
A Marginal e a baía de Luanda sob a luz do Cacimbo: saudades imensas
Neste dia Internacional do Trabalho, volto à esta Casa, também motivado pela postagem da querida Migas, para contar a vocês um episódio que vivi ontem - e ele revelador de como, para sempre, Angola e suas histórias estarão ligadas a minha pessoa, não tem mais jeito.
Escritores e leitores de 8 países lusófonos confraternizam no Teatro Alberto Maranhão
Foi um encontro muito, muito fixe, para usar uma expressão aí desse lado do Atlântico.
Esse evento é um dos primeiros frutos concretos da
I Semana de Natal em Lisboa e, na sequência, de Lisboa em Natal, ocorrida no ano passado e narrada
aqui e
aqui. Das duas semanas de visitas mútas surgiu a Associação Cultural de Amizade Lisboa/Natal. Minha cidade entrou para a União das Cidades-Capitais de Língua Portuguesa (mais informações
aqui), como Luanda e outras capitais africanas já são há um bom tempo. Salvador é outra representante do lado de cá.
Vista aérea de Natal, a partir da praia de Areira Preta: jóia do Atlântico na esquina do Brasil
Veio toda a gente de todos os países lusófonos para Natal e a minha cidade transformou-se, por três dias, na capital internacional da Língua Portugesa: Brasil, Portugal, Angola, Guine-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Timor Leste.
Foi, para mim e para a gente da minha terra, motivo de muito orgulho receber tantos irmãos e, em particular para este datilógrafo, um motivo de honra fazer parte de uma mesa ontem onde estiveram, ao mesmo tempo, dois dos maiores representantes das letras angolanas contemporâneas: Ondjaki e José Eduardo Agualusa. Tudo isso aconteceu ontem e o registro fotográfico, espalhados neste post, são do meu amigo e fotógrafo
Canindé Soares.
Com o Agualusa, o reencontro foi mais para o sentimental. Eu já havia conhecido-o na
Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, como palestrante, e depois pessoalmente em São Paulo, um dia antes de embarcar para Luanda, em 2008. Na ocasião, ele palestrava numa livraria deliciosa do meu antigo bairro paulistano, a Vila Madalena, com outra fera angolana: o Pepetela.
Li
As Mulheres do Meu Pai no avião rumo à África, estou avançando nas páginas de
Barroco Tropical (tão bem resenhado aqui pela Cota Maria
aqui) e, brindando os presentes ao encontro, Agualusa leu um trecho inédito do seu próximo livro, cujo ponto final foi colocado no avião ao vir para cá. A curiosidade já me tomou de assalto. Para além dos livros de história, foi na literatura angolana que entendi muito desta terra, como também relatei
aqui.
Já com o Ondjaki, de quem ainda não li nada, valeu a pena somento ouvir, ouvir como quem consome um bom vinho, aquele sotaque tipicamente luandense, pausado, cadenciado, enfático, até certo ponto agressivo, mas muito, muito luandense, tanto quanto as dezenas de amigos que fiz nesta cidade. Vou procurar hoje mesmo um livro do jovem escritor, que também vive no Rio de Janeiro.
O
kamba, se assim posso chamá-lo, foi de uma simpatia incrível ao narrar casos de família e suas relações com a internet (como é diferente o jeito que os angolanos pronunciam "internet". Por outro lado, da mesa também surgiram tiradas engraçadas ao lembrarmos como, dos dois lados do Atlântico, a língua pode até ser a mesma, mas algumas coisas são difícies de serem entendidas sem o fundamental
Pequeno Dicionário Angolano que esta Casa vem compilando desde que nasceu - e um dos motivos do seu sucesso.
Por fim, e aqui vai uma nota triste, queria deixar registrado o meu desejo - também o dele! - de ter tido aqui em Natal, neste encontro, o Fernando Baião, um dos moradores desta Casa que nos mês passado fez sua
viagem última rumo á Casa do Pai. Fernando, você, de onde estiver, esteve conosco em pensamento.
Da Associação Cultural de Amizade Lisboa/Natal, presidido pelo senhor Carlos Marques, criada no ano passado, surgiu este encontro, cuja segunda edição já tem data marcada: 26, 27 e 28 de abril de 2011. Que venham muitos mais escritores africanos, portugueses, timorenses e brasileiros para cá, como forma de estarmos cada vez mais irmanados nessa coisa única, maravilhosa e gostosa que é ser um falante de Língua Portuguesa.
Em breve, darei aqui notícias de como vocês vão assistir, no conforto do seu lar, um resumo do que foi esse EELP em Natal.
Nota final: por estes dias, como se um ciclo mágico de reencontros com Angola se reatasse, "aterrou" em Luanda a nossa querida Ju, uma das brasileiras que mais conhece essa gente e essa terra. Na ocasião do EELP, li para a platéia um email que ela me mandou, no exato momento da palestra, contando sua emoção de rever Luanda. Uma pérola literária. O teatro Alberto Maranhão veio abaixo em palmas.
É hora, portanto, desse blog viver a efervecência diária de 2008.