenho comigo "barroco tropical". Vou ler agora, mas pelo que diz o Cotamaria, o livro valapena...
Agora, nós em Luanda não temos ainda o Kimalanga, não é? Chego à Tuga de férias e tou farta de procurar o dito cujo e não encontro.Também diga-se que ainda não fui à baixa de Lisboa mas,será que já esgotou FBaião?
Kandandus
Fátima
Fátima: Infelizmente, ainda não. Também não sou assim tão conhecido nem tenho todo uma máquina de marketing por detrás.Passe a publicidade, em Portugal,o livro está à venda em muitas livrarias, nas Fnac's, Corte IngLês, Bulhosa e Bertrand, etc etc.
Kandandu forte para ti
Fátima: Infelizmente, ainda não. Também não sou assim tão conhecido nem tenho todo uma máquina de marketing por detrás.Passe a publicidade, em Portugal,o livro está à venda em muitas livrarias, nas Fnac's, Corte IngLês, Bulhosa e Bertrand, etc etc.
Kandandu forte para ti
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