terça-feira, 11 de novembro de 2008

Braços abertos sobre o Lubango

Do alto da montanha, ele vê o verde da Huíla e as casinhas pequeninas lá embaixo. Divisa as montanhas imponentes que limitam os horizontes de seus irmãos a transitar sossegados pelas ruas calmas de Lubango.

Ele não freqüenta a praça central, onde estão o Governo Provincial, a sede do Partido e o Banco Nacional, todos assistidos pelo busto de Agostinho Neto.

Também nunca entrou no Shopping Millennium, templo construído há pouco tempo, onde os frequentadores expiam os pecados rendendo tributo ao consumo.

Prefere a tranquilidade da igrejinha de Palanca, ali perto da sua morada mesmo.

Nunca se hospedou no Grande Hotel da Huíla, embora ainda se lembre de quando ele começou a ser construído, em 1938. As fundações levaram dez anos para ficar prontas, só então começaram a subir as paredes dos salões, a piscina. Mas os primeiros hóspedes só puderam inaugurar os 78 quartos muito depois, nos anos 50.

O ar europeu dos salões do Huíla Café, que o homenageiam com uma foto, também jamais experimentou.

Gosta muito de estar ali, no alto, a assistir tudo. Se fosse se queixar de algo, seria apenas do vento e das noites frias de inverno. Não pode sequer cruzar os braços para se aquecer. Afinal, de braços fechados, ele deixaria de ser o Cristo-Rei de Lubango.

2 comentários:

Flávia da Costa disse...

Ótimo F! Eu ja tinha ouvido falar do Cristo que é igual ao do Rio, mas que fica no Lubango. Agora o conheço, com direito às paisagens e tudo... Obrigada!

septuagenário disse...

Existe outro Cristo, que contempla Lisboa, na margem sul do Tejo, tambem inspirado no Cristo Rei do Rio.

Ainda poucos brasileiros ouviam falar em Angola, já se falava que em breve iriam surgir novos Brasis.

Era, naquele tempo, leitura obrigatória a revista brasileira O CRUZEIRO.

Enfim, agora vieram os brasileiros, já era sem tempo.