domingo, 15 de fevereiro de 2009

Uma história tristíssima

Assisti a história na TV esta semana:

Cerca que 15 angolanos que ficaram cegos por causa da guerra civil vieram para o Brasil há uns 10 anos, mais especificamente para o Paraná, e aqui ingressaram na faculdade de música. Como muitos no seu país, eles foram estudar no exterior com apoio financeiro de bolsas e assumiram o compromisso de voltarem, depois de formados, para dar o seu "contributo" na reconstrução nacional.

Tudo muito bem se agora, faltando alguns semestres para a formatura - quando todos já estão tocando piano divinamente -, a instituição de fomento ao estudo, baseada em Luanda, não mandasse o recado categórico de que o dinheiro acabou e que os angolanos precisam voltar urgentemente para o seu país. 

Terríveis como só eles sabem ser, os jornalistas fizeram uma matéria dramática mostrando o sofrimento dessas pessoas, a dificuldade para viver uma vida sem exergar nada, o amor que já tinham pelo Brasil e o risco que corriam em voltar para o país sem a formação completa - além, claro, de questionar o que um grupo de pianistas cegos iam fazer em Luanda, nessa altura da reconstrução nacional. 

Rampas nas ruas das Ingombotas? Braile nas entradas dos teatros onde eles forem tocar? Sinal sonoro no cruzamento da Rua Rey Katyavala? É bom lembrar que eles vivem, atualmente, em Curitiba, exemplo mundial de bons equipamentos urbanos, inclusive para quem não exerga um palmo à frente do nariz. Aliás, não exerga nem o nariz.

O Instituto dos Cegos do Paraná entrou na justiça para evitar a "deportacão" do grupo e, segundo a TV, agora é a fundação angolana que vai recorrer na justiça para ter os seus "retornados" em casa o mais breve possível.

E por que a foto do José Saramago no início desse post? Porque, num caso desses, a leitura ou a apreciação fílmica do "Ensaio Sobre a Cegueira" seria, em princípio, um começo de conversa para a solução do caso.

Um grupo de pianistas cegos "aterrando" em Luanda. Nem Saramago pensou nisso.



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