No supermercado, a esposa espera pelo marido que foi trocar dinheiro. Entenda-se: dólares por kwanzas. A esposa, espera na caixa. Quando volta, o marido faz um gesto como que a entregar o dinheiro à mulher, para que esta pudesse pagar. A cara de repulsa dela, é evidente. Acrescenta: ah, mas eu não vou pegar nesse dinheiro tão sujo! E manda o marido pagar. O que me ocorreu? Que definitivamente esta vai ser uma mulher muito infeliz em Angola. Está cá para acompanhar o marido, suponho, mas encarando assim a realidade, nunca se vai adaptar.
À dias, em trabalho, vi o inferno na terra. Vi dezenas de crianças, sujas, em cuecas. Nada de novo, comparando que todos os dias vemos crianças sujas, em cuecas. Só que ali eram muitas, de diferentes idades. Todas juntas. Com o corpo coberto por uma sujeira que eu não consigo identificar se era lama ou não. A cara, suja com ranho e mais-sei-lá-o-quê como se assim se tivessem mascarado para um filme de acção. Deambulavam o dia todo sem fazer nada. Brincavam nos montes de terra e imitavam-nos. Falavam “estrangeiro” como nós, já que eu falava com alguém que não falava português. Depois de me ouvirem dizer “não faças isso” momentos antes de atirarem com pedras a um cão vagabundo com as orelhas em sangue, já todo massacrado, perceberam que afinal eu não era estrangeira. A moça é angolana? - perguntou um. Sim sou – menti. E seguiram-se uns ahhs e ohhs.
O dinheiro é sujo. Aquelas crianças tambémeram. Mas ponto número um para que a nossa passagem por cá dure mais do que alguns dias é, adaptarmo-nos a esta dura realidade. Se eu pego em dinheiro? Claro que sim. Se eu toco numa daquelas crianças. Óbvio que sim. Em nenhum dos casos, morri ou fiquei doente. Só para que conste.
À dias, em trabalho, vi o inferno na terra. Vi dezenas de crianças, sujas, em cuecas. Nada de novo, comparando que todos os dias vemos crianças sujas, em cuecas. Só que ali eram muitas, de diferentes idades. Todas juntas. Com o corpo coberto por uma sujeira que eu não consigo identificar se era lama ou não. A cara, suja com ranho e mais-sei-lá-o-quê como se assim se tivessem mascarado para um filme de acção. Deambulavam o dia todo sem fazer nada. Brincavam nos montes de terra e imitavam-nos. Falavam “estrangeiro” como nós, já que eu falava com alguém que não falava português. Depois de me ouvirem dizer “não faças isso” momentos antes de atirarem com pedras a um cão vagabundo com as orelhas em sangue, já todo massacrado, perceberam que afinal eu não era estrangeira. A moça é angolana? - perguntou um. Sim sou – menti. E seguiram-se uns ahhs e ohhs.
O dinheiro é sujo. Aquelas crianças tambémeram. Mas ponto número um para que a nossa passagem por cá dure mais do que alguns dias é, adaptarmo-nos a esta dura realidade. Se eu pego em dinheiro? Claro que sim. Se eu toco numa daquelas crianças. Óbvio que sim. Em nenhum dos casos, morri ou fiquei doente. Só para que conste.
9 comentários:
Como se em qualquer parte do mundo não houvesse dinheiro sujo e crianças a precisar de carinho...
Definitivamente há pessoas que não são deste planeta!
Isso eh horrivelmente triste, querida amiga... :-(((
um beijo grande,
São pessoas assim, que não conseguem ver o lado bonito de Angola. Essa gente simples, mas que sempre tem o sorriso estampado no rosto.
Estou a 45 dias por essas terras, e cada dia que passo aqui ( moro em Benguela ), estou gostando mais desse lugar, e até agora não me arrependi em nada de ter vindo trabalhar neste bonito e encantador pais chamado ANGOLA
Ahh, cara Migas!
Então José Saramago tem mesmo razão, ao dizer numa entrevista dada a um jornal brasileiro dias atrás - "o ser humano é um animal doente".
Se quiser ver mais do que ele disse, passe lá no meu blog.
abraço carioca
Gente suja não é o mesmo que gente com deficit de cuidados de higiene, por manifesta incapacidade de auto- suficiência ou por constrangimento sócio-económico.
Gente suja está também por todo o lado...menos na lixeira e nos bairros pobres de Paris, Londres, NY, Lisboa, Tóquio, Luanda ou Rio-de-Janeiro.
Está no Governo, na Banca, nos Institutos de cooperação, enfim gente fina é outra coisa...são abutres, hienas,vampiros que sugam a condição humana de meninos sem condição mas com muito coração nos quatro cantos do mundo!
Viva Kandanda,
Como é óbvio não me refiro a gente suja. E refiro também que, meninos de rua também existem em muitos outros países. Não só em Angola. Contudo, e como por aqui ando, falo da minha realidade daqui. Um dia, quando estiver noutro país, talvez fale doutra realidade. No entanto, mantenho o que disse quanto ao "inferno na terra". Relativamente à moça, espero que já tenha encontrado os encantos, que o Reinaldo refere.
Abraço a todos!
Quando a primeira impressão é fraca, é sinal que vai se vai ficar velho nessa terra.
O mais difícil são os primeiros vinte anos.
Beijo amiga. A mesma impressão tive quando vi um colega chegado da tuga dizer que não entrava no mar da ilha "nessa água não entro" ... pensei "não serás feliz aqui"!!!
Kianda está em Luanda? E faltou à reunião de condomínimo?
Postar um comentário