terça-feira, 9 de setembro de 2008

MPLA arrasa a concorrência*



O gráfico acima, divulgado pela Comissão Nacional Eleitoral de Angola ao meio-dia, mostra a última parcial das eleições legislativas de 2008, que transcorreram livremente, com adesão em massa da população, sem registro de violência ou maiores transgressões comprovadas da lei.

Todos tiveram a chance de votar, mas o resultado mostra que democracia não é apenas ir às urnas fazer um X num papel. A construção dessa idéia é uma coisa lenta, que requer educação universal de qualidade, imprensa livre, liberdade de expressão.

Num pleito com 14 concorrentes, a vitória de um deles com mais de 80% é o tipo de coisa que só acontecia em regimes autoritários como o de Fidel Castro ou da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, pra ficar em dois exemplos.

Esse resultado dá ao MPLA o direito de continuar ditando as regras sozinho, como sempre fez, só que agora legitimado pelas urnas. Vai-se mudar a constituição sem espaço para o debate de idéias, vai-se construir novas leis que podem ser melhores para os que estão no poder do que para a totalidade do povo angolano que eles, agora legitimamente, representam.

Quem quis assim foi o povo angolano, que escolheu continuar vivendo sob um regime de partido único. Seja feita a vontade do povo.

Por que o povo angolano escolheu isso? Por medo da volta à guerra? Por influência da propaganda avassaladora veiculada pela mídia estatal e pelas comunicações de obras e "benfeitorias" do governo durante os últimos anos? Por falta de compreensão dos benefícios de um regime com espaço para o debate de idéias?
Eu não sei a resposta. É uma boa questão para uma tese de mestrado.

* O título deste post reproduz a manchete de ontem do Jornal de Angola.

4 comentários:

Anônimo disse...

Angola não tem uma oposição credível,F
Quem ia tomar as rédeas deste Pais? A Unita? É um partido que para a grande maioria significa guerra.
E este povo já sofreu muito devido a essas guerra étnicas.
No Huambo, maior bastião da Unita, foi onde a população mais sofreu durante a guerra,e foi aí, precisamente, que a Unita mais pontos perdeu. Foi por acaso?

O pouco que este povo tem, foi conquistado com muito sacrifício, e penso que ninguém está disposto a passar novamente por situações de guerra.
E descartando a Unita, não há oposição.

Penso que o partido vencedor tem consciência disso, só tiveram 82% dos votos, porque não há oposição credível.

Vamos esperar que a democracia se consolide e que surjam novos e bons partidos para fazer essa oposição necessária...

Abraço
FC

RAD disse...

«Por que o povo angolano escolheu isso? Por medo da volta à guerra? Por influência da propaganda avassaladora veiculada pela mídia estatal e pelas comunicações de obras e "benfeitorias" do governo durante os últimos anos?»

Porque: 1) apesar de criticar as inaugurações em excesso e ter consciência que foram propositadas para a campanha, o povo, nas conversas de rua, admite que o MPLA tem, nos anos após a guerra, desenvolvido o país; e 2), porque a UNITA não conseguiu apagar da memória do povo que a guerra fraticida de 1992-2002 foi provocada pela recusa de Savimbi em reconhecer os resultados das últimas eleições, e foi castigada por isso.

Anônimo disse...

Mesmo tendo ganho com maioria como aconteceu, os seus membros devem ter consciencia desse perigo e ja agora anteciparem todos as desvantagens. Vai ser mudada a constituicao, pelo que dizem, para um regime mais democrata que nao permita o "chefe" ser chefe se tudo!!!! Serao 4 anos de desafio, para ao MPLA mostrar ao povo que foi merecedor do seu voto. As razoes para que o povo tenha votado assim, so podem ser especuladas pois isto tb foi uma surpresa para o proprio partido no poder

F. disse...

FC, concordo consigo de que não há oposição credível no país. O espaço político para uma oposição consciente existe, o problema é conseguir visibilidade num país onde a mídia é estatal e panfletária.

Rad, eu também acho que as lembranças do que aconteceu em 1992 são as responsáveis por esse resultado. Só discordo quanto ao tipo de desenvolvimento aplicado nos últimos seis anos. Um país com tanta riqueza como Angola não poderia continuar no pé da lista de IDH da ONU.

Anónimo, espero que você esteja certo e que os políticos do MPLA tenham toda essa consciência... Só sou um pouco cético em relação a isso porque o individualismo entre os angolanos com algum acesso a recursos parece ser maior do que qualquer bom-senso.