A velocidade borra de verde a minha janela, empurrando a paisagem de lavouras pontilhadas por casinhas de barro que surgem de quando em quando, tudo emoldurado por montanhas rochosas no oeste do Quênia.
Um minúsculo ponto atrai meu olhar. Um vestidinho de pano branco, comprido até o chão, com uma malhinha azul de mangas compridas, braços abertos, a dançar sozinho no meio do gramado verde. Deve ter uns cinco ou seis anos, não mais.
Penso em parar, descer para fotografar-te naquele momento de felicidade pura, sem aditivos nem conservantes. Mas eu sei, ao apontar a lente na tua direção, espantarei a espontaneidade do momento. Muitas foram as vezes em que isso aconteceu já, nesta minha obsessão por retratar o futuro de África.
Então desisto de parar, de te fotografar. Pelo menos desta vez, deixo-te só com a tua felicidade que ficará gravada na minha memória como um pontinho branco e azul a girar no meio da imensidão verde.
Uma bailarina de peso
Há 5 dias
4 comentários:
lembrança gostosa é assim, com direito a presente: a partezinha da felicidade dela que ela vai deixar com você pro resto dos dias.
Nossa, que lindo!
Isso é um post ou um poema?
Amei!
abs carioca
Emocionei...
Acho que a distância estimula a sensibilidade resultando nesse lindo poema. RD
Postar um comentário