terça-feira, 11 de março de 2008

A cidade mais cara do mundo

Imagine o pior condomínio que você já viu na vida. Agora tire dele o elevador e transforme o vão num depósito de lixo. Arranque os corrimãos das paredes das escadas e cubra-as com uma cor encardida e com centenas de garranchos pichados de alto a baixo. No hall de entrada, espalhe alguns ambulantes, pedintes, gente esquisita ali, assim, parada, sem nada pra fazer. E no quintal do fundo, entre os geradores trancados em gaiolas, espalhe um pouco de água suja, com toda pinta de esgoto.

Se conseguir completar esse exercício, você estará imaginando um prédio comum de Luanda.

Na primeira tentativa de encontrar a definitiva Casa de Luanda deparei-me com pequenas sucursais africanas do inferno de Dante. Prédios com áreas comuns completamente destruídas, cujos moradores se trancam atrás de portões de ferro com cadeados gigantescos. No primeiro em que entrei, uma família de umas doze pessoas habitava um apartamento de dois quartos. Até a antiga varanda tinha virado um quarto extra. Por dentro, a habitação era antiga, até precisando de reparos, mas um luxo perto da decadência da área externa. Recusei de cara a oferta de alugá-la por USD 2 mil mensais.

Não há nenhum engano, não. O valor é esse mesmo, por um apartamento decadente num prédio destruído. Com a escassez de moradias, os preços estão loucos, o que faz de Luanda hoje a cidade mais cara do mundo. Mais do que Tóquio e do que Londres.

Seguimos adiante para novas propostas indecorosas em outros edifícios ainda piores. Queixei-me ao corretor de que precisava de um edifício um pouco melhor.

– Ah pá patrão, prédio em Luanda é isso aí mesmo. O senhor não vai encontrar nada arrumadinho não.

A quarta unidade a que me levaram era um apartamento até bom. Quarto e sala amplos, cozinha bem arranjada, casa de banhos, varanda, tudo razoavelmente conservado. Com guarda-fatos grande num dos corredores, por USD 2 mil. A área comum, porém, era o mesmo descalabro. Comentei com a moradora vizinha, que tinha a chave da unidade, sobre esse problema.

– Cá em Angola é assim: a gente toda preocupa-se em conservar as unidades. Ninguém se une pelo prédio. E olha que neste edifício ainda pagamos 200 kwanzas (quase USD 3) cada morador para ter um rapaz que varre a escada.

Não deixa de ser uma enorme ironia, a ausência desse sentimento de comunidade num país cujo estado se pretende marxista.

Bom, não preciso nem dizer, a minha busca continua.

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