Foi sensacional morar em Luanda durante os últimos quase 180 dias, com um intervalo de 15 na minha casa. Nunca, absolutamente nunca, passei por nenhum dos aborrecimentos que tanta gente se queixa aqui ou na mesa de bar, tais como pagamento de gasosa, assalto, falta de água, preconceito racial, grosserias, paludismo (valeu, Flavinha!), violência etc. etc. etc.
Ao contrário: comi muito bem e em quantidades próximas da de um glutão, dancei ritmos maravilhosos, fui em festas inesquecíveis, conheci personagens singulares que transitam do lixo ao luxo, fiz amigos e amigas angolanos, brasileiros, portugueses, espanhóis, uruguaios, americanos, sul-africanos, descobri baladas incríveis e festas privadas muito mais incríveis, vi gente rir e chorar sem saber o que dizer, assustei-me e encantei-me com os ritmos e ritos das ruas e, como sou humano, fui naturalmente me anestesiando com tanta miséria nestas latitudes que um dia foram de Ginga.
Na bacia das almas, o que pesar na hora da partida? Muy leoninamente, em primeio lugar, a certeza de ter feito o melhor que pude fazer, dentro da minha área de atuação e dos meus princípios éticos, para dar, eu também, o meu “contributo” a esta Nação que está a crescer, só não exerga quem não quer. Prestei a minha “consultoria” e, na minha ausência, tenho certeza de que pelo menos dois dos angolanos com quem aprendi um bilhão de coisas vão fazer, na medida das condições oferecidas e da realidade em que cresceram e hoje vivem, igual ou melhor o trabalho que eu faço. Essa é a maior felicidade: saber, lá do outro lado do mar, que um pouquinho do que você acredita como sendo a melhor coisa para se fazer na vida vai ser a profissão desses rapazes.
Pelo meu lado, também vou agarrar-me a outro desafio profissional que, por pouco, quase não me deixou ter vivido essa experiência triliardária de ser brasileiro e estar em Angola por algum período da vida. Porque não fui em quem disse, mas ninguém menos que o Padre Antônio Vieira, que no século XVI essas duas nações formavam um “agregado único”. O convite repetiu-se e, voilà, aqui vou eu. E aqui também estarei eu, em pensamento e em saudades.
Tenho consciência de que não fui o morador que mais despertou simpatia por parte dos leitores desta Casa de Luanda por causa dos meus relatos de frivolidades e, “noutra altura”, do incidente diplomático vivido com Portugal, hoje devidamente contornado, inclusive no sentido bíblico, se é que vocês me entendem.
“De qualquer das formas”, deixo aos visitantes e colaboradores que conheci pessoalmente – e também aos outros, os de contatos virtuais – o meu abraço saudoso e o pedido de que façam o que puderem para ajudar no desenvolvimento de Angola e do seu povo. Quero voltar aqui em 2010 para ver a Trienal de Luanda e a cidade, que deverá estar bem diferente da de hoje. Para muito melhor do que já é!
Felicidades a todos!
12 comentários:
Suas palavras é uma verdadeira poesia, nota 1000 (mil). Vai com Deus meu amigo. Tem um ditado que diz assim: não há um mal que não traga um bem, e este bem chegou na hora certa aproveite.
Grande abraço,
Ailton Cruz
X!!!!!!!!!!!!!! Fiquei de coração partido. Como vc vai embora sem nem nos conhecermos pessoalmente? Já até comprei seu chocotone :(
Tenho certeza que vc fez um ótimo trabalho e vai continuar fazendo durante muito tempo. Quem sabe outros ventos soprem para que nos encontremos na terra da garoa (aliás tá maior frio por aqui).
beijao
Menina,
Pois trate de ir me entregar meu chocotone A-GO-RA!!! Assim nos conhecemos pessoalmente! Então vc já voltou?
Eu não estou regressando para a Terra da Garoa, mas sim para a Cidade do Sol, um lugar onde em todos os dias do ano faz 28 graus, a brisa morna não para de soprar nunca, as praias são verdadeira pinturase jorra leite e mel dos coqueiros.
Mas a sua Terra também estará para sempre no meu coração, como Luanda.
Bjs
X.,
Da minha parte posso garantir: Venha que o Cristo já está de braços abertos a te esperar. Sampa, com sua garoa (em Janeiro!, pode?) também te espera e, claro, a Cidade do Sol que, ainda não conheço, mas terei o prazer de visita-la na sua presença... Já venha cantando, meu rei: "Olinda, quero cantar, a ti, essa canção..." Vamô que Vamô! Em Luanda, vc foi o achado brasuca mais legal dos legais... Saudosos abraços e o desejo de uma excelente viagem de regresso!
Faço votos volte logo para ver a reconstrução da Casa.
Gostei de ter passado por aqui quase diariamnete
Toda a felicidade do mundo
Um kandandu forte, bom regresso à terra que te viu nascer.Um bom ano 2010...pois este, que agora nasceu, parece que não vai ser tão bom assim.
X., sexta feira estou de volta. Voce ainda estara por aqui ou jah tera partido? Abs
X,
Você vai fazer muita falta...
E agora, quem vai ter dúvidas sobre paludismo? Você era o único que dava ouvido às minhas explicações...
Vou acabar pleiteando um emprego lá na terra do sol quando Angola se cansar de mim!
Tudo de maravilhoso para ti!
Beijos!
Para o tempo que passei pelas suas anotações, crónicas ou tudo que aqui postou - nota de topo mesmo no fim do cume! Para você, humana, delicada, atenciosa, que todos os Deuses, de todas as crenças, doutrinas e superstições te iluminem a boa aventura e que a bonança do que mais deseje transborde. Obrigada, amiga!
Kandanda
X, adoro a sua cidade do sol também... Ainda não voltei. Chego dia 19. Que dia vc volta?
bj
Aos poucos:
Ailton, vou sentir falta do convívio,
Menina e F., vou embora hoje à noite.
Alê Mano: viva o carnaval!
Baião: 2009 vai ser ótimo!
Flavinha: vai preparando a palestra!
Kandanda: eu sou um homem!
Em tempo: ai de ti, lisboetas, se não estiverem todos sorrindo, apesar do frio glacial! Vou encontrá-los já, já.
X
X:
Com mil perdões mas por distracção induzida pela maléfica pressa de tudo querer fazer em simultâneo, ir às páginas assinaladas de meu interesse na Net, trabalhar em simultâneo com outras blogues, acabei por escrever no feminino. Contudo, nas qualidades da sua escrita e no que ela deixou transparecer neste sítio nada tenho a retirar do que postei. Mais uma vez as minhas desculpas e obrigado.
Kandanda
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