Eu sou uma pessoa discreta. Não aprecio discussões com gente que não conheço. Mesmo que sejam discussões sobre temas banais. Muito menos quando as discussões incluem temas mais ou menos quentes. Um destes dias, numa conversa entre conhecidos e desconhecidos, a personagem era nitidamente pró-Angola. Nada contra, tendo em conta que ou era angolana (branca) ou já cá tinha estado em criança. Ou então, era a defensora das causas impossíveis. Digamos que me inclino mais para a última. O tema era: Angola não precisa de expatriados. Não precisa ou não quer expatriados. Nem percebi muito bem qual das duas, a alminha defendia. Sim. E juro que não é uma das minhas brincadeiras. O tema era mesmo esse, tendo à frente mais de 10 expatriados nas mais diferentes áreas. Haja coragem! Ora, calma como sou (e porque parece que não se deve contrariar malucos) bico calado e fiquei a ouvir os argumentos. Ah, e fiquei também a contorcer-me para não rir às gargalhadas, deixando apenas escapar um daqueles sorrisinhos marotos pelo canto da boca. Então vejamos: os argumentos da mente iluminada eram de que Angola fornece um nível de formação muito elevado. Aqui há prática. Em Portugal é tudo teoria e o pessoal lá não percebe nada. Quem diz Portugal, diz outro país cujos cursos não incluam começar a trabalhar na área, ao fim do primeiro ano. E, para reforçar a ideia, a mente iluminada ainda fez questão de começar por um exemplo fabuloso. A medicina. Sim, aqui a medicina é muito avançada porque eles, devido à falta de médicos no país, começam desde cedo a praticar. Medo. Muito medo. Ao fim de um ano de aulas já praticam os ensinamentos em pacientes reais. Ora, o que é que eu posso dizer, perante uma afirmação destas? Ia dizer-lhe: ah sim? Então e quando tu estás doente, deixas-te tratar por um desses alunos num qualquer hospital público? E os pobres coitados que não têm dinheiro para as clínicas privadas, como tu, acharão divertido ser tratados por um aluno borbulhento do 1º ano da faculdade? Ora, eu não gastei a minha beleza com estas perguntas mas, houve quem gastasse. Mas, não ainda contente com este exemplo maravilhoso, decidiu falar nos engenheiros civis. Oh yeah! Mais uma vez, não podia ter escolhido melhor. Ou não estivessem na mesa uns três (ou mais), representantes dessa espécie maldita. Vai-te embora satanás! Bico calado, como sempre, lá ouvi as suas (mais uma vez) brilhantes explicações. Ora, a “inteligência”, bem via que em Portugal os cursos eram todos teóricos. Via, porque vivia ao lado de uma faculdade com esse curso. E acrescentava: ah, eles aprendem a calcular pilares e mais não sei quê e depois na prática, não percebem nada. Ainda estou para aqui a pensar sobre o facto de ela “ver”, porque morava ao lado da faculdade. Será que lá na terra as casas e faculdades são em tendas? A modos que a tenda dela ficava mesmo ao lado da tenda da disciplina de mecânica dos solos. Ou então, será que as aulas são registadas por altifalantes, daqueles que o Manel das farturas usa nas feiras para chamar a clientela? Eu até arriscaria dizer que, na terra dela devem ser todos engenheiros civis, porque eles bem vêm as aulas lá na faculdade. E assim sendo, é bem capaz que muitos dos que cá andam, tenham tirado o curso através dos tais altifalantes. Pelo meio também acrescentou que a polícia é muito melhor treinada do que os de Portugal pois muitos tiravam as formações nos Estados Unidos. Ai é? Eles afinal aprenderam nos EUA? Eu vi logo que a culpa das gasosas era do Bush! Só podia ser!!
Brincadeiras à parte, eu fico mesmo contente com estas afirmações completamente desprovidas de inteligência (isto, para não mencionar aquela palavra que começa por “b”, acaba em “e” e tem urric pelo meio). Oh, se fico. Até porque, ainda à pouco tempo andamos à caça (sim, este é o melhor termo que posso utilizar, face à dificuldade para encontrar a espécie) de engenheiros civis angolanos. E eis que, para além de aparecer a módica quantia de 3 exemplares à entrevista, um tirou o curso em Portugal (vá lá, também andou por Inglaterra, pode ser que lá comecem ao fim do primeiro ano a construir prédios de vinte andares, pontes e barragens) e o outro tirou o curso no Congo. O terceiro nem sei porque acabamos por contratar os dois primeiros. Hã, e então? Será que não precisam de expatriados? Assim sendo, vou já fazer as malas e rumar para outro país onde precisem de mim porque parece que Angola, seguramente não precisa de engenheiros civis (e consta que de médicos também não).
* A autora não tem conhecimento sobre a veracidade das afirmações desta mente brilhante, sobretudo relativamente aos alunos de medicina, isto é, se praticam com doentes reais os ensinamentos obtidos logo após o primeiro ano de curso. Não tem conhecimento também, do nível de formação das faculdades angolanas, nas diferentes áreas.
Brincadeiras à parte, eu fico mesmo contente com estas afirmações completamente desprovidas de inteligência (isto, para não mencionar aquela palavra que começa por “b”, acaba em “e” e tem urric pelo meio). Oh, se fico. Até porque, ainda à pouco tempo andamos à caça (sim, este é o melhor termo que posso utilizar, face à dificuldade para encontrar a espécie) de engenheiros civis angolanos. E eis que, para além de aparecer a módica quantia de 3 exemplares à entrevista, um tirou o curso em Portugal (vá lá, também andou por Inglaterra, pode ser que lá comecem ao fim do primeiro ano a construir prédios de vinte andares, pontes e barragens) e o outro tirou o curso no Congo. O terceiro nem sei porque acabamos por contratar os dois primeiros. Hã, e então? Será que não precisam de expatriados? Assim sendo, vou já fazer as malas e rumar para outro país onde precisem de mim porque parece que Angola, seguramente não precisa de engenheiros civis (e consta que de médicos também não).
* A autora não tem conhecimento sobre a veracidade das afirmações desta mente brilhante, sobretudo relativamente aos alunos de medicina, isto é, se praticam com doentes reais os ensinamentos obtidos logo após o primeiro ano de curso. Não tem conhecimento também, do nível de formação das faculdades angolanas, nas diferentes áreas.
* E não. A autora também não se acha a última coca-cola do deserto. Considera apenas que, o país não tem quadros suficientes para responder ao desenvolvimento actual e, se não fôr um português, há-de ser um brasileiro, sul africano, filipino, espanhol, etc, etc, etc.
8 comentários:
Minha cara, você não se julga a última coca cola???? Você pelo que deixa transparecer no texto, você está aqui para "ajudar"..se não fossem vocês...
Não custa nada assumir: Estão aqui como técnicos que se candidataram a um emprego e foram aceites... e candidataram-se porquê??? Na terrinha a situação está dificil, não é? Nem emprego, nem salário como recebem aqui...
Se entendesse isso e aceitasse isso, acredito que não teria ficado tão "revoltada" com a pessoa que cita no post... E talvez pudesse neste post, contar de uma outra forma que não centrada em si - Se não precisam de mim, vou já fazer as malas e rumar para outro local..- Faz mesmo? Duvido... E volta para a terrinha? Não me faça rir...
Minha cara, assuma que é uma profissional, que se candidatou a um emprego, foi aceite, faça o seu melhor-para justificar o que ganha... e deixe de pessoalizar as questões. Você não está aqui para ajudar ninguém, você está aqui para trabalhar e ganhar o seu salário como qualquer profissional.
Fique bem
Ana Joaquina
Cara Ana Joaquina,
Em primeiro lugar, eu não me lembro de referir no texto que sou a madre Teresa de Calcutá e que vim para cá ajudar. Mas, espere lá, por acaso sabia que o meu principal objectivo era acompanhar a minha cara metade, esse sim com objectivos profissionais? E que por acaso até cá estive por uns tempos a trabalhar a custo zero? Ups, tão fácil julgar o que não se sabe, caríssima! Em segundo lugar, existe uns sites jeitosos sobre empregos no estrangeiro, entenda-se fora de Portugal. Ou seja, se não fôr Angola, será outro país como o Dubai ou o Qatar! Ou por acaso pensa que Angola é o único sítio que dá emprego a desempregados? Era bom, era. Em terceiro lugar, sabia que neste blog, há autores que não estão cá por razões económicas? Sabia? Ah, pois. Eu vi logo que não sabia! E por último, minha cara, entenda os meus textos de forma tranquila, sem nada ter contra o país ou o povo. Como eu já referi, não é apenas de coisas bonitas que escrevo. O mais engraçado, Dona Ana Joaquina, é que não a vi a comentar nos posts que escrevi a comentar sobre o que de bom têm as pessoas que por mim passaram e que, de alguma forma, me marcaram. E a sua maioria, positivamente. Mas isso, é uma característica típica! Criticar é fácil mas elogiar... Oh, elogiar...
Puxa, vc tem coragem :) risos
Olha eu me formei em engenharia no Brasil, numa universidade publica que concedia bolsa de estudos para estudantes angolanos.
Eu fazia pesquisa no departamento de engenharia mecanica e uma vez os professores estavam conversando sobre esses alunos, ouvi comentarios de que os estudantes vinham com base muito fraca do pais deles e cometiam erros basicos.
Eu conheci um deles que repetiu tanto acabou desistindo e mudando de curso.
Nao sei qual era o criterio para conceder bolsas, por isso nao estou afirmando que os estudantes angolanos sao ruins. Eu tbm percebo que eles sao bons em debates e certas disciplinas, que nao sejam tecnicas.
No Brasil nos tambem temos profissionais ruins, alias muitos, incluindo medicos.
Quem passa por aqui já sabe que eu sou angolano e dos bons!!!Eu penso que a Migas apenas quis relatar a cretinice da tal "pseudo" angolana, pois se fosse realmente vedadeira angolana nunca poderia ter tais afirmações. Todos sabemos que Angola precisa e muito da cooperação estrangeira em quase todos os domínios, sobretudo a nível da medicina e educação, e engenharia, então, somos mesmo muito fracos e os portugueses têm fama de serem muito bons em Engª Civil. Os quadros existentes na altura da Independência eram muito poucos, pois a maioria eram portugueses e bazaram. Infelizmente, ainda não tivemos tempo para uma formação adequada de técnicos nacionais. O ensino nacional deixa muito a desejar, a saude está pelas ruas da amargura. Os bons técnicos angolanos que se formam no estrangeiro ficam por lá.Muitos exemplos negativos poderia dar, pois vivi, em sectores chaves da nossa economia, todos esses problemas. Ana Joaquina, acho que todo o expatriado que vive no nosso país tem o direito de se pronunciar sobre os problemas da terra, criticar, no bom sentido, o dia-a-dia da vida citadina, pois está inserido na nossa sociedade, vive connosco.Não me diga que concorda com o que disse a tal "angolana", ponho entre "comas", não por ser branca, pois eu também sou, mas sim pelas afirmações descabidas que a Migas relatou.
P.S.Sabe que a Ana Joaquina, foi uma mestiça esclavagista, que construiu um palácio, que o poder actual deitou abaixo, para fazer um clone estúpido, fazendo dele um tribunal. O palácio da Dona Ana Joaquina, já foi um colégio "D. João II" onde eu estudei o secundário.
Fiquem bem, voltei à Casa depois de umas curtas férias, mas boas.
Eu venho do Brasil, um país que também foi colonizado por Portugal e que, quando se tornou independente, também precisou do apoio maciço dos portugueses para continuar a funcionar, porque não tinha especialistas com formação suficiente para manter o país funcionando. A diferença entre Brasil e Angola é o tempo de liberdade. Quase 200 anos se passaram já desde que os brasileiros começaram a gerir o próprio destino. Nesse tempo, construímos, com todos os defeitos que ainda existem, bases educacionais que nos permitiram formar as especialidades necessárias e, hoje, até exportar mão-de-obra para Portugal (ainda que em pequena escala). Aqui, dos 33 anos de independência, 27 foram gastos em destruição no conflito civil. Gostem ou não, os angolanos precisam dos estrangeiros. E se querem se tornar mais livres dessa presença, precisam começar a investir a sério na educação do povo para que possam, no futuro, ter especialistas angolanos. Infelizmente, Ana Joaquina, vejo muito mais angolanos esclarecidos a alimentar o sentimento xenófobo do que a criticar a baixa qualidade da educação dada nas escolas e universidades. Eu sei, é mais fácil lançar ao que vem de fora a culpa por tudo do que apontar em si próprio os males do problema. Mas, devo dizer-te, enquanto isso continuar Angola estará condenada a contratar a peso os especialistas no Tuga, no Brasil, nos EUA e na China.
Este tema não é fácil.
Não é só Angola que precisa de expatriados, qualquer país precisa, quanto não seja pela troca de experiências e diferentes práticas de métodos de trabalho. Até os EUA estão recheados de estrangeiros em altos cargos, aliás são a potência que são devido à diversidade de mão de obra estrangeira!
O primeiro comentador fique sabendo que os engenheiros são uma "espécie" em vias de extinção, bem pagos em qualquer parte do mundo. Sabia que a Noruega está desde o ano passado a recrutar na faculdade de engenharia de Coimbra? Ou que Hospitais públicos Ingleses estão a recrutar no departamento de Psicologia de Évora? Pois é...
E é pena a grande quantidade de bons profissionais Angolanos ainda no estrangeiro, quando tanta falta fazem aqui.
Acho que toda a gente percebeu o que quis dizer. E só não percebeu quem está mais inclinado para se focar nos pontos negativos. No futuro e se o país continuar no bom caminho, haverá mais profissionais especializados e, o recurso à contratação de mão-de-obra estrangeira vai diminuir. Eu tenho alguns colegas angolanos que estudaram fora e agora estão de volta a aplicar os seus conhecimentos no país. Contudo, ainda são poucos. E até conto um episódio que se passa comigo. Já é o segundo semestre que uma certa faculdade me convida para dar aulas. E eu tenho recusado porque não consigo conciliar com a minha actividade. E não é por eu ser uma especialidade (vulgo, última coca-cola no deserto) mas sim porque não têm professores suficientes! Parece-me que todos os semestres a questão se repete. E é até uma faculdade que tem na sua maioria, professores angolanos. Completando com portugueses e brasileiros. O que é certo é que eles precisam de mão-de-obra estrangeira para manter o curso. Isso é mau? Não me parece que seja. Antes isso do que deixar os garotos sem aulas! Se nós somos melhores do que os nacionais? Também nunca referi isso. Só refiro que neste momento, com o crescimento do país, é natural que se precise de recorrer a mão-de-obra estrangeira. E isso, em caso algum deve ser motivo de vergonha e xenofobia por parte dos angolanos. O que é certo (e agora podem chover críticas que eu aguento com elas) Angola é um país de vaidosos. Eu quando perco tempo a ler alguns comentários em certos jornais on-line, fico aterrorizada com o que leio. Como é possível que se pense que só porque se tem recursos e dinheiro, todo o expatriado vai querer isto para a sua vida? Se Angola fosse um país fácil e o paraíso na Terra, não veríamos certamente os expatriados a voltarem para os seus países. E porquê? Porque o dinheiro não é tudo. Porque apesar de o mercado em PT estar mau, há outras possibilidades que não Angola e, alguns dos meus amigos que já desistiram desta aventura, partiram rumo a outros destinos ou então voltaram mesmo a PT. E nenhum dos que voltou está desempregado. Ou seja, acho nítido que a minha crítica vai para quem acha que os estrangeiros são desnecessários ao país. Se são todos necessários? Também não me parece. Sobretudo aqueles que trabalham em áreas que podem ser ocupadas pelos locais. Mas isso tem a ver com opcções das empresas que, lá terão as suas razões.
E mais. Na minha despedida aos ex-trabalhadores que muitas vezes são retratados nos meus textos, agradeci-lhes por me terem ensinado tantas coisas sobre o país deles. E das coisas que me deixou mais feliz foi terem-se rido e dito: agradecer? Nós é que agradecemos por nos ter ensinado tantas coisas do nosso trabalho. E ensinar, caros-angolanos-anti-expatriados, é coisa que não vem incluído no nosso contrato como "deveres do expatriado"! Por tudo isto, acho-me no direito de criticar aquela alminha que, espero nunca voltar a encontrar!!Credo!!!! :o)
Abraço a todos!
Ainda para responder ou talvez esclarecer, gostaria de referir uma crónica de um amigo meu, sobre a China, país emergente economicamente, que ainda agora nos brindou com a impecável realização dos Jogos Olímpicos e que não é,propriamente,nem de perto, nem de longe, Angola.A gestão dos Bancos, naquele país asiático, feita por chineses, foi desastrosa, então, os seus dirigentes,não tiveram problemas em chamar os escoceses para os gerir e hoje são bancos, que dão cartas mundialmente.A adopção desta política, chamar a cooperação estrangeira quando necessário, encaixa-se na célebre frase de Deng Xiaoping:"Não interessa se a côr do gato é branca ou preta, desde que apanhe ratos, é um bom gato" Num país como Angola, sem recursos qualificados, esta é uma das lições a retirar da experiência chinesa.
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