quarta-feira, 12 de março de 2008

Nosso castelo na musseque




A vizinhança da casa em que estamos, na Ilha, é das mais animadas. Moramos numa travessa da Avenida Mutala Mohamed – a única da Ilha de Luanda –, numa área que os angolanos chamam de Vaidade. Aqui moram muitas famílias cheias de filhos e todos saem às ruas, mal amanhece o dia. Como as casas são muito pequenas, aproveitam o espaço público da rua para se divertir e fazer negócios.
Na frente de cada casa, as mulheres vendem frutas, verduras, doces, pães e toda sorte de mercadorias, expostas em tabuleiros de madeira. Quando escurece, os vendedores fazem brasa com carvão em latões e fritam galinha, assam espetinhos de carne, tudo para levantar algum dinheiro a mais. Todo mundo fala bem alto o tempo todo.
A rua é de terra e vive constantemente molhada. Minha intuição diz que é esgoto, mas também pode ser uma estratégia das donas das casas para evitar o poeirão que os carros levantariam na terra seca. Sim, passam muitos carros o tempo todo, apesar de a rua ser estreita. As casas na musseque podem ser simples, cubatas, como eles chamam aqui, mas todos têm o seu carrinho – e muitas vezes, um carrão. Não deixa de ser engraçado ver todos esses barracos com antena de TV a cabo e aparelhos de ar-condicionado nos telhados de folhas de zinco.
A musseque, pra quem ainda não sabe, é o nome local para o que, no Brasil, chamamos de favela. Mas ninguém precisa ficar alarmado. Nossa musseque não tem crime organizado, malaco de fuzil, nada disso. Aqui moram famílias de bem, muitas delas com dinheiro. Com a inflação do mercado imobiliário, é muito comum uma família que tem um apartamento na cidade alugá-lo por preços altíssimos e se mudar para uma cubata. Ganha assim o dinheiro do aluguel. Por isso, nossa musseque é bem segura, sem problema algum.

10 comentários:

Marina disse...

Pode ser segura, mas fico impressionada por vcs estarem morando na musseque. beijos e se cuidem!

Unknown disse...
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Paola disse...

Que bacana! Vai ser uma estadia cheia de emoções! Só por segurança: se vocês ficarem mais de dois dias sem alimentar o blog, a quem devo avisar?
bjs

Corromundo disse...
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Monolito disse...

Não moro em musseque em São Paulo ou Rio, muito menos na Lagoa. Paulistano nato. Mas acredito no bom senso às avessas que fez vocês se instalarem aí e converterem todas as dúvidas nessa disposição quase frenética de conhecer os lugares, os sabores e, principalmente, as pessoas daí. A admiração e uma pontinha de inveja (do bem) me fazem desejar a vocês toda sorte e axé (pra ser pertinente) nessa nova empreitada. Beju nos dois!!

Jaque disse...
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F. disse...

À M., à minha irmãzinha Nancy, e a todos que se impressionaram, fiquem tranqüilos. Musseque angolana tem outra vibe, nada a ver com favela brasileira. ;-)
Paola, dois dias é pouco para acionar alguém. Pode só ter acabado a energia e a gente estar sem internet. Mas, qualquer coisa, avisa a Cruz Vermelha. Rodrigo, eu te mandei um e-mail avisando que tava saindo do L!. Que mancada. Não deve ter chegado. Mané e Jaque, fiquem na paz. Estamos curtindo toda essa novidade, com todas as maluquices nela embutidas.

casadocaminho disse...

Fala sério? Mudar da Lagoa para esse treco! Será que vocês estavam insanos quando aceitaram esse desafio, ou sou eu que sou muito conservador?

F. disse...

Um pouco das duas coisa, mano. A gente é meio louco mesmo, e tu é um tanto conservador também (rs).

Pri Ramalho disse...

Calma, gente... Tudo vai melhorar! Obrigada pela força!