
São deliciosos e muito bonitos, como vocês podem ver, mas já vou avisando: dá um trabalhão danado.

São deliciosos e muito bonitos, como vocês podem ver, mas já vou avisando: dá um trabalhão danado.

Quando se vive como expatriado, as nacionalidades – e nacionalismos – sempre acabam aflorando. O choque de culturas, a saudade de casa, a barreira da língua... Tudo isso faz logo surgirem as comunidades de compatriotas.
No caminho, cercado por dunas, cruzamos alguns pequenos povoados. Há também um oásis. De novo nos fez falta a Dorotéia e lá não fomos capazes de chegar.
Mas o que mais nos intrigou, sem dúvida, foram as misteriosas casas em ruínas, famosas como Casas dos Cantoneiros, seja lá o que isso quer dizer.
Ao longo da estrada, a cada vinte e poucos quilômetros, aproximadamente, cruzávamos com uma dessas casas sem telhados, só as paredes antigas a resistir aos ventos de areia do deserto.
Alguns dizem que eram antigas lojas ali instaladas pelo governo colonial para povoar o caminho. Com a independência, acabaram abandonadas pelos antigos moradores. A guerra que começou em seguida desestimulou novos moradores de se instalarem em lugar tão ermo.
Continuam lá, a resistir às dunas que já tomaram até a entrada do cemitério de Tombua.
Moçamedes era o antigo do nome do Namibe, no tempo colonial

No caminho, cruzamos com essa árvore saída diretamente do filme "História Sem Fim"para o deserto do Namibe
A estrada é uma delícia, com poucos caminhões e vistas lindíssimas. Tanto no trecho verde do altiplano, quanto na zona árida do famoso deserto.
Chegando ao Namibe, fomos dar direto na orla, de onde se vê um porto movimentado. Como nos avisaram, este não é o melhor lugar para fazer praia.
Paramos para almoçar, curtindo a brisa fresca no rosto em um dos bons restaurantes instalados de frente para o mar.
A cidade é pacata, bem cuidada, mas as melhores praias, como nos ensinaram, ficam fora dali. Pega-se a estrada para o sul, em direção ao Tombwa, ou para o norte. Só que aí é preciso encarar trilhas pelo meio do deserto e, desta vez, infelizmente, Dorotéia não nos fazia companhia.
Sem casa para nos hospedar e sem Dorotéia para nos guiar até as praias – que dizem ser pequenos pedaços do paraíso na terra -, nos contentamos com o deserto na janela.

A área urbana é pouco mais do que uma cidade pendurada numa estrada, embora já existam por ali algumas casas novas, vistosas, sedes de direções municipais. Mas aí esticamos até Havailo, uma comunidade rural cerca de oito quilômetros a frente. E foi lá que as encontrei, as mulheres da tribo dos Mumuílas.
O Odeon virou templo da Universal do Reino de Deus. O Arco-Íris está fechado, corroendo-se nas lembranças do tempo em que o arco da fachada era iluminado por lâmpadas de néon nas sete cores do fenômeno de refração da luz.
As estradas de chão podem ser vencidas com um carro de passeio, mas um 4x4 cai melhor para o terreno que você vai ter de enfrentar.
A paisagem verde no caminho é uma introdução para o que promete o horizonte que se divisa da fenda, um despenhadeiro famoso que atrai muitos turistas.
Fomos até lá cheios de curiosidade, vencendo as dificuldades da estrada – que é longa. Mas as nuvens chegaram antes de nós.
E tudo o que conseguimos ver, além do grupo de jovens que fazia um retiro religioso no local, foi um paredão de nuvens.




Ele não freqüenta a praça central, onde estão o Governo Provincial, a sede do Partido e o Banco Nacional, todos assistidos pelo busto de Agostinho Neto.
Também nunca entrou no Shopping Millennium, templo construído há pouco tempo, onde os frequentadores expiam os pecados rendendo tributo ao consumo.
Prefere a tranquilidade da igrejinha de Palanca, ali perto da sua morada mesmo.
Nunca se hospedou no Grande Hotel da Huíla, embora ainda se lembre de quando ele começou a ser construído, em 1938. As fundações levaram dez anos para ficar prontas, só então começaram a subir as paredes dos salões, a piscina. Mas os primeiros hóspedes só puderam inaugurar os 78 quartos muito depois, nos anos 50.
O ar europeu dos salões do Huíla Café, que o homenageiam com uma foto, também jamais experimentou.
Gosta muito de estar ali, no alto, a assistir tudo. Se fosse se queixar de algo, seria apenas do vento e das noites frias de inverno. Não pode sequer cruzar os braços para se aquecer. Afinal, de braços fechados, ele deixaria de ser o Cristo-Rei de Lubango.


