Hoje Paulo Flores vai dar show, vinte anos de Semba, vinte anos de carreira. O Povo gosta dele e, e nós, na Diáspora vamos cantar com ele, Angola.
Mas, o Paulo tem nome feito e hoje gostava de vos falar do miúdo Penas, dezassete anos, que aparecia no quintal do Kota Kapipita, sempre com a sua viola, dedilhando sons de semba, que os outros gostavam de ouvir, nos intervalos das conversas do mais velho, que tambem se entusiamava com o geito que o garoto tinha para a música. O sonho dele era um dia poder tocar ao lado de Carlos Burity ou do Paulo Flores, mas no bairro o que estava a sair, era o kuduro, música nascida da miséria dos bairros pobres da periferia, generalizada por adolescentes procurando notoriedade, uma forma de se afirmarem num país onde a justiça é madrasta. Tinha boa voz, começou a imitar as canções dos kuduristas mais consagrados, Helder, o rei, Dog Murras, o patriota, Sebem, o mais popular e o Puto Prata, o doutorado. Mais tarde, passou a escrever as suas canções, evitando sempre enveredar pelas palavras obscenas, que alguns deles usavam nas suas canções. No quintal do Kota, faziam roda, com palmas e imitando os sons instrumentais, cantavam e dançavam essa música suburbana, mas que já tinha invadido as casas e salões frequentados pela média e alta burguesia de Luanda. As letras eram de protesto, procurando retratar os problemas de todos os dias, a criminalidade, a prostituição, a corrupção, a falta de água e luz, enfim, todos os problemas que estamos com eles, "estamos male e male", "nós kuba no chão"," eles podem, nós não podemos" "eles têm, nós não temos", "nos estão a maiar a vida", "aiué, mwangolê, teu futuro é o quê, então?
O miúdo inventou um nome artistico "Puto Tuku", (penas em kimbundu), e começou a gravar discos num estúdio improvisado do Kazenga. Teve azar, começou a andar com a garina Toya, que tinha sido namorada do chefe do gangue Sambila Squad e foi baleado. Os amigos que tinham andado no crime quizerem tirar forra, mas o Kota não deixou. O problema da violência já está a ficar feio, se não se tomarem medidas a sério, um dia destes, quem fica preso, somos nós, os honestos, que não podemos sair à rua, sem que nos tombe em cima, um assaltante com faca, pistola ou mesmo metralhadora, disposto a matar por dá cá aquela palha, os bandidos vão tomar conta da cidade, explicou o Kota Kapipita, o que acabou por convencer os mais agastados, que violência em cima de violência não era a melhor solução.
Uma bailarina de peso
Há 5 dias
3 comentários:
Já estão a assaltar na estrada do aeroporto, levam malas já feitas e tudo ... ninguém pode dizer que o mangolé não é esperto, esperteza por vezes mal utilizada , mas muita esperteza!!!
tenho ouvido vários casos mesmo de violência, Fernando. Assaltos no horário de maior tráfego, tanto na Rocha Pinto como na Samba. E infelizmente, as grades, como no Brasil, já fazem mesmo parte da realidade das pessoas de bem, cerrando portas e janelas...
mudando um pouco para um lado positivo deste seu post, ele cita, ainda que de passagem, uma das coisas que acho mais divertidas aqui: a criatividade dos cantores para escolher os nomes artísticos.
Fernando Baião, suas narrativas mostram o sangue de escritor correndo nas veias.
Parabéns.
chr
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