sexta-feira, 6 de junho de 2008

Efeito Dorotéia

Então eu passei quase três meses derretendo nas ruas de Luanda e achando que minha vida ia melhorar quando eu tivesse um carro. Em apenas uma semana na companhia de Dorotéia, já estou querendo voltar a andar a pé. Isso porque:
  1. O trânsito é muito ruim - mas muito mesmo - e esta semana eu cheguei atrasado ao trabalho pela primeira vez desde que moro em Luanda. Andando eu chegava mais rápido.
  2. Os motoristas em geral , não importa nacionalidade, são muito egoístas. Ninguém nunca dá passagem; todos tentam se enfiar nos lugares mais improváveis para cortar a frente dos outros.
  3. Estacionar próximo ao local em que você precisa ir é quase como ganhar a noite toda na roleta de um cassino em Las Vegas. Pode até acontecer, mas é muito improvável. E quando você volta ao carro, claro, alguém parou em fila dupla fechando a sua saída.
  4. A sinalização das ruas não é clara e uma das maneiras mais fáceis de ser parado pela polícia é entrar à esquerda numa rua comum onde, em tese, não seria permitido fazer a conversão. Para evitar isso, tento sempre fazer a volta na quadra, o que, por causa do trânsito, pode significar mais 40 minutos parado.

Diante de todos os fatos, muitas vezes me pego atrás do volante como todos os outros: impaciente, buzinando, sem dar passagem aos outros.

O problema é que, agora, já me apeguei a Dorotéia.

9 comentários:

Anônimo disse...

Eu e a maioria dos angolanos que têm carro e não são candongueiros, compreendemos você, os seus desabafos, bastante suaves, para quem anda nesse trânsito infernal. Só tinha coisa pior em África, em Lagos e Cairo, mas hoje, Luanda, já ganhou.Andar a pé, você chega primeiro, mas pode ser atropelado ou chegar engasgado com o pó, poeira cheia de micróbios.O que eu posso dizer, meu kamba, para lhe levantar o austral, a frase que o angolano usa muito, "Gnana NZambi (Nosso Deus), vai nos ajudá"

Anônimo disse...

F.,
Entendo perfeitamente o seu desabafo... Quando estive aí, voltava ao hotel cansada no fim do dia e não resolvia nem a metade do que havia agendado. Dava a impressão mesmo de que a pé valia mais a pena, só que há lugares muito afastados, né?
O transporte público me pareceu ser um pouco precário e isso acaba limitando a vida de vocês, especialmente para um passeio de fim-de-semana ou para conseguir chegar a uma confraternização na casa de algum amigo que more mais longe.
Aqui os motoristas indianos pensam que estão na Índia e também tenho que segurar a minha onda. Eles pensam que estão na Índia, onde o trânisto é uma baderna e eles chamam a bagunça de "democracia para ir aonde quiser".
Quando lembro disso, nem reclamo muito, porque Bahrain é até organizadinho.
Agüente firme e seja paciente... Bjs.

Anônimo disse...

Oi, Fernando Baião,
Eu acho que no Cairo é pior que aí... Pelo menos, em Luanda as pessoas conseguem atravessar as ruas. No Cairo, eu ficava meia hora esperando. Uma tortura... Um abraço.

Migas disse...

Oh se compreendemos! É mau demais... bendito trânsito de Portugal. E eu que me queixava tanto!

Depois da média diária de 4 horas (min) que passo no trânsito, não te admires se me vires a lanchar (incluído no lanche um iogurte de colher, usando as duas mãos portanto), cantar, algo parecido com "insulto" e cara de má... enfim, 4 horas dá para fazer muiiita coisinha! Paciência F.! Muita! Levar nas calmas e nada de te transformares em candongueiro como muitos expatriados. Aí, perdemos a razão toda e afinal, viemos cá para tentar ajudar com o que sabemos, não para sermos iguais nas piores características! Ahahah

Estamos juntos, ya?

Anônimo disse...

EU QUERO A DOROTÉIA!!!....Vou dar uns rolês com ela na orla aqui em Santos............e nem vou me queixar do trânsito.
Beijos
chr

Unknown disse...

Olá, pessoas queridas,

E pensar que o F. vivia a falar mal de SP... Pá, que vida dura, hein? Não nos enganemos, SP um dia vai chegar a Luanda...
Bjs a vcs
Nan

Flávia da Costa disse...

Mas a vida não é fácil mesmo, não...
A minha sugestão é de madrugar e sair também muito mais cedo, isto se o trabalho não exigir a presença de outros.
Nisto eu sempre fui meio maluca, a primeira a chegar. Porque o trabalho também rende mais quando há menos pessoas em volta interrompendo.

Beijos!
Saudades!

Menina de Angola disse...

F., nessas últimas semanas que tenho vindo dirigindo ao trabalho eu entendo muito bem o que vc diz... afê maria... olha só por mais que a gente tente não tem como não adotar atalhos no mínimo questionáveis, sair por ai seguindo as candongas pelos atalhos no meio das musseques e quando não aguentar mais desestressar falar todos os tipos de palavrões que existem no meu vocabulário... hahaha e olha eu sou paciente, viu... Atravesso a cidade de manhâ e de noite todo santo o dia... Saio de casa as 5:30 da manhã e mesmo assim encontro trânsito... ohhh vida....

bj

F. disse...

Amigos angolanos e expatriados, obrigado por ajudarem nossos leitores de além-mar a entender melhor o que é o trânsito de Luanda.
O que mais me exaspera é que, com o tão pouco tempo que temos nesse mundo, e com o menor tempo ainda que terei em Luanda, não é justo gastar um 1/4 do tempo que passo acordado atrás de um volante a presenciar o lado bárbaro da vida...
Estamos juntos, ya.