
Há um ano passamos juntos o Natal em Luanda. Hoje, com cada um separado num ponto do mundo - eu moro numa cidade linda chamada Natal, vejam só -, resta dizer: Felicidades, paz, saúde e prosperidade pela passagem do Natal e no ano de 2010.
Recebi este belo texto por email do Kota Baião. Resolvi compartilhar com os leitores da Casa. Uma bela reflexão. O Brasil, que vai sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, vive o mesmo dilema: vestir-se de luxo, tendo antes de resolver problemas básicos, muitos dos mesmos do lado de lá e de cá.
Mama, será que estamos preparados para o CAN??
Mama, será que estamos mesmo preparados para essa grande festa que os meus irmãos mais velhos que te governam estão a organizar?? Será que ela é mesmo necessária??
Desculpa mama, mas não consigo reagir com entusiasmo a essa idéia, porque quando olho à minha volta, vejo que ainda temos muito que arrumar aqui em casa.
Não consigo parar de pensar que os meus irmãos gastaram tanto dinheiro a construir 4 estádios em tão pouco tempo e aquela universidade grande, com dormitórios e tudo, que eles nos prometeram (há quantos anos mesmo??) simplesmente ainda não acabou...
A quem queremos impressionar mãe? Talvez eu é que não esteja a perceber muito bem e por isso me questiono tanto... E se de facto queremos impressionar, não é melhor impressionarmos com idéias do que com “fintas”? Ou impressionar o mundo com aquela menina que cresceu em meio a tantas dificuldades mas que mesmo assim é uma estudante brilhante, do que com aquela que é especial só porque é bonita? Não é melhor impressionar com o que é inteligente do que com o que é bonito ou divertido? Afinal, qual é a nossa prioridade mama? Impressionar ou trabalhar?
Como é que achas nós, teus filhos menos favorecidos na distribuição do leite das tuas grandes e fartas “tetas” nos sentimos diante de um evento como esse, sabendo que tanta coisa podia ser feita não só com o dinheiro, mas com o tempo e com pessoas que se têm dedicado a esse evento de 10 dias de simples diversão?
Será que devemos mesmo estar entusiasmados, sorridentes e orgulhosos, quando simplesmente não temos qualidade de vida? Mama, posso garantir-te que nenhum dos teus filhos hoje tem qualidade de vida, nem mesmo aqueles à quem deste as rédeas da nossa casa, porque acredito que mesmo eles, que por trás dos muros têm o necessário e o desnecessário, não gozam da qualidade de vida que é proporcionada por uma consciência tranquila, pelo sentimento de dever cumprido, pela alegria no rosto dos que os rodeiam, isso para não mencionar, as longas horas no transito, as ruas esburacadas onde quer que se vá, a desorganização e a certeza de que por mais que se esforcem ou se esfolem a tentar mascarar a verdade o país está a piorar.
Como é que nós, teus filhos, vamos receber as visitas se, para as que aqui estão, olhamos com desconfiança porque a todo momento sentimo-nos ameaçados, tendo em conta que o Chinês, nos tira a oportunidade de aprender ofícios básicos como a pedreira e o Português, o Brasileiro e outros bem... esses simplesmente não nos dão oportunidade, porque trazem “tudo” de lá. Mas será que a culpa é deles? O correcto não seria eles virem por um período, aprendermos com eles e depois de bem aprendido fazermos nós próprios? Mas aqui nesta casa, quem está preocupado com o correcto se o incorrecto também funciona?
Mama, os lugares principais da nossa enorme casa, tal como ruas, praças e avenidas estão a ser bem arranjados, isso é importante porque impressionar implica, quase sempre tapar o sol com a peneira. Mas quase sempre eu me pergunto: e se por acaso o turista, ao sair do Aeroporto tiver que evitar a 21 de Janeiro e for forçado a passar pelo Cassenda, pelo Mártires do Quifangondo ou ainda pelo Cassequel, como é que vai ser? O que vai pensar de nós esse turista que vai assistir os jogos em estádios de dar inveja a países desenvolvidos de tão majestosos? Será que sentir-se-á impressionado?
Alguns filhos teus, podem dizer-me que não estamos a organizar o CAN para impressionar, mas sim para o nosso próprio beneficio. Garanto-te que quase no mesmo instante outros filhos teus, os irmãos que estão do meu lado, vão apresentar uma lista sem fim de ideias, eventos e instituições que precisam de ser organizadas para o nosso próprio benefício e que são tragicamente prioritárias.
Mama, sinceramente não quero odiar a ti, a nossa casa, ou aos meus irmãos a quem incumbiste a nobre tarefa de nos dirigir e não vou fazer mesmo porque não me cabe odiar pessoas mas sim condutas, mas digo-te, eu sou dos teus filhos mais pacíficos porque outros de tão descontentes, já falam do impensável, que é uma guerra civil. Já pensaste mama? Outra guerra entre nós? E essa talvez seria pior, porque os descontentes estão tão próximos dos “contentes” que se calhar nem precisem de se esforçar muito para vandalizar.
Ai mãe... Gostaria mesmo de estar saltitante de entusiasmo porque uma festa é sempre uma festa e quanto maior melhor, mas sinceramente estou ocupada a descobrir se o meu interesse pelos estudos é que está a diminuir ou se a instituição em que estudo é que está cada vez mais degradante!
Não sou contra o CAN, mas contra o facto de ter se tornado uma prioridade.
Autor desconhecido
05 de Outubro de 2009
Dia desses, lembrei com muitas saudades dos agitos da Ilha, nomeadamente a noite de sábado no Chill Out, quando fecha o restaurante e vira uma discoteca metida à besta, cara até não dizer mais (USD 30 dólares, só para surgir e sorrir) e cujos critérios de seleção para saber quem entra rápido ou fica mofando na fila são mais abstratos do que os utilizados pela Real Academia de Ciências da Noruega para entregar o Nobel a Obama, recentemente.
Se você é homem, branco, e vai lá desacompanhado, fica no mínimo uma hora na fila para entrar. Se chega acompanhado de uma dama – seja ela uma catorzinha angolana ou uma brasileira mais saliente – passa na frente de todos e vai ser feliz imediatamente. No zunzunzun do sereno, carteiradas, sabem com quem está falando, conversas ao pé do ouvido e, claro, flertes, muitos flertes. Casais de angolanos bem nascidos não ficam um segundo à espera.
Lá dentro, um mundo artificial formado pela mistura de mwangolês com expatriados chama atenção. Todos estão no desespero para ver e ser visto, acabar a noite bem, no sentido bíblico, se os leitores inteligentes dessa Casa compreendem. Nuvens de catorzinhas diáfanas sobrevoam tugas horríveis nas suas camisas xadrezes de manga curta. Brasileiros mal-educados, por seu turno, diluem-se em litros de uísque e passam a se sentirem um Rockefeller da vida. Os de Pernambuco são os piores. Os papos geralmente começam em inglês e depois evoluem para a língua de Camões, sempre com a clássica pergunta: “você está em Angola há quanto tempo”?
O tumps-tumps das “mesas misturadoras” é ótimo. DJs evergando camisetas geralmente da grife Dolce & Gabanna fabricada no Dubai ou na China, além de óculos escuros imensos e cintos dourados, fazem às vezes de Jesus Luz - o namorado brasileiro da Madonna que agora meteu-se a Malvado - sem perceberem que nós notamos que tudo tocado ali é playback. Ah, que saudades do Kuduro sampleado ou da última versão de um house tocado no ultimo verão em Ibiza tendo o mar ao pé de si no Chill Out...
A noite avança... O uísque faz efeito...
Numa rodinha, um grupo de curitibanos – chatos como só um carnaval ao lado de uma namorada com TPM pode rivalizar – destilam pérolas como “ah, eu não vejo a hora de ir de férias para o Brasil”. Do lado, uma portuguesa afirma, em alto e bom som: “gostava imenso de conhecer um brasileiro mais a fundo…”. Então tá, vamos nessa. Quando toca o Créu, caem por terra os 500 anos de educação promovidos pela colonização nos dois lados do mar, isso tudo nas tais cinco velocidades.
No final da festa, lá pelas cinco da manhã, jipes imenos enfileira-se à porta, à espera que os grupinhos que se formam na calçada – a hora final é a de maior desespero, pois agora só sábado que vem, por isso ainda dá tempo – decidem se vão todos para o Talatona ou a baladinha pode continuar por ali, pela cidade, nos domínios de quem tem mais privacidade e não precisa dividir 100 metros quadrados com mais seis pessoas.
No final do dia, alguns integrantes dessa peça de teatro que tem lugar todos os sábados no Chill Out encontram-se num dos vários restaurantes da Ilha e, de óculos escuros, nem confiança para os demais.
TAP faz promoção de voo a 359 euros para o Brasil | |
Os turistas portugueses poderão voltar intensamente a viajar para o Nordeste brasileiro, destino que está caindo na preferência lusitana. É que uma grande promoção oferecendo tarifas reduzidas para o Brasil está sendo preparada pela TAP. Os voos de Lisboa e Porto para todos os aeroportos brasileiros custarão 359 euros, para a vinda, com todas as taxas incluídas. A campanha é válida para viagens entre 01 de Novembro e 31 de março de 2010, reservadas até 30 de setembro. |