quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fernando Baião é um cara muito giro

E então finalmente nos encontramos, no bar do Hotel Fasano, em São Paulo, no final da tarde da quinta-feira, 20, a mesma em que um dilúvio desabou sobre a megalópole e chegou até a faltar eletricidade em alguns pontos da maior cidade brasileira…

Fernando Baião, morador dessa Casa, dono desse texto que me chamou a atenção na primeira vez em que bati os olhos, autor da belezura de livro recém-lançado em Lisboa cuja capa reproduzo acima. Sobre o livro em si, que vou falar mais ao fim do post, só queria dizer por hora que li todo em menos de três horas, no avião, de tão eletrizante que é…

Mas vamos ao Baião. E aqui não vai nenhuma rasgação de seda, especialmente porque os amigos sabem a pessoa grossa e mal educada que sou. Pessoa queridíssima, parece que já o conhecia há anos. Dono de uma cabeça, uma memória sobre Angola e Brasil, um repertório cultural e uma simplicidade que poucas vezes vi em figuras muitas por aí… apesar do momento pessoal por que passa, carrega consigo uma alegria que valha-me Deus.

Engraçada essa coisa de ter um amigo virtual e depois ir conhecê-lo pessoalmente. Há meses, planejávamos nos encontrar, Fernando Baião e eu, além de toda a malta de personagens que circunda esse blog, nomeadamente o F., a Branquela, a Ju, o Candongueiro, o Greg, e o Zé, que está lá em Maputo.

Pois dessa vez deu certo: na mesma cidade e na mesma data, pudemos passar mais de três horas – isso mesmo, três horas – de frente um pro outro, com um copo de água tônica a nos separar, falando da vida, desse blog, dos encontros e desencontros, do que é o Brasil com e sem Angola e Angola com e sem o Brasil. Estava acompanhado do filhote que acabara de fazer anos e da esposa que, olhem só, mora na mesma rua onde um dia morei.

Há coisa de dois meses, ele havia me mandado Kimalanga, como relatei aqui. Levei o livro para São Paulo para mostrar que estava lendo mesmo e ele me presenteou com mais quatro: um para o A.M., leitor fiel desse blog, órfão de Luanda depois de três anos, que também agora vive em SP e que também encontrei, numa noite memorável, o Alex, o Fernando Alvim, outra figura querida que estava em São Paulo e não encontrei, por força de agendas e dessa cidade tão grande, tão intensa.

Um homem de letras, é isso que o Baião é. Nada de ecomista ou coisa que o valha ligada a números.

Kimalanga conta a história de Zé Paulino (olha só!, João!), um angolano de meia idade que ficou mbaku, impotente, broxa mesmo como a gente diz no Brasil. O pau não subia mais, de jeito nenhum, tivesse ele a catorzinha que tivesse na cama. Numa luta desenfreada para fazer seu Zezinho voltar à ativa, o homem recorre a Pau de Cabinda, vai à Londres e Àfrica do Sul em busca de tratamento, ensaia vir ao Brasil procurar pai-de-santo…até que…

Como pano de fundo, uma narrativa telúrica, adocicada, bem humorada e antes de mais nada realista sobre o que é tornar-se homem de negócios em Angola depois da gerra de libertação, da guerra civil toda, da pacificação e, claro, conviver com a corrupção, a propina, o luxo e o lixo de Luanda, a falta de perspectiva de alguns jovens, a vida e a morte, a sobrevivência e, claro, o amor. O livro, no meu entender, é antes de mais nada sobre o amor de Paulino por sua esposa, uma senhora gorda de mais de 100 quilos que passa o dia no sofá, vendo novelas brasileiras e tomando cerveja. Imensa, rotunda, praticamente uma Wilza Carla do Largo da Maianga.

Paulino, apelidado de Kimalanga (hiena, como explica o autor num pequeno dicionário ao final do livro), é para muito além do simples animal com seus instintos primitivos, é um personagem ao qual a gente se apega, que faz e desfaz, que filosofa, que a gente pensa que vai prum lado e depois vai para outro… e, no final, o Baião…ah, o Baião, se te pego de novo por aí…

Imaginem o que é um homem angolano ficar impotente, minha gente!

Esse relato parte, em certa medida, do mesmo mote de Predadores, de Pepetela, comentado aqui. Mais gostoso talvez porque menos despretencioso, uma literatura feita não para marcar um tempo histórico, mas retratar os hábitos culturais de um povo que nasce, cresce, descobre a sexualidade, casa, tem filhos, morre e “vai a enterrar” comemorando a vida. É isso que o angolano faz, todo o tempo, como pude comprovar vivendo em Luanda durante seis meses e no encontro de três horas como o agora amigo de carne e osso Fernando Baião.

Eu não sei como nem com ajuda de quem (porque o livro ainda tem problemas seriíssimos de distribuição em Luanda), mas você tem que lê-lo A-GO-RA!, como diria um jornalista acolá.

O próximo encontro já está pré-marcado: deve ocorrer numa cafeteria qualquer de Lisboa, no Três em Um da Antônio Barroso, no Hotel Fasano, de novo, ou na cidade dos Reis Magos.

6 comentários:

Menina de Angola disse...

Opa... no três em um???? Eu vou de bico, ya!rs...

bj

m.Jo. disse...

X, seu sotaque angolano está cada vez melhor.
Quanto ao livro do Baião, continuo querendo...

Bibbas disse...

Baião é uma figura unica...que enche e preenche o meio onde está...um tio unico, chei de graça e de muitas muitas "stories":):):):)

olimpia disse...

Que bacana, o seu blog!
Será que a cidade dos reis magos é Natal (RN)?

Anônimo disse...

Primeiramente parabéns pela obra!!!
Olá, meu nome é Luís Delgado, sou um escritor brasileiro, estou envolvido num projeto literário e procuro por um escritor, ou uma escritora, de Angola para fazer parte de uma obra que reunirá dez escritores. Caso o interesse Fernando ou se quiser indicar alguém, basta me escrever. www.luisdelgado.recantodasletras.com.br , meu email é luisarcan@hotmail.com

Novamente meus Parabéns!!!

Anônimo disse...

Passem por aqui e libertem as vossas ideias

http://libertandoasideias.blogspot.com/