No post sobre a Luanda do passado, prometi contar como os portugueses partiram.
Luanda virou uma loucura nos três meses anteriores à independência, que tinha data marcada para acontecer. Faltava comida e água, sobravam portugueses em imensas filas nos bancos, tentando sacar os escudos antes de partir.
Nos jardins das vivendas, as famílias construíram grandes caixas de madeira e empacotaram suas casas. O jornalista polonês Ryzsard Kapuscinski estava aqui na época. No seu livro “Another Day of Life”, ele descreve muito bem essa transferência da cidade de concreto para a de madeira.
No início de outubro, a Luanda encaixotada partiu numa longa fila de navios para Lisboa, Rio de Janeiro e Cidade do Cabo.
Despachadas as riquezas, seus donos iam para o aeroporto, que virou um campo de refugiados, desesperados por um vôo. Tinha gente dormindo na chuva do lado de fora do saguão, cada avião era disputado a tapas e outros países acabaram ajudando na criação de uma ponte aérea entre África e Europa.
Todos abandonaram a cidade. Da noite para o dia, Luanda não tinha mais médicos, nem carteiros, nem bombeiros, nem policiais... Nem lixeiros!
Os detritos acumulados nas ruas e esquinas, expostos ao calor intenso, começaram a transformar a Cidade Maravilhosa de África num lugar pestilento.
Apesar de tudo isso, havia um motivo para celebrar: pela primeira vez em 400 anos Luanda, enfim, era dos angolanos.
Uma bailarina de peso
Há 4 dias
6 comentários:
A eterna busca pelo domínio da terra alheia. Para quê? Para sugar tudo que possa significar valor material. Para quê? Para buscar o poder. Para quê? Para sufocar e massacrar consciencias. Para quê? Tudo passa, tudo degenera, tudo recicla.............o único verdadeiro bem é desprezado, a essência do Ser.
chr
Santa ignorância da pessoa, quando foi a ponte aérea não só vieram para Portugal os portugueses mas naturais de Angola de várias cores e nunca andaram à tapa"(em português e "chapada"), pelo contrario foi uma altura de solidariedade entre todos e não trouxeram as riquezas mas alguns bens e nem dinheiro que tinham puderam trazer pois só tinham direito a trocar 5.000$00. Acho piada aos brasileiros tão solidários, não perceberem depois de mais de dois séculos de independência, no Brasil continua a haver pobreza sendo a percentagem bem superior nas raças de outra cor que na branca e tendo bem depois da vossa independência continuado a exterminar índios e em pleno século XXI querer fazer com que os mesmos sejam um motivo de atracção turística e não perceber que os vossos avos foram um os “culpados” da colonização portuguesa.
Meu caro anônimo, lamento que se tenha ofendido. A intenção não era essa, mas sim dar um panorama aos leitores do que aconteceu na independência. Infelizmente eu não estava aqui em 1975, apenas reproduzi neste post aquilo que me contaram e que li em reportagens da época. Se você viveu essa retirada e pode contá-la em detalhes mais ricos, terei o maior prazer de publicá-la aqui. Desde que você se digne a se identificar, em lugar de ficar tentando atacar nacionalidades diferentes da sua escondido pelo anonimato.
braga-silva@clix.pt Na sua notícia diz: Faltava comida e água, sobravam portugueses em imensas filas nos bancos, tentando sacar os escudos antes de partir. A falta de comida é verdadeira, quanto a sacar tem conotação de roubar, os escudos eram escudos angolanos e Portugal nunca deixou que essa moeda tivesse cotação internacional e não deixou transferir dinheiro nenhum sendo a importância para troca em Lisboa aquela que lhe disse 5.000$00.Diz também: Nos jardins das vivendas, as famílias construíram grandes caixas de madeira e empacotaram suas casas. Para sua informação nem todos os portugueses viviam em vivendas, alguns viviam em bairros populares (cazenga,popular, “Salazar” etc), quanto aos caixotes só vieram os dos funcionários do estado português e os outros tiveram que pagar o seu envio. Quanto ao empacotarem as suas casas até hoje embora as casas ficassem em boas condições de habitabilidade e os portugueses não as tenham destruído ate hoje nada receberam por isso portanto ao menos deixaram cidades com qualidade para que os naturais pudessem ter qualidade de vida. Quanto ao polones faz parte do tempo da outra senhora em que o bota abaixo era obrigatório. Posso dizer-lhe que à uns tempos uma delegação da Bulgária teve contacto comigo e um dos representantes tinha estado em Angola em 1976 e disse que ficou surpreendido pelo que os portugueses tinham feito. Não ataquei a nacionalidade de ninguém disse só aquilo que é a realidade brasileira. Para terminar sou nascido em Angola de mãe Angola e pai português tendo a minha avó nascido no Brasil, portanto para mim não me venham com racismos e esse tipo de treta, o que acho é que o mundo é de todos e cada um deveria viver onde bem lhes apetece sem nunca deturpar o passado.
Meu caro Braga-Silva, obrigado por sua resposta. Volto a afirmar: o relato deste post jamais teve a intenção de deturpar o passado ou atacar os portugueses. Pretendia apenas dar um panorama do que aconteceu às vésperas da independência, baseando-se para tanto em relatos de terceiros pois, como lhe disse antes, eu não estava aqui em 1976.
Ao que tudo indica, você estava e tem uma visão nova de como foram as coisas. Se quiser escrevê-la em detalhes, num texto organizado, eu terei o maior prazer em publicar aqui. Faz tempo que quero iniciar uma série com relatos escritos por quem viveu Angola no passado. O seu poderia ser o primeiro. Se aceitar, pode enviar o seu texto para o e-mail casa_de_luanda@yahoo.com. Ele será publicado com o seu crédito.
Nesta Casa, ninguém pode ser acusado de racismo. Temos moradores brasileiros, angolanos e portugueses. Eu nasci no Brasil, mas meus avós eram portugeses e vivo em Angola. Concordo plenamente com você: o mundo é de todos.
Pense na oferta. Seria um prazer para todos nós se você aceitasse.
Um abraço,
... havia um motivo para celebrar: pela primeira vez em 400 anos Luanda, enfim, era dos angolanos."
Gostaria de fazer uma pergunta ao autor deste post. Estava em Angola quando os "brancos portugueses" deixaram a cidade e/ou o pais? Se estava viu-os a todos a levar as suas casas encaixotadas em caixas de madeira? Viu mesmo todos os "brancos portugueses" a levantarem todo os seu dinheiro? Se viu tudo isso lamentar dizer-lhe que nao viu tudo. Eu era 1 menina de 8 anos quando saimos de Angola. Vi o meu pai ser deixado para tras (felizmente juntou-se a nos 14 meses mais tarde), vi TUDO o que nos tinhamos a ser deixado para tras. Vi que chegamos a Portugal sem dinheiro, roupa, onde morar ou o que comer. Vi ter que viver da caridade dos outros. Vi ter que viver numa casa emprestada porque infelizmente a minha mae nao tinha dinheiro para alugar 1 casa, "vi" o barulho dos tiros e as explosoes de morteiros durante muito tempo depois de voltarmos. Eu vi tudo isto e so tinha 8 anos. Os meus pais NUNCA maltrataram ninguem e como eles tambem os seus amigos nunca o fizeram, sei que muitos houve que nao foram tao rectos na sua forma de agir, mas "passados 400 anos Luanda enfim era dos angolanos"? O meu irmao tambem nasceu la, Angola tambem e dele mas nunca conheceu a terra dele, Angola tambem era nossa, nao para escravizar-mos ninguem mas para la viver e fazer daquela terra tambem a nossa e o que aconteceu? Deixar toda uma vida para tras e regressar so com a roupa do corpo. Que os angolanos sejam todos felizes mas acredito que muito ha que sentem saudades dos "brancos portugueses".
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